sexta-feira, 9 de julho de 2010

A lista de Irene



Irene, eu e Tânia Palhano, no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Ao fundo, Joaquim Lopes, o Neguinho, também fundador do GETI

Não tem A Lista de Schindler? Pois vou filmar “A lista de Irene”, um documentário falando sobre a caderneta de anotações de minha amiga e ex-professora Irene Marinheiro. O livrinho contém nomes e atas de reuniões do Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana, fundado em 1976 na cidade de Itabaiana.

“A Lista de Schindler” é a história de como Oskar Schindler conseguiu salvar mais de mil judeus da morte durante o holocausto judeu na Alemanha nazista. A lista de Irene é a crônica de um grupo de rapazes e moças que conseguiram se salvar da mediocridade e pequenez cultural de uma cidadezinha do interior da Paraíba, em plena efervescência da ditadura dos militares.

Já comecei a filmar os depoimentos daquelas pessoas. Iniciei pela própria Irene e seu marido, professor Zenito Oliveira, que relembrou, por exemplo, o dia em que ele fugiu para Piancó, sua terra natal, em plena festa de Nossa Senhora da Conceição. É que ele comprou 20 galetos para vender na barraca do grupo de teatro, mas teve prejuízo total: Agnaldo Pabulagem comeu os galetos e a barraca do GETI veio abaixo, desmoronou por ter sido construída com elementos da irresponsabilidade, amadorismo e inabilidade empresarial daquela rapaziada boa. Zenito fugiu do prejuízo e da vergonha de tamanho mico, um dos muitos pagos pela turma getiana.

No próximo sábado, dia 10 de julho, estaremos no Bar de Osvaldo, no Geisel, filmando depoimentos de Marcos Veloso, Roberto e Romualdo Palhano, além de Normando Reis, todos getianos das primeiras fornadas. O diretor de fotografia é nosso compadre Jacinto Moreno, ele também ator e dramaturgo.

A arte teatral é marcada pela pluralidade, porque desenvolvida por muitas pessoas e só se concretiza quando se tem uma plateia para apreciar o resultado. Além disso, no fazer teatral tem lugar para o músico, o pintor, o desenhista, o artesão, o estilista, o bailarino, o cantor, o escultor, o escritor e o ator propriamente dito.

Do nosso grupo saíram escritores como Romualdo Palhano, atrizes do naipe de Palmira, a artista plástica Jandira Lucena, o compositor e músico Jacinto Júnior e poetas capazes iguais ao meu compadre Sanderli Silva. Os demais foram cuidar de suas vidas e venceram como os advogados Jurandi Pereira, Joacir Avelino, Zé Ramos, Normando Reis, Carlos Alberto Lucena, Joaquim Lopes e Flaviano Almeida. Todos eles levaram consigo o que a vivência das propostas e contexto que mobilizaram tanta gente boa, há mais de trinta anos, deixaram em suas mentes. Zé Ramos um dia me confessou: “comecei a aprender a ver o mundo com o GETI”.

2 comentários:

  1. gostei da decisão de registrar um pedaço da história... parabéns!!!!!

    ResponderExcluir
  2. Olá Fábio. Você é um arqueólogo getiano, busca indícios das origens do GETI até na lista de Irene. Uma dica, em homenagem a Irene, é investigar como as mulheres da lista, percebiam sua participação no espaço teatral e a relação com o contexto social Itabaienense, na década de setenta.

    ResponderExcluir