terça-feira, 29 de março de 2016

Perdidos no diálogo de surdos


Ontem, gravamos o programa MULTIMISTURA para as rádios Zumbi, Cuiá e outras mídias eletrônicas. Quando cheguei ao estúdio, rolava o papo sobre a crise política atualmente no Brasil. Na cadência ritmada dos cultores da esquerda ainda no poder, meus compadres Marcos Veloso, Dalmo Oliveira e Beto Palhano defendiam o governo Dilma e repetiam, sem muita profundeza, as teses das alas jurídicas, políticas e jornalísticas em favor da Presidenta.

Confesso que o tema me entedia. Sou um libertário que anda enjoado desse falatório sobre esses podres poderes e seus asseclas. Sem tirar a angústia de antever dias muito putrefeitos, com nossas vidas sendo controladas por um grupo de funestos senhores, bonecos controlados pelas grandes corporações nacionais e internacionais, que é quem realmente manda no país.

Abstenho-me de forcejar qualquer resistência. O partido no poder acabou apodrecendo e não tem nada para por no seu lugar. Jô Soares refletiu: “Não é que não tem luz no fim do túnel, não tem é túnel.” É um estranho afligir. “Um vão desejo de fuga, sem ter pra onde ir”, conforme o verso do poeta guarabirense João Milanez da Cunha Lima.

O temor é tudo isso descambar para soluções fascistas, tipo estupros militares à democracia. A liberdade é um gênero de primeira necessidade, mas um povo sem pão, sem manteiga e sem rumo pode ajudar a empurrar a nação para trás. Sem vaselina.

Importante anotar que os rapinantes do PMDB acabam de desembarcar do navio à deriva, onde resiste a Dilma com seu casaco de general e sua coragem de guerrilheira. Esmagados por uma realidade forjada nas salas de reuniões das grandes empresas multinacionais e nas redações da chamada grande imprensa, somos apenas seres humanos reagindo. Então, perdoem nossas fraquezas. Somos capazes de momentos de grandeza e pequenas indecências. Todos nós, os “coxinhas”, os “petralhas” e o resto da família. Sejamos complacentes diante das paixões políticas mal explicadas. Nada de xingar a tia nem apontar o dedo suspeitoso para o irmão, defendendo pena de morte para os corruptos. Seria um massacre geral. Chegamos a um estágio onde as discussões racionais e bem comportadas são evitadas.

Eu, prefiro combater à sombra, tomando suco de abacaxi no estúdio da Zumbi, entrando no planeta sonho, que é o projeto de um obscuro programa de web rádio pregando no deserto, aliás, fazendo munganga num picadeiro para poleiros vazios.  Falar para o vazio é uma maneira de gostar de nossas próprias ideias, segundo Fernando Gabeira. Investir nossas emoções num projeto desse tipo não deixa de ser um ato político, nessa espécie de diálogo de surdos. E o que é o atual debate político no Brasil, senão uma confabulação passional e incoerente?

Nenhum comentário:

Postar um comentário