quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Até os gênios do empreendedorismo falham


Fui conversar com uma moça que é do departamento de marketing do Shopping Mangabeira. Ela quer fazer uma feira de cordel, com a Academia de Cordel do Vale do Paraíba. Falando na linguagem do compadre Josafá de Orós, aquilo meu deu um talho no coração. Fiquei com pena do Tio Patinhas da Paraíba, o dono do negócio. O shopping é enorme, confortável, coisa de primeiro mundo, mas falta o básico: freguês. O investimento está indo de água abaixo, porque não tem retorno para as lojas. É feito casa de bexiguento: não entra ninguém. Soube por lá que o dono já está dispensando o pagamento dos aluguéis das lojas para evitar uma debandada geral.
Eu conversando com o poeta Sander Lee, combinando pra gente alugar uma sala naquele espaço comercial pré-falimentar. Nós que não temos profissão definida, às vezes poetas de meio de feira, outras, empreendedores de ilusões, caberíamos feito tomé e bebé naquele aferventado de negócios quebrados misturados com arroto choco de rico no prejuízo.
É muito cedo, todavia, para apostar na derrocada do templo do capitalismo, armado em lugar impróprio ou porque deu de frente com a crise alardeada. Na ópera-bufa e nauseabunda dos entrecruzamentos de interesses estatais e privados da Capitania da Parahyba do Norte, eles hão de encontrar uma saída pela tangente que livre a cara e o bolso do “capitão do comércio” e seu sub-produto, o político do “caixa dois”. Por hora, lucro no xópingue das mangabas é o mesmo que carne de porco em hospital. Irônico e professoral, o compadre Ameba acunha: “abrir loja de rico em bairro pobre é feito assim tomar deliciosamente um suco chamado Noku”. Ouvido pela reportagem, um comedor de ovo todo dia abriu o jogo: “Aqui, o pobre quando quer comprar uma mercadoria, pega o buzão e vai pra praia, se exibir nos shoppins dos ricos, e os classe-merda que moram perto desse Shopping Mangabeira dizem que não são da galera do ‘bolsa família’ pra frequentar esses ambientes.”
Meu compadre poeta Jairo Lima indaga e quer saber: “com quantos pobres se faz um rico?” Outro responde: “No mínimo, dois milhões e quinhentos mil pobres para cada rico.” Conrado Marimon ataca de intelectual: “Leiam Pierre-Joseph Proudhon, ta tudo escrito na sua filosofia da pobreza.” Um tal de Roliúde Maike da Silva ataca de eleitor de Bolsonaro: “E quantos pobres um rico pode ajudar? Quantos empregos um rico pode gerar? Em contrapartida, quantos pobres outro podre pode ajudar?”
O certo é que, nos finais de semana, os moradores de Mangabeira City vão ao Shopping fazer um “bate e volta”. O estagiário de servente de pedreiro fica olhando e tirando fotos do que tem de bom nas vitrines do paraíso do consumo, sem nem sonhar que aquilo tudo “foi feito com seu suor, seu sangue e sua dignidade”, como garante o poeta Jairo.

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