sábado, 19 de março de 2011

Na contramão

FOTO: Muhammed Muheisen – Yemen

Estou lendo um livro de Pessoa de Morais chamado “Tradição e transformação no Brasil”. São 350 páginas de estudos sobre o brasileiro, suas manias, sua cultura, as origens do nosso comportamento no dia-a-dia, enfim “novas sugestões de interpretação de traços básicos na vida brasileira”, conforme explica o próprio autor em sua introdução. Trata-se de um livro fundamental do pensador pernambucano, sociólogo e catedrático da Universidade Federal de Pernambuco.

O exemplar do livro que estou lendo tem o autógrafo do autor, dedicado ao meu irmão Sósthenes Costa, quando ele estudava e trabalhava no Recife em 1977, ocasião em que privou da amizade do grande pensador, até hoje praticamente ignorado pela comunidade acadêmica.

Em meio às diversas teorias expostas pelo mestre sobre o comportamento dos brasileiros, Pessoa de Morais fala sobre a prepotência de nossas elites e o servilismo do povo.

Pessoa de Morais garante que somos servis e bonzinhos por causa da discriminação e da segregação social, que foram muito fortes no Brasil. Por exemplo, seria pouco provável que uma população de outros países com origens mais soberanas e altivas suportasse a humilhação e o menosprezo, a exploração e o assalto aos cofres públicos que a maioria dos prefeitos comete contra seus munícipes.

Foi assim que os fortes resquícios feudais deram às pessoas de posse “arraigados sentimentos de prepotência e orgulho senhorial, ao mesmo tempo em que deixaram marcas fortes de inferioridade e complexo de servilismo na população”, segundo Pessoa de Morais.

Contrariando essa tendência conservadora do povo, tem gente que se agarra ao princípio do contraditório e diz não. Esses são mal vistos, até repelidos pela sociedade. São os que andam na contramão, os que discordam, os que nas mais variadas formas resistem às ações desonestas, infames, abjetas ou simplesmente retrógradas. São os que dizem não ao que é indecente e injusto. Também são aqueles e aquelas que divergem do senso comum, da falsa moralidade vigente.

Para compensar, o povão é dotado de um forte senso de humor e deboche. Frase de Ameba sobre as ratazanas institucionais:

--- Esse povo pensa que dinheiro público é o cu de Madame Preciosa que todo mundo mete o dedo.

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