quarta-feira, 15 de julho de 2009

Biu Penca Preta no banco dos réus


Biu Penca Preta já faz parte da mitologia desta cidade, aonde Jessier Quirino veio beber na fonte meio salobra da sabedoria e simplicidade da gente do interior. Sagaz, inteligente, espirituoso e satírico, Penca Preta é uma figura destacada na paisagem humana deste lugar.

Deu-se que, nos anos dourados dos setenta, estavam se formando os primeiros doutores advogados itabaianenses. O futuro doutor Pedro José da Silva, homem qualificado para liderança, fundou a Associação dos Universitários de Itabaiana e inventou de fazer um júri simulado para congregar os acadêmicos de direito. O decano Arnaud Costa foi convidado para presidir o júri, tendo como promotor o futuro juiz de direito Marcos Williams. O advogado de defesa atendia pelo nome de Arnaldo Barbalho, já falecido.

Faltando a figura do réu, encarregaram Luiz Paraíba de procurar um sujeito que fizesse esse papel no tal júri simulado. Luiz saiu pelos bares à procura de um bebinho convincente. Encontrou Biu Penca Preta num bar pé sujo do mercado, os olhos vermelhos, os cabelos desgrenhados clamando por um pente e a camisa do “Nó Cego” exibindo marcas de suor nas axilas. Feito o convite, Biu aceitou na hora, mas antes exigiu pagamento na forma de uma meiota, a ser consumida depois do tal julgamento. Trato feito, levaram Penca para a Câmara de Vereadores, que já reunia bom número de assistentes.

Começando o júri, o juiz chamou o réu para as perguntas formais:

– Seu nome?

– Severino Pereira da Silva, conhecido por Biu Penca Preta.

– Profissão?

– Engenheiro do Departamento de Estrada de Rodagem e boêmio nas horas vagas...

– Os presentes iniciaram uma risadagem, logo contida pela campainha da mesa.

O “promotor” tomou a palavra, carregando nas tintas contra o réu:

– Senhores jurados, esse homem é um marginal, um elemento nocivo à sociedade, um sujeito perigoso, como provam os autos. Esse homem que está sentado no banco dos réus é um criminoso que deve ser afastado do nosso convívio.

– Protesto, seu juiz! – gritou Biu, levantando-se do banco, para galhofa geral dos presentes.

– Isso é uma mentira, não admito que esse promotor fique me esculhambando!

O juiz fez soar a campainha em meio à confusão. Chamou Biu de lado:

– Biu, você é réu, e réu não pode falar.

Depois de explicados esses detalhes técnicos, o réu voltou ao seu banco, reiniciando-se o julgamento. O promotor, no entanto, foi aconselhado a diminuir os ataques contra o réu, para evitar nova intervenção. Arnaldo Barbalho, o “advogado de defesa”, trêmulo e de voz embargada pela emoção de participar pela primeira vez de um julgamento, mesmo simulado, articulou uma defesa um tanto frágil, devido à inibição e poucos conhecimentos jurídicos. Biu Penca Preta levantou-se de novo do banco dos réus:

– Doutor Juiz, o réu pede a palavra!

– O réu não pode falar, eu já disse.

– Meritíssimo, eu mesmo quero me defender, porque com um advogado dessa qualidade, vou acabar pegando prisão perpétua e mais dois anos de reclusão!

Novo buchicho no plenário, todo mundo rindo, desordem geral que acabou com a sessão simulada.

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