quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Haikai sem regras


Haikai é um poema de origem japonesa, que chegou ao Brasil no início do século 20 e hoje conta com muitos praticantes e estudiosos brasileiros. No Japão, e na maioria dos países do mundo, é conhecido como Haiku. Para não incidir em problemas de rimas, ricas ou rudes, achou-se por bem denominá-lo Haicai.

O Haikai tem algumas regras, além de ser um poema conciso. Como eu gostava de escrever poemas curtos, passei a defini-los como Haikai. Eis algumas “pérolas”:

Porque viveu ao contrário,
Morreu como um nenenzinho.

Ela guiou minha mão
Ao caminho das Índias.

Acordou sonhando
Com um puro acorde.

Foi lendo Garcia Marquez
E contabilizando a solidão.

A chuva seca na areia
A esperança de verão.

Depois fui agrupando os três versos como manda a tradição, contando 17 sílabas no total, a autêntica forma do Haikai. É um exercício de concisão e sobriedade, e eu gosto muito disso. Conclamo os compadres a produzir essas micropoesias, seguindo os cânones clássicos ou não. E peço licença para apresentar meus mais novos haikais:

Mudou de roupa
Liderou o féretro
Mudou de casa.

Na vida real
A moça fantasia
Um coito normal.

No purgatório
Da conta bancária
O saldo reza.

Jaz confortável
E íntimo do solo
Secando o húmus.

Bato o solado;
Dizendo de onde vim
Cai o pó claro.

A banda passou
Instante semibreve
Limpando a pauta.

Com língua presa
A testemunha muda
Depoimento.

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