Estação de Pilar. Desenho de Jonatas Rodrigues |
Sonhei com trens. Eles aparecem habitualmente,
em decadência patética. Velhas estações tomadas pelo mato, trilhos
enferrujados, às vezes uma locomotiva cansada puxando vagões antiquados em
suas bitolas ultrapassadas.
Hoje, sonhei com a estação de Pilar. Para
além da humilde estaçãozinha, um pátio enorme, grandes armazéns repletos de
sacos de açúcar, três locomotivas manobrando, um grupo de militares (acho que
da Marinha ou Aeronáutica) agredindo as velhas estruturas da via permanente com
tratores enormes, abrindo novos ramais. Sabia que era Pilar apenas pelo nome da
cidade em alto relevo no paredão da estação.
Os sonhadores são geralmente pessoas
emotivas, de bom coração e alguma veia poética. Meu irmão Antonio Costta, poeta
de Pilar, certamente é um sonhador. Não deve se impressionar com a ferrovia a
ponto de sonhar com trens o tempo todo. As imagens que se apresentam durante
seu sono de sonhador devem ser ligadas ao mundo eletrônico, já que Antonio é um
professor cibernético em tempo integral. Talvez, entretanto, fosse
influenciado, como fui, pela leitura do livro do escritor Permínio Asfora, que
foi prefeito de Pilar e escreveu o romance Sapé, de 1940, uma obra de forte
apelo social e de denúncia.
De estilo simples, direto, coloquial, o livro
de Permínio Asfora analisa o drama de um chefe de estação no interior durante
uma greve de ferroviários na antiga Great Western of Brazil Railway, a empresa
ferroviária dos ingleses que operou no Brasil no começo do século vinte,
chegando a ter uma rede ferroviária de mais de 1.600 quilômetros distribuídos
entre Paraíba, Pernambuco e Alagoas. O chefe queria aderir ao movimento grevista,
mas pensava no futuro da família, na repressão dos superiores.
Grande conhecedor da vida cultural de Pilar,
acho que nem Antonio Costta sabia da existência desse escritor que foi prefeito
de sua cidade. Eu, pelo menos, desconhecia a existência de Permínio Asfora. Seria
o caso de se procurar nos sebos os demais livros de Permínio: Noite Grande,
Fogo Verde, Vento Norte e O Amigo Lourenço. Merecem constar no acervo da
Biblioteca de Pilar.
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