quinta-feira, 23 de julho de 2009

Eu e os militares


Eu no centro da foto, com meus colegas do serviço militar. Aos meus pés, albino, de óculos escuros, o prefeito Josué Dias, irmão do mestre Sivuca.


Naquele ano de 1972 eu era um rapaz ingênuo que, por falta de opção, foi trabalhar como datilógrafo na 23ª Delegacia do Serviço Militar em Itabaiana, com ordenado de 140 cruzeiros por mês. Meu chefe era um capitão do Exército, Anísio Andrade, sujeito simples, mas exigente, metido a poeta. Por ser o chefe, publiquei alguns poemas do homem no meu Jornal Alvorada. Fiel à formação castrense, o capitão queria que eu seguisse carreira militar. Na idade de servir às Forças Armadas, não me sentia vocacionado para a profissão.

A situação era de absoluto controle dos militares no país. Senhor apenas dos meus sonhos, eu nem percebia direito o drama político e social que se desenrolava no Brasil da ditadura. O terrorismo real e psicológico, esse eu só vim a sofrer na pele anos depois.

No meio desse clima de guerra, o Exército promoveu um concurso nacional de redação sobre o serviço militar e eu fui classificado em primeiro lugar na Paraíba. O capitão Anísio foi um dos que mais vibraram com o sucesso do subordinado e tratou de promover uma excursão a João Pessoa levando todos os presidentes de Junta de Serviço Militar da sua jurisdição, para prestigiar a entrega do meu diploma no quartel da 23ª CSM, incluindo até o prefeito da cidade, Dr. Josué Dias de Oliveira, irmão do mestre Sivuca.

A caminho de João Pessoa, fui tentando decorar um pequeno discurso para a cerimônia. Tudo o que se referia aos militares tinha ampla cobertura da imprensa. A Tabajara, rádio do Governo do Estado, estava lá para transmitir o evento. Na hora, esqueci da breve peça oratória, desacostumado a falar em público. Disse três ou quatro lugares comuns. Acabei sendo o melhor orador, pelo menos para os soldados e puxa-sacos que suavam debaixo do sol quente em frente ao quartel. O resto foi palavreado longo, vão e ostentoso de civis e militares.


O diploma de “cooperação meritória com o Exército Nacional” foi muito útil quando viajei como mochileiro pelo Norte/Nordeste. Atravessei Pernambuco, Ceará, Maranhão, Piauí, Pará e Amazonas, chegando nas fronteiras com a Colômbia, sonhando com o ouro dos garimpos. Não fiquei rico, passei muita fome, peguei malária duas vezes, mas nunca fui preso por vagabundagem. A polícia era mais truculenta do que de costume, naqueles tempos de incertezas e opressão. Ao ser abordado nas ruas e postos de gasolina onde costumava pernoitar, eu apresentava o vistoso diploma, com a faixa diagonal verde-amarela e o brasão das Forças Armadas. Imaginando que eu seria algum “secreta” do Exército em missão de espionagem, os milicos pediam desculpas e saiam com o rabo entre as pernas. Era meu passaporte no país dos generais

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