“Não sou
a favor de que matem os mosquitos e as mosquitas. Sou a favor da vida. É
preciso pensar diferente. O certo é aproveitar a crise e gerar emprego
temporário para agentes de saúde no Brasil e desenvolver uma vacina para que as
mosquitas não viessem a transmitir essas doenças. Seria um emprego temporário
onde cada agente iria ganhar por produção (isto é, cada mosquito vacinado
valeria uns 5 centavos). A ideia é do professor Flávio Roberto, do Conde.
Brincadeira
à parte, estamos sendo derrotados pelos mosquitos há uns vinte mil anos, pelo
menos. Agora é que eles se aperfeiçoam na arte de sobreviver, apesar dos
avanços dos venenos e das tentativas de saneamento dos aglomerados humanos. A
cada temporada aparece novo vírus injetado pelos bichinhos. Agora, o da vez é o
Chikungunya.
Na real,
o que nos mata é a incúria dos gestores. Lendo aqui pesquisa do Sistema de
Informação da Atenção Básica, vejo que na cidade Itabaiana do Norte, apenas
1.597 famílias dispõem de rede de esgotos, enquanto 5.308 famílias se viram com
fossas e 713 famílias ainda vivem como se vivia na Idade Média, com esgotos a
céu aberto em suas ruas esburacadas e infectas. Essa realidade tolda o
horizonte, obscurece o futuro, mata as crianças e é terreno fértil para a demagogia
e o populismo de políticos profissionais agindo como os mosquitos, isto é,
aproveitando da fraqueza orgânica do povo para se hospedar e sugar o sangue da
população. Tem inseto dessa espécie que se estabelece em bairros humildes,
aluga casa, passa a morar vizinho dos seus eleitores às vésperas das eleições
para ser confundido com um deles. Antes, claro que ele toma todas as vacinas e
demais precauções de quem vai viver em áreas insalubres. Esse é o verdadeiro
inseto a ser combatido com a arma do voto. Indiferente ao seu destino, o povo
pobre vota nesses pulhas por pura carência afetiva. Humilhado, ofendido,
massacrado e espezinhado, o necessitado de tudo se sente orgulhoso por receber
em sua casa o político e suas promessas que jamais serão cumpridas. O discurso
feito para dominar aquelas mentes emperradas pela falta de educação cala fundo
e se reverte em votos.
Enquanto
isso, nada de esgotamento sanitário. Tudo para as quadrilhas que exploram os
rios com extração mecanizada que causa desequilíbrio ecológico, multiplicando
as chances de explosão dos mosquitos matadores. Nada para sanear os córregos
infectados, poluídos. O controle das paixões populares com vista ao poder
político é a pior Chikungunya, aquela febre que mata o desenvolvimento das
comunidades no seu nascedouro.
Sem água
potável, sem saneamento, resta sermos devorados por ameba, diarreia,
parasitose, dengue e o que mais sair das cloacas, poços, cisternas e lamaçal
nas ruas. “Político esperto não investe em saneamento”, diz a cartilha do
picareta eleitoral. De acordo com o IBGE, 55,5% dos municípios brasileiros não
têm saneamento básico e apenas um em cada cinco brasileiros tem acesso a água
tratada. A ideia é que obra enterrada não dá voto. Assim, os bandidos
travestidos de políticos continuam matando o povo pobre e botando a culpa no
mosquito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário