Décio Pignatari
escrevia crônicas na Folha de São Paulo nas décadas 80/90, refletindo sobre a
agonia da ditadura e as febres políticas subsequentes: a “febre do paraíso” que
foram as “diretas já”, a “febre da frustração” que foi a morte súbita de
Tancredo Neves, a “febre da mágica” com o Plano Cruzado. Décio Não viveu para
escrever sobre a “febre do topete boceteiro” de Itamar Franco, a “febre do sapo
barbudo” de Lula e a “febre do realismo fantástico” de Dilma. Talvez não sobrevivesse
à “febre do vampiro” que preparou a vinda de uma febre maior, a “febre do
pântano troglodita” que vem infelicitando a “pátria tão subtraída” por
hipertermias kafkianas.
Reli seu livro
“Podbre Brasil” em plena euforia declinante da “febre do pântano”. Descubro
alguém próximo a mim que votou no “coiso” e o defende. Onde foi que errei? Como
esperado, a gestão do capitão é uma indigestão. Para os artistas e produtores
culturais, o governo dirige seu ódio insano de ultradireita mentecapta. É
triste constatar que poetas e músicos apresentem armas com os dedos, embalados
por fake news de grupos de néscios em
redes sociais. O governo que nos desgoverna tem um e meio por cento de artistas
que o apoiam, entre eles esse músico, fã do histrião.
Não quero crer
que esse rapaz seja um liberal. Sua vida acadêmica transitou pela área técnica.
Estudou estatística. Apresenta um comportamento ideológico semelhante a 48% dos
brasileiros, com perfil de direita, para ficar na sua área. Números do Data Folha.
Desconfio que seu maior problema foi a falta de leitura. Sua forma de expressão
é a música. Não sei como se deu essa disritmia cultural, mas me entristece. Se
esse governo da “merdocracia” não me atingiu pessoalmente ainda com suas
atitudes excludentes contra velhos, pobres, servidores públicos e militantes
sociais, só essa ovelha desgarrada do meu aprisco ideológico ulcerou o velho
Leão.
Termino citando
o poeta Lau Siqueira: “Esse governo é marcado pelo ódio a tudo o que seja inteligência,
ciência, cultura, arte, em suma, o ódio à criação. Não é fortuito que Hitler,
que quis ser pintor, tivesse um gosto estético tosco, e que o nazismo
perseguisse, como “degenerada”, a melhor arte da época. É verdade que os
semifascistas Ezra Pound e Céline brilham no firmamento da cultura do século 20
—mas são agulha no palheiro”.
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