segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Sociedade covarde


“Moção pertinente e providencial do Damião Ramos! Esperemos agora que as instituições e personalidades do próprio município de Itabaiana se posicionem sobre esse episódio. Nossa amiga Renally tem o nosso apoio, assim como todo aquele que se debruçar sobre a cultura e a cidadania. A dignidade é um bem que só mora no coração de almas grandes!” (Adeildo Vieira)

Falei com uma personalidade ligada à cultura de Itabaiana sobre esse episódio envolvendo Renaly Oliveira, do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, que foi ameaçada de morte por defender o patrimônio histórico da cidade. Desconversou.

Mesmo não querendo, Renaly se transformou numa referência da resistência cultural da terra de Adeildo Vieira. Renaly é uma rara expressão de coragem numa sociedade covarde. É a vanguarda contra fichas sujas e outros canalhas. Uma espécie de ombudsman sem salário, a defender os valores culturais e a dignidade de seu lugar.

A gente vive menos que as tartarugas, jacarés, elefantes e árvores. É só um piscar de olho. O que interessa é o que se faz entre o nascimento e a morte. Uns conseguem desconstruir esse espaço em imenso vazio, um buraco negro cheio de nada. Outros marcam sua breve passagem no planeta com legados interessantes para a humanidade.

Os que preferem ser sujeitos do seu próprio destino na nossa minúscula realidade e fazem a diferença, esses sofrem seus percalços nessa louca jornada chamada vida. Incompreendidos, odiados porque vestem azul quando a cor da ordem é verde, ameaçados, ridicularizados, os que fazem a diferença não estão nem aí, mesmo porque devem cumprir sua missão de vida, “apesar do cheiro do domador e do dedo sinistro do torturador”.

Ao tempo em que os principais órgãos de cultura do Estado, como a própria Secult e o Conselho Estadual de Cultura, se interessam por prestar solidariedade à poeta Renaly Oliveira, vítima da ignorância e da prepotência provinciana, nós, seus conterrâneos, ficamos calados como a personagem do poema de Martin Niemoller:

“Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram
meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia vieram
e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar...”



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