segunda-feira, 28 de março de 2016

Rádio livre nos Estados Unidos assanha vespeiro da juventude



Vi ontem o filme “Um som diferente”, sobre um rapaz que constrói transmissor de baixa potência e transmite de madrugada a partir do seu quarto. Na sua estação de rádio, o rapaz se abre, fala dos seus e dos problemas dos jovens de sua escola, toca rock e lê cartas dos ouvintes.

O filme é do começo da década de 90, quando não existiam as redes sociais na internet e o rádio era o espaço anônimo onde a galera podia falar o que quisesse. No filme, a rádio “pirata” do rapazinho tímido começou a incomodar a escola onde estudava. Insuflava os alunos contra a diretora ditadora e os professores de uma instituição que não dialogava com os jovens, os quais encontraram uma válvula de escape na voz anônima daquele locutor que pensava como eles. Na sua fala livre, o comunicador refletia sobre sexo, violência, repressão e angústias adolescentes, enquanto rodava fitas e vinis de rock dos anos oitenta.

Chamados para botar ordem na “bagunça comunicacional”, os federais de lá descobrem o estúdio e prendem o rapaz. Antes, ele encontra uma aliada, a mocinha que descobre sua identidade e sai pelas ruas no jipe da família, com o transmissor funcionando em movimento para despistar os identificadores do sinal de rádio, em cenas comuns de perseguição nesses filmes americanos, com viaturas da polícia e até helicópteros no encalço da dupla de subversivos da ordem estabelecida.


A crítica de cinema Amanda Aouad analisa o filme, mas não fala de uma questão importante, e nem o filme se detém nessa informação: nos Estados Unidos não existem concessões nem permissões para o funcionamento de rádios livres, mas estabelecem regras técnicas para proteger essas pequenas estações de rádio dos interesses das grandes corporações de comunicação. A comunidade é quem controla essas emissoras. A população é quem pode pedir seu fechamento, se a rádio extrapolar os limites do razoável. Enfim, são rádios comunitárias de baixa potência monitoradas pelos seus ouvintes, ideia que é a base da legislação vigente no Brasil, mas que não vinga por motivos políticos e culturais. As rádios livres existem desde a década de sessenta nos Estados Unidos. Diferente daqui, lá o poder público reserva uma parte do Dial para essas emissoras de baixa potência, garantindo a livre manifestação do pensamento com um mínimo de regras. 

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