“Moção pertinente e providencial do Damião
Ramos! Esperemos agora que as instituições e personalidades do próprio
município de Itabaiana se posicionem sobre esse episódio. Nossa amiga Renally
tem o nosso apoio, assim como todo aquele que se debruçar sobre a cultura e a
cidadania. A dignidade é um bem que só mora no coração de almas grandes!”
(Adeildo Vieira)
Falei com uma personalidade ligada à cultura de
Itabaiana sobre esse episódio envolvendo Renaly Oliveira, do Ponto de Cultura
Cantiga de Ninar, que foi ameaçada de morte por defender o patrimônio histórico
da cidade. Desconversou.
Mesmo não querendo, Renaly se transformou numa
referência da resistência cultural da terra de Adeildo Vieira. Renaly é uma rara expressão de coragem numa sociedade covarde. É a vanguarda contra fichas
sujas e outros canalhas. Uma espécie de ombudsman sem salário, a defender os
valores culturais e a dignidade de seu lugar.
A gente vive menos que as tartarugas, jacarés,
elefantes e árvores. É só um piscar de olho. O que interessa é o que se faz
entre o nascimento e a morte. Uns conseguem desconstruir esse espaço em imenso
vazio, um buraco negro cheio de nada. Outros marcam sua breve passagem no
planeta com legados interessantes para a humanidade.
Os que preferem ser sujeitos do seu próprio
destino na nossa minúscula realidade e fazem a diferença, esses sofrem seus
percalços nessa louca jornada chamada vida. Incompreendidos, odiados porque
vestem azul quando a cor da ordem é verde, ameaçados, ridicularizados, os que
fazem a diferença não estão nem aí, mesmo porque devem cumprir sua missão de
vida, “apesar do cheiro do domador e do dedo sinistro do torturador”.
Ao tempo em que os principais órgãos de cultura
do Estado, como a própria Secult e o Conselho Estadual de Cultura, se
interessam por prestar solidariedade à poeta Renaly Oliveira, vítima da
ignorância e da prepotência provinciana, nós, seus conterrâneos, ficamos
calados como a personagem do poema de Martin Niemoller:
“Um dia vieram e levaram meu vizinho que era
judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram
meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia vieram
e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar...”
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