Quem inventou
a bobagem de que o cordel é uma arte em extinção precisa saber que novos
leitores e escritores de cordel estão surgindo no Brasil. Aqui na Paraíba do
Norte, um pouco pela dedicação da Academia de Cordel do Vale do Paraíba, esse
patrimônio cultural brasileiro empolga e envolve cada vez mais a galera jovem. Quando surgiu o rádio, disseram que ele iria
substituir o cordel. Sobreviveu. A TV quase mata o rádio e o cordel. Os dois
resistiram. Agora com a internet, os
cordelistas pegam carona nessa calda de cometa e voam pelo mundo levando esse
gênero literário nordestino, servindo até como ferramenta da educação.
O cordel
mudou, é verdade. Pela sua origem popular, há preconceito. Hoje tem doutor de
tudo que é jeito escrevendo cordel. E lendo, e pesquisando. Definitivamente, cordel não é literatura
menor. E não é fácil, como pode parecer. Tem que estudar as regras, tem que ter
cabeça de músico, ritmo e coração de poeta. Precisa escrever no embalo das
sílabas poéticas sem perder o sentido da oração e sendo inventivo nas
narrativas.
Igor Gregório
é um poeta muchacho, novato nas lides
cordelescas e empenhado no aprimoramento de sua escrita nessa expressão
popular. Com simplicidade e desafetação, ele chega perto dos mestres e vai
assimilando as técnicas e os traquejos do ofício. Já escreveu sete folhetos,
dois deles em fase de produção na gráfica. Serão seus primeiros títulos no
mundo dos folhetos.
O poeta noviço
teve a delicadeza e humildade de me visitar e pedir meu ponto de vista sobre
seu trabalho. São dois folhetos de gracejo, cheios daquele humor simples e
quase ingênuo do cordel tradicional. Sinal de que Igor Gregório já leu muitos
folhetos antes de se atrever a escrever o seu. Fraquejando aqui e ali na
estrutura básica do cordel, o que é natural em todo principiante. Entretanto,
se continuar levando a sério a arte de poetar, construirá uma obra
interessante.
Apurando sua dicção e calibrando os efeitos poéticos, em conluio
com as escritoras e escritores da Academia de Cordel, tenho a secreta suspeita
de que Igor Gregório será um trovador de referência.
Cordel tem
essa vantagem: é pequeno, oito páginas, de fácil leitura. Dizem as línguas
corrosivas que os cordelistas são mais descomplicados para engolir porque a
imperfeição é mais fácil de tolerar em doses pequenas. Seja como for, meus
cumprimentos ao jovem cordelista Igor Gregório, deixando aqui uma lição de
sextilha do poeta Ismael Gaião:
SEXTILHAS SEM PÉ QUEBRADO
Para uma
estrofe em sextilha
Ficar bem metrificada,
Basta colocar seis versos,
Com sete sílabas em cada,
E observar suas rimas
Para vê-la bem formada.
Ficar bem metrificada,
Basta colocar seis versos,
Com sete sílabas em cada,
E observar suas rimas
Para vê-la bem formada.
Ela pode
ser armada
Sem perder o seu contexto,
Porque tem a oração
Pra dar beleza a seu texto,
Com versos mantendo a rima
No segundo, quarto e sexto.
Sem perder o seu contexto,
Porque tem a oração
Pra dar beleza a seu texto,
Com versos mantendo a rima
No segundo, quarto e sexto.
Sendo
assim não há pretexto
Pra se fazer verso errado,
Basta treinar um pouquinho
Pra ficar acostumado
E deixar os seus poemas
Sem verso de “pé quebrado”.
Pra se fazer verso errado,
Basta treinar um pouquinho
Pra ficar acostumado
E deixar os seus poemas
Sem verso de “pé quebrado”.
Pra ficar
mais arrumado,
Seguindo as normas acima,
Podemos usar a “deixa”,
Feita na última rima,
Pra fazer do seu poema
Tentativa de obra-prima.
Seguindo as normas acima,
Podemos usar a “deixa”,
Feita na última rima,
Pra fazer do seu poema
Tentativa de obra-prima.
Muito obrigado pelas palavras mestre Fábio! Fico muito grato por elas, e ainda mais pelas dicas e direcionamentos. No que depender de mim, o Cordel como arte popular, ou seja, feita pelo povo e para o povo, não morrerá. Vamos juntos, melhorando sempre! Mas uma vez, muito obrigado!
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