Recebi este bilhete do ator Fernando
Teixeira: Fabio Mozart, estou fazendo a novela o Velho
Chico, a primeira parte e, para a segunda parte eles estão precisando de
pessoas mais velhas e que sejam atores para os papeis de Coronel do interior e
você é cordelista, locutor. Se você estiver interessado, pegue seu celular e
peça a alguém para tirar algumas fotos suas sem você posar. Passe andando, de
lado, de frente, sempre com uma cara de quem diz: “Sou um cara feliz”,
demonstrando verdadeiramente. E junto com elas me mande online; nome, endereço,
telefone, e e-mail. Quanto antes melhor. A grana é muito boa, fora o destaque
nacional. Se você topar lhe darei umas aulas breve.
Respondi ao mestre Teixeira: “Agradeço a deferência do convite, mas não
poderei aceitar porque sofro de artrose nos dois joelhos, com sérios problemas
de locomoção”. Assim, acabei deixando passar a chance de trabalhar nessa novela
que, dizem, tem mais nordestino do que a feira de São Cristóvão, no Rio. Acabei por perguntar ao mestre se ele aceitaria minha indicação do
veterano ator Marcos Veloso para o papel. Ele respondeu: “Com certeza, Mozart,
mas é uma pena, porque você tem um bom tipo para o que eles estão querendo. Em
verdade, eles querem fazer uma renovação no cast.”
A Rede Globo é a maior emissora do Brasil, vista todos os dias por 90
milhões de pessoas. A telinha da Globo hipnotiza o brasileiro há mais de 40
anos. Trabalhar na Globo é o sonho de cem por cento dos atores. Não sou ator e
nem quero trabalhar na Globo. Por causa da artrose nos joelhos, mas, também, porque
a TV brasileira é alienante, imbecilizante. Respeitando os artistas que lá
trabalham, essa “caixa de fazer doido”, como definiu o genial Stanislaw Ponte
Preta, vem empurrando goela abaixo dos brasileiros, por décadas, um conjunto de
valores que não coincidem com meu modo de ver o mundo. Não gostaria de fazer
parte disso, mesmo que dê dinheiro e fama.
Não sou superior a ninguém, nem acho que estou esnobando. Já tenho o
suficiente pra não morrer de fome até o fim da vida e não preciso de
notoriedade. A importância social que busco é poder ser reconhecido naquelas
quebradas de gente pobre que quer montar uma rádio comunitária e precisa de meu
auxílio. Prefiro fazer parte da equipe da Rádio Zumbi dos Palmares e me
divertir batendo o ponto no Estúdio 26, que é uma sala na casa do compadre
Dalmo Oliveira onde a gente sonha e ri com o ridículo próprio e alheio,
produzindo debates absolutamente desnecessários e projetos malucos idem.
Pior para o mundo artístico, se o velho e extraordinário ator Fabinho
não atuar na Vênus Platinada. Nem por isso deixarei de me orgulhar dos
conterrâneos que irão trabalhar na novela, artistas do calibre de Zezita Matos
e do consagrado Fernando Teixeira. Suas presenças na telinha da Globo
significam mais dignidade e satisfação para o nordestino. Mesmo que a própria
Globo nos compare àquele personagem idiota do desenho animado americano, o
Homer Simpson, incapaz de entender comunicações de média complexidade.
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