Querer ser um babaca especial é o cúmulo da
pretensão. Somos todos babacas, e fim. Acredita não? É porque você não se olha
no espelho da sinceridade com você mesmo. Mas a realidade, por mais cruel que
pareça, é que somos babacas na maior parte do tempo, e alguns são babacas em
tempo integral.
Pensando assim, passa a ter sentido a sincera “agressão”
daquela minha amiga, que me chamou de babaca porque contei alguns lances de
minha vida, considerados pequenos crimes tipo pagar propina ao guarda, essas coisinhas
do cotidiano canalha de todos nós. Foi num programa de rádio de fundo de
quintal, eu e mais alguns babacas, onde se falava de corrupção. Em dado
momento, eu provoquei: “vocês falam tanto na corrupção alheia, teremos coragem
de admitir nossos pecados?” Teve até furto desqualificado. Ao fim, revelou-se o
que já se suspeitava: nós, brasileiros, praticamos a desobediência civil não
sistematizada quase todo santo dia. Até rabisquei um haicai:
Atentai, ó crente:
bendita ou não, a corrupção
é fruto do vosso ventre.
Mas, o que eu quero falar mesmo é do babaca, a
forma rotineira de como somos imbecis. Por ser práxis, nem notamos. Ontem fui
visitar um professor de alto gabarito intelectual e forte prestígio na
sociedade paraibana. O homem demonstrou o que sempre foi: um sujeito educado,
gentil e muito solícito para com as visitas. Na audiência, me chamou a atenção
o modo como trata os subordinados. É clássico na nossa cultura. Os de cima
ainda se sentem na sala da Casa Grande, tendo ao redor as mucamas e serviçais
para suas necessidades imediatas. De preferência, sendo tratados de forma
humilhante e desrespeitosa. Um babaca de outro tipo. Por essas e outras,
defendo a tese de que somos todos babacas, mesmo os que se acham a fina flor da
humanidade. Principalmente essas figuras.
Ao fim e ao cabo (gosto dessa expressão, apesar de
achar meio babaca), não conseguimos nosso intento com a tal autoridade. Por
outro lado, lancei um olhar crítico à tendência de me achar um fodão, que é
aquele tipo de babaca que pensa: “por que a humanidade não se ajoelha aos meus
pés pelo simples fato de eu existir?” Gramsci ensinou: “não se pode chegar à
vitória final através de uma sucessão de derrotas parciais.” Perdi essa
batalha, mas, ao longo prazo, a vitória será dos germes que hão de comer minhas
vísceras. Em todo caso, ainda continuo emocionalmente cheio de energia para dar
meus pinotes e me envolver emocionante com projetos que, à luz da realidade
aparente, são meras babaquices.
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