Ontem, gravamos o programa MULTIMISTURA para
as rádios Zumbi, Cuiá e outras mídias eletrônicas. Quando cheguei ao estúdio,
rolava o papo sobre a crise política atualmente no Brasil. Na cadência ritmada
dos cultores da esquerda ainda no poder, meus compadres Marcos Veloso, Dalmo
Oliveira e Beto Palhano defendiam o governo Dilma e repetiam, sem muita
profundeza, as teses das alas jurídicas, políticas e jornalísticas em favor da
Presidenta.
Confesso que o tema me entedia. Sou um
libertário que anda enjoado desse falatório sobre esses podres poderes e seus
asseclas. Sem tirar a angústia de antever dias muito putrefeitos, com nossas
vidas sendo controladas por um grupo de funestos senhores, bonecos controlados
pelas grandes corporações nacionais e internacionais, que é quem realmente
manda no país.
Abstenho-me de forcejar qualquer resistência.
O partido no poder acabou apodrecendo e não tem nada para por no seu lugar. Jô
Soares refletiu: “Não é que não tem luz no fim do túnel, não tem é túnel.” É um
estranho afligir. “Um vão desejo de fuga, sem ter pra onde ir”, conforme o
verso do poeta guarabirense João Milanez da Cunha Lima.
O temor é tudo isso descambar para soluções
fascistas, tipo estupros militares à democracia. A liberdade é um gênero de
primeira necessidade, mas um povo sem pão, sem manteiga e sem rumo pode ajudar
a empurrar a nação para trás. Sem vaselina.
Importante anotar que os rapinantes do PMDB
acabam de desembarcar do navio à deriva, onde resiste a Dilma com seu casaco de
general e sua coragem de guerrilheira. Esmagados por uma realidade forjada nas
salas de reuniões das grandes empresas multinacionais e nas redações da chamada
grande imprensa, somos apenas seres humanos reagindo. Então, perdoem nossas fraquezas.
Somos capazes de momentos de grandeza e pequenas indecências. Todos nós, os “coxinhas”,
os “petralhas” e o resto da família. Sejamos complacentes diante das paixões
políticas mal explicadas. Nada de xingar a tia nem apontar o dedo suspeitoso
para o irmão, defendendo pena de morte para os corruptos. Seria um massacre
geral. Chegamos a um estágio onde as discussões racionais e bem comportadas são
evitadas.
Eu, prefiro combater à sombra, tomando suco
de abacaxi no estúdio da Zumbi, entrando no planeta sonho, que é o projeto de
um obscuro programa de web rádio pregando no deserto, aliás, fazendo munganga
num picadeiro para poleiros vazios.
Falar para o vazio é uma maneira de gostar de nossas próprias ideias,
segundo Fernando Gabeira. Investir nossas emoções num projeto desse tipo não
deixa de ser um ato político, nessa espécie de diálogo de surdos. E o que é o
atual debate político no Brasil, senão uma confabulação passional e incoerente?
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