Fui conversar com uma moça que é do
departamento de marketing do Shopping Mangabeira. Ela quer fazer uma feira de
cordel, com a Academia de Cordel do Vale do Paraíba. Falando na linguagem do
compadre Josafá de Orós, aquilo meu deu um talho no coração. Fiquei com pena do
Tio Patinhas da Paraíba, o dono do negócio. O shopping é enorme, confortável,
coisa de primeiro mundo, mas falta o básico: freguês. O investimento está indo
de água abaixo, porque não tem retorno para as lojas. É feito casa de bexiguento:
não entra ninguém. Soube por lá que o dono já está dispensando o pagamento dos
aluguéis das lojas para evitar uma debandada geral.
Eu conversando com o poeta Sander Lee,
combinando pra gente alugar uma sala naquele espaço comercial pré-falimentar.
Nós que não temos profissão definida, às vezes poetas de meio de feira, outras,
empreendedores de ilusões, caberíamos feito tomé e bebé naquele aferventado de
negócios quebrados misturados com arroto choco de rico no prejuízo.
É muito cedo, todavia, para apostar na
derrocada do templo do capitalismo, armado em lugar impróprio ou porque deu de
frente com a crise alardeada. Na ópera-bufa e nauseabunda dos entrecruzamentos
de interesses estatais e privados da Capitania da Parahyba do Norte, eles hão
de encontrar uma saída pela tangente que livre a cara e o bolso do “capitão do
comércio” e seu sub-produto, o político do “caixa dois”. Por hora, lucro no xópingue
das mangabas é o mesmo que carne de porco em hospital. Irônico e professoral, o
compadre Ameba acunha: “abrir loja de rico em bairro pobre é feito assim tomar
deliciosamente um suco chamado Noku”. Ouvido pela reportagem, um comedor de ovo
todo dia abriu o jogo: “Aqui, o pobre quando quer comprar uma mercadoria, pega
o buzão e vai pra praia, se exibir nos shoppins dos ricos, e os classe-merda que
moram perto desse Shopping Mangabeira dizem que não são da galera do ‘bolsa
família’ pra frequentar esses ambientes.”
Meu compadre poeta Jairo Lima indaga e quer
saber: “com quantos pobres se faz um rico?” Outro responde: “No mínimo, dois
milhões e quinhentos mil pobres para cada rico.” Conrado Marimon ataca de intelectual:
“Leiam Pierre-Joseph Proudhon, ta tudo escrito na sua filosofia da pobreza.” Um
tal de Roliúde Maike da Silva ataca de eleitor de Bolsonaro: “E quantos pobres
um rico pode ajudar? Quantos empregos um rico pode gerar? Em contrapartida, quantos
pobres outro podre pode ajudar?”
O certo é que, nos finais de semana, os
moradores de Mangabeira City vão ao Shopping fazer um “bate e volta”. O
estagiário de servente de pedreiro fica olhando e tirando fotos do que tem de
bom nas vitrines do paraíso do consumo, sem nem sonhar que aquilo tudo “foi
feito com seu suor, seu sangue e sua dignidade”, como garante o poeta Jairo.
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