quarta-feira, 29 de julho de 2009

Babá e Bebé



Deste território neutro da Toca do Leão, posso falar em política de Itabaiana sem que a conversa ganhe contornos de arena. Aqui o leão não tem bandeira, não veste camisa de time nenhum. Aliás, não quero papo de política, mas sim falar dos camaradas populares nas plagas itabaianenses, como esse Babá que todo mundo conhece, prefeito duas vezes, oleiro de profissão, sujeito simples e carismático. Quando perdeu sua última eleição, Babá cunhou a frase: ““Como disse o poeta Augusto dos Anjos, a mão que aplaude é a mesma que vaia”.

Na foto, vê-se Zé Maranhão ensinando Babá a ganhar eleição sem gastar dinheiro. Algo assim como ensinar padre a rezar o Pai Nosso. Sebastião Tavares, o nome oficial de Babá, foi escolhido pela sorte para presidir dois momentos especiais de sua terra. Comemorou como prefeito o centenário do município e o centenário do poeta Zé da Luz. Inaugurou até o busto do poeta das “fulô de Puxinanã”. Apesar de iletrado, foi na sua gestão que se criou o Conselho Municipal de Cultura.

Bebé foi minha professora de português no antigo Ginásio Estadual de Itabaiana. Competente no seu ofício, professora Bebé protagonizou um episódio que marcou a fase do autoritarismo político em nossa cidade. O Brasil assistia a um período de exceção, no governo dos militares. Os valores liberais como liberdade individual, política e religiosa eram colocados em xeque. Os puritanos, demagogos e fascistas aproveitavam para delatar as pessoas, cometendo muitos erros e injustiças.

Idalmo da Silva era também professor do Ginásio, ensinando História Geral. Nas suas aulas, Idalmo falava de tudo. Seu discurso incluía até questões sexuais, liberdade para as mulheres disporem de seu próprio corpo, entre outros assuntos explosivos para a época. O resultado dessa audácia foi que um grupo de professores se reuniu, capitaneado por Bebé, pedindo a cabeça do mestre Idalmo por “incitar a imoralidade e a subversão”. Idalmo foi expulso do Ginásio, vítima da intolerância dos próprios colegas.

Entre as marcas do autoritarismo dos anos de chumbo na Rainha do Vale, ficou essa expulsão de Idalmo da Silva, a quem a gente passou a chamar de “anjo pornográfico”, fazendo alusão ao cronista pernambucano Nelson Rodrigues.

Babá é um homem iletrado, mas esperto. De inclinação política atávica, conhece as nuanças do ser humano. Predisposto para os enlevos lúbricos, Babá é adepto da pornopolítica. Faz fita dizendo que é uma espécie de Berlusconi do agreste, deitado na sua rede na fazenda “Estrela Dalva”.


Bebé já foi perdoada por Idalmo. Aposentada, leva uma vida simples em João Pessoa. Idalmo da Silva, aos setenta e tantos anos, é o mesmo sujeito questionador e revolucionário, um cara que enxerga muito à frente do seu tempo e que sabe valorizar a maravilha de estar vivo e lutar pela felicidade do seu semelhante.

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