O público
potencial desses cordéis é a galera de minha geração que passa lá no nosso
estande no Salão de Artesanato da Paraíba e conta histórias que vivenciaram com folhetos em tempos idos. “Ainda bem que estão sobrevivendo”, me disse um
senhor.
Do outro
lado da nossa barraca, o xilogravurista e folhetista Marcelo Soares armou também sua tenda com
barbantes exibindo seus folhetos, no modo dos antigos folhetistas de feira. Ao
lado, um cara meio maluco vendendo seu livro “A doida paixão de um doido”. Cada
pessoa que encosta no estande, o pracista de ilusão declama seu estribilho,
resumindo o roteiro de sua novela.
“Com
licença da palavra, tem folheto de safadeza?”, foi disparando um camarada.
Levou o pacote: “Baile de Madame Preciosa na praia de Tambaba”, “Dicionário
Vavá da Luz de Safadeza e Ideias Afins” e “A verdadeira história das pedras de
Ingá”, autoria deste fescenino que vos tecla. Uma professora procurou folhetos
para criança. Estamos em falta. Vários sertanejos saudosos sondando cordéis
sobre suas cidades. Vendi todos os meus folhetos de Itabaiana e Mari. Outro
cara queria cordel de peleja malcriada. Elementos estranhos chegavam,
fotografavam os folhetos e saíam sem dizer nada. O mais fotografado foi o
folheto sobre Marielli, do compadre Marconi Araújo. Desconfio de arapongas
nesses tempos tiranos. Ou é apenas paranoia minha.
Algumas crianças
escolhendo folhetos. Acho que por indicação dos professores que cordel agora é
moda na escola.
Entre um
freguês e outro, fiquei pensando nesse tal de cordel a partir dos depoimentos
das pessoas. Muita gente se alfabetizou com folhetos de feira, inclusive eu.
Quem pode dizer bem é o poeta Aderaldo Luciano, mas creio ter sido o estilo
oral da estrutura do cordel que moldou as cantorias de repente. O que sei de certo
é que muita gente nos vê como arcaísmos que precisam ser preservados em museus.
“Ótimo que ainda sobrevivam”, disse o senhor, me olhando como se esse
desconfiado poeta fosse uma criatura quase extinta.
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