Arnaud
do Sax é daqueles sujeitos com música em seu código genético. Desde menino, já
impactava o meio ambiente com o som do violão, flauta, trompete, teclados e sax.
Vivendo no país mais musical do planeta, na região mais representativa das matrizes sonoras étnicas, foi construindo a sonância
em harmonia com os cantos, danças, ritmo e cadência da mistura cultural. Acabou
músico da noite e instrumentista de banda filarmônica, seu ganha pão. Toca em
boates, bares, shoppings e recepções. É saxofonista da Banda Santa Cecília, de
Sapé, uma das mais antigas do Brasil.
A crise da pandemia pegou Arnaud do Sax e rasgou sua agenda.
Não tem mais como pagar suas contas. Ele, igual a todos os trabalhadores
brasileiros informais, jamais será ressarcido. Paga o preço desse fenômeno
sanitário e, de quebra, da incompetência e mau-caratismo dos comandos
nacionais. Em 2012, a Câmara Federal rejeitou projeto que concedia seguro-desemprego a
artistas, músicos e técnicos em espetáculos de diversões.
O
músico abandonou seu instrumento diante do desconsolo e aflição da hora. A
crise do capitalismo juntou-se ao vírus e à desordem institucional
bolsonarista. O grande cérebro coletivo brasileiro deu um nó. Velhos e novos, empresários e operários,
artistas e trabalhadores informais não conseguem ver nem a ponta do iceberg, mas já se mortificam com a
certeza do desastre iminente.
O
que fazer? Em isolamento, as pessoas reagem fincando bandeira em terreno
descampado da desesperança ou vislumbrando um mundo prenhe de outro mundo que
está para sair dessa instabilidade mundial. Na Itália, as pessoas se postam nas
janelas e cantam canções de crença e sonho. No seu condomínio, toda tardezinha
Arnaud do Sax põe uma caixa de som na janela do apartamento e toca a Ave Maria
de Gounod. No primeiro dia recebeu 300 mensagens dos vizinhos no Instagram. A última audição contou com
um público oculto de mais de mil residentes no condomínio, a julgar pelos comunicados
elogiosos. “Redescobrimos a fé e a alegria de viver”, enunciou um casal de
idosos. “Aceita cachê? Informe o número da conta”, disponibilizou outro. O
próprio músico se diz amparado pela ação artística e humanitária. “Expulsa
minha inquietude e consternação do peito”, assegura.
“O
Brasil não é um país sério”, teria dito o presidente francês Charles De Gaulle.
É lenda. A sentença foi realmente dita por um embaixador brasileiro na França.
Atualmente, os embaixadores das nações do mundo nos olham e ponderam: “o Brasil
não é um país sadio”. Nossa elite é insalubre. Entretanto, que povo maravilhoso
escolheram para povoar este hospício! Pelo menos os nossos artistas conseguem
proteger nosso conceito com sons, cenas, movimentos, imagens e cores da cultura
brasileira e emocionando com o show perenal da solidariedade e a beleza do
humanitarismo.
Valeu, Marcelo
Piancó! – Em
2015, fiz entrevista com o humorista Marcelo Piancó, uma das melhores do meu
programa “Alô comunidade” na Rádio Tabajara da Paraíba. Conversa prazerosa onde
ele falou de humor, poesia, ativismo político e militância social. Voltei a
ouvir a gravação da entrevista no Youtube neste domingo (22), quando soube de
sua morte. Além de ter sido um dos maiores comediantes da Paraíba, Marcelo
Piancó era mestre do soneto. Sempre insistia com ele para publicar seu trabalho
de alto valor literário. Marcelo era igual a mim, um protelador. Nos dramas
clássicos, o herói habitual acaba tragicamente. Marcelo viveu construindo o
riso e morreu com a dignidade de um Carlitos.
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