segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

QUERO SER ENTERRADO NU


Quando morto estiver meu corpo,
Evitem os inúteis disfarces,
Os disfarces com que os vivos,
Só por piedade consigo,
Procuram apagar no Morto
O grande castigo da Morte.

Não quero caixão de verniz
Nem os ramalhetes distintos,
Os superfinos candelabros
E as discretas decorações.

Quero a morte com mau-gosto!
(Pedro Nava)

Quando eu morrer, vou nu para meu próprio enterro. Na minha carta-testamento, estará explícito esse desejo: ser enterrado nu, conforme cheguei. Nasci pelado e espero ser enterrado peladão. Quando nada, para afrontar as convenções e afugentar as velhas carpideiras, prenhes de pruridos morais. Ninguém quer ver um defunto nu!
O danado é que muitas mulheres (e alguns homens) vão só espiar o tamanho da piroca do falecido. Aguentar risadinhas e comentários safados, é o fim! Atrairei muitos curiosos, escarnecedores do meu orgulho de macho.

Suzana Vieira disse que quer ser enterrada de mini-saia. Sem calcinha. Eu só vou usar um par de sapatos brancos e vermelhos, daqueles que era a moda nos anos 30. E uma gravata francesa.
Hundertwasser, artista multifacetário, acreditava tanto em reciclagem que pediu para ser enterrado nu, fora do caixão, e descansa em paz peladão na sombra de uma árvore na Nova Zelândia. Eu também dispenso o caixão.

Só não quero ser enterrado como deseja Rita Cadillac, de bruços. É que a dançarina do Chacrinha adora sentar numa manjuba.

O defunto naturista não quer, entretanto, ser enterrado nas areias de Tambaba. Nada contra os naturistas. Uma frase anti-naturista: “Ficar nu é perder toda a humanidade de ser mais do que um corpo, de ser uma idéia no azul cobalto da roupa, no vermelho carmim dos lábios; de ser maior sobre o salto, de ser mais largo e lânguido no tecido que voa na brisa do mar. Ninguém pode ser mais do que o animal castrado, que está nu e não se vê nu”. Discordo. Ficar desnudo é mais que uma prática subversiva, seria um simbolismo para recuperar nossa dignidade aviltada pelos padrões de consumo que regem, orientam e definem nosso comportamento, a começar pelas nossas próprias roupas, já definia Juca Fix, um maluco beleza de São Paulo.

Comerei a terra nua e ela me comerá também despido, numa suprema, inocente e última orgia fecundando a natureza, completando o ciclo vital. Deixado no tranquilo abandono de um terreno qualquer, poderei esticar minha velha ossadura e dormir esquecido do mundo que me viu passar vestido para, depois de morto, zombar de minha carne inerte e compassiva. A imagem horrível de um cadáver nu com mãos enclavinhadas e os pés hirtos será o pior pesadelo daquele canalha que foi para o velório, confirmar se realmente morreu um homem decente e idealista. Viveu como se nunca fosse morrer...e morreu como se nunca tivesse vivido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário