quarta-feira, 18 de março de 2020

Novo cordelista na praça anuncia que o cordel está vivo



Quem inventou a bobagem de que o cordel é uma arte em extinção precisa saber que novos leitores e escritores de cordel estão surgindo no Brasil. Aqui na Paraíba do Norte, um pouco pela dedicação da Academia de Cordel do Vale do Paraíba, esse patrimônio cultural brasileiro empolga e envolve cada vez mais a galera jovem.  Quando surgiu o rádio, disseram que ele iria substituir o cordel. Sobreviveu. A TV quase mata o rádio e o cordel. Os dois resistiram.  Agora com a internet, os cordelistas pegam carona nessa calda de cometa e voam pelo mundo levando esse gênero literário nordestino, servindo até como ferramenta da educação.  

O cordel mudou, é verdade. Pela sua origem popular, há preconceito. Hoje tem doutor de tudo que é jeito escrevendo cordel. E lendo, e pesquisando.  Definitivamente, cordel não é literatura menor. E não é fácil, como pode parecer. Tem que estudar as regras, tem que ter cabeça de músico, ritmo e coração de poeta. Precisa escrever no embalo das sílabas poéticas sem perder o sentido da oração e sendo inventivo nas narrativas.

Igor Gregório é um poeta muchacho, novato nas lides cordelescas e empenhado no aprimoramento de sua escrita nessa expressão popular. Com simplicidade e desafetação, ele chega perto dos mestres e vai assimilando as técnicas e os traquejos do ofício. Já escreveu sete folhetos, dois deles em fase de produção na gráfica. Serão seus primeiros títulos no mundo dos folhetos.

O poeta noviço teve a delicadeza e humildade de me visitar e pedir meu ponto de vista sobre seu trabalho. São dois folhetos de gracejo, cheios daquele humor simples e quase ingênuo do cordel tradicional. Sinal de que Igor Gregório já leu muitos folhetos antes de se atrever a escrever o seu. Fraquejando aqui e ali na estrutura básica do cordel, o que é natural em todo principiante. Entretanto, se continuar levando a sério a arte de poetar, construirá uma obra interessante. 

Apurando sua dicção e calibrando os efeitos poéticos, em conluio com as escritoras e escritores da Academia de Cordel, tenho a secreta suspeita de que Igor Gregório será um trovador de referência.

Cordel tem essa vantagem: é pequeno, oito páginas, de fácil leitura. Dizem as línguas corrosivas que os cordelistas são mais descomplicados para engolir porque a imperfeição é mais fácil de tolerar em doses pequenas. Seja como for, meus cumprimentos ao jovem cordelista Igor Gregório, deixando aqui uma lição de sextilha do poeta Ismael Gaião:

SEXTILHAS SEM PÉ QUEBRADO

Para uma estrofe em sextilha
Ficar bem metrificada,
Basta colocar seis versos,
Com sete sílabas em cada,
E observar suas rimas
Para vê-la bem formada.
Ela pode ser armada
Sem perder o seu contexto,
Porque tem a oração
Pra dar beleza a seu texto,
Com versos mantendo a rima
No segundo, quarto e sexto.
Sendo assim não há pretexto
Pra se fazer verso errado,
Basta treinar um pouquinho
Pra ficar acostumado
E deixar os seus poemas
Sem verso de “pé quebrado”.
Pra ficar mais arrumado,
Seguindo as normas acima,
Podemos usar a “deixa”,
Feita na última rima,
Pra fazer do seu poema
Tentativa de obra-prima.


Um comentário:

  1. Muito obrigado pelas palavras mestre Fábio! Fico muito grato por elas, e ainda mais pelas dicas e direcionamentos. No que depender de mim, o Cordel como arte popular, ou seja, feita pelo povo e para o povo, não morrerá. Vamos juntos, melhorando sempre! Mas uma vez, muito obrigado!

    ResponderExcluir