terça-feira, 28 de setembro de 2010

COMO É BOM FALAR DE JESSIER QUIRINO!


W. J. Solha

Aqui na Paraíba há dois cabras que não hesito em chamar de gênios: Oliveira de Panelas – pelo vozeirão e o improviso, mais Jessier Quirino – de que falo agora - pelo verso escrito, verve em palco... e riso. Daí o enorme sucesso dos shows desse filho de Campina Grande, radicado em Itabaiana – e de seus livros casados com CDs, permitindo-nos mandar para amigos e parentes distantes amostras vivas de sua versatilidade, com direito a replays de seu talento histriônico, além de leituras e releituras de suas estrofes magistrais.

Claro que vê-lo é ainda mais incrível, pela transformação – apenas com a voz e a expressão corporal – que esse arquiteto alvo e de cavanhaque nobre sofre em cena, passando de repente a matuto ingênuo ou muito sabido, muito velho ou muito dotô.
Mas Jessier também é dono de uma prosa extremamente expressiva. Em seu “Berro Novo” há um texto e uma apresentação que fatalmente irão comparecer, daqui por diante, em antologias em que figure o também paraibano Ariano Suassuna: “Pobrema Cardíuco”. Caramba, fazia muito tempo que eu não ria tanto e, ao mesmo tempo, não reverenciava tanto a um criador!!! Ge-ni-al!!!

Como poeta, Jessier tem achados notáveis. Por exemplo:

“Louco era se eu quisesse, por fina força,
engordar uma bicicleta!
Louco é o açougueiro que,
na frente de todo mundo, corta os pulsos do filé!”

Veja sua saudação a Zé da Luz: Perfeita.

“Teje num céu de primeira.”

Suas comparações, quase sempre retiradas de seu próprio universo, mostram uma capacidade associativa fabulosa. Cito dois exemplos:

“Ficou tremendo que só Toyota em ponto morto.”
“Faceiro que só mosca em tampa de xarope.”

Veja esta estrofe, detalhe por detalhe:

“De morreres de amores tu fingiste,
Meu juízo pacífico alopraste,
Meu castelo de sonhos tu ruíste,
Meu chuvisco sereno trovoaste,
Meus colchetes do peito tu abriste,
E os passeios venosos, pressionaste,
Se os meus doze por oito tu subiste,
Minhas fibras cardíacas enfartaste.”

“Bandeira Nordestina” e “Berro Novo”. São dos livros-e-CDs que vão matar você de rir... e de orgulho de ser paraibano.

(W.J.Solha é artista plástico, escritor e ator paulista radicado na Paraíba)

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