Vi ontem o filme “Um som diferente”, sobre um
rapaz que constrói transmissor de baixa potência e transmite de madrugada a
partir do seu quarto. Na sua estação de rádio, o rapaz se abre, fala dos seus e
dos problemas dos jovens de sua escola, toca rock e lê cartas dos ouvintes.
O filme é do começo da década de 90, quando
não existiam as redes sociais na internet e o rádio era o espaço anônimo onde a
galera podia falar o que quisesse. No filme, a rádio “pirata” do rapazinho
tímido começou a incomodar a escola onde estudava. Insuflava os alunos contra a
diretora ditadora e os professores de uma instituição que não dialogava com os
jovens, os quais encontraram uma válvula de escape na voz anônima daquele
locutor que pensava como eles. Na sua fala livre, o comunicador refletia sobre
sexo, violência, repressão e angústias adolescentes, enquanto rodava fitas e
vinis de rock dos anos oitenta.
Chamados para botar ordem na “bagunça
comunicacional”, os federais de lá descobrem o estúdio e prendem o rapaz. Antes,
ele encontra uma aliada, a mocinha que descobre sua identidade e sai pelas ruas
no jipe da família, com o transmissor funcionando em movimento para despistar
os identificadores do sinal de rádio, em cenas comuns de perseguição nesses filmes
americanos, com viaturas da polícia e até helicópteros no encalço da dupla de
subversivos da ordem estabelecida.
A crítica de cinema Amanda Aouad analisa o
filme, mas não fala de uma questão importante, e nem o filme se detém nessa
informação: nos Estados Unidos não existem concessões nem permissões para o
funcionamento de rádios livres, mas estabelecem regras técnicas para proteger
essas pequenas estações de rádio dos interesses das grandes corporações de
comunicação. A comunidade é quem controla essas emissoras. A população é quem
pode pedir seu fechamento, se a rádio extrapolar os limites do razoável. Enfim,
são rádios comunitárias de baixa potência monitoradas pelos seus
ouvintes, ideia que é a base da legislação vigente no Brasil, mas que não vinga
por motivos políticos e culturais. As rádios livres existem desde a década de
sessenta nos Estados Unidos. Diferente daqui, lá o poder público reserva uma
parte do Dial para essas emissoras de baixa potência, garantindo a livre
manifestação do pensamento com um mínimo de regras.
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