segunda-feira, 25 de maio de 2020

Cordel debate saúde pública na escola com humor e simpleza



Fábio Mozart e Cristine Nobre escreveram o folheto “Xarope de cloroquina serve até pra febre do rato”, publicado em plataformas de leitura na internet. O cordel “tira a terreiro” as políticas públicas de saúde implementadas no Brasil atualmente, em plena pandemia do novo coronavírus. O dito folheto se insere na linha “gracejo”, cordéis voltados para o lado do riso. Esta modalidade de folheto trata do humor simples do povo nordestino, irreverente e repleto de duplo sentido.
Quadros de notório saber na educação, pública ou particular, já perceberam o valor da literatura de cordel como ferramenta pedagógica, pela sua comunicabilidade e interatividade, pelo baixo custo e musicalidade dos seus versos, enquanto elemento motivacional e impulsivo nas ações de incentivo à leitura e escrita. A odontóloga e cordelista Cristine Nobre, de Pirpirituba, já pratica atividades didático-pedagógicas na promoção da saúde bucal através dos folhetos. Ambos somos membros efetivos da Academia de Cordel do Vale do Paraíba, onde construímos uma parceria pró-ativa no sentido de produzir cordéis em diversos gêneros. Boa parte dos criadores desta Academia é constituída de professores, atuando em suas escolas como agentes disseminadores da nossa cultura popular mais autêntica, levando o alunado a conhecer suas próprias raízes e valorizando as vocações e talentos dos jovens. Tem muito colegial escrevendo e lendo literatura de cordel nas escolas graças a mestres como Pádua Gorrion, de Itatuba, Raniery Abrantes e Annecy Venâncio, Manoel Belizário, Jota Lima da UEPB, Francisco Diniz em Santa Rita, Antonio Marcos Monteiro de Itabaiana, Claudete Gomes e Bento Júnior de João Pessoa, entre tantos outros.
Neste contexto, a Escola Estadual Renato Ribeiro Coutinho, de Alhandra, resolveu investir no desenvolvimento criativo dos alunos nessa fase de estudos à distância, utilizando o nosso folheto “Xarope de cloroquina serve até pra febre do rato”. A repercussão se deu na internet, através de portais de literatura onde leitores e escritores interagem entre si. Os alunos leram o folheto e responderam a um questionário.
Essa febre benigna dos cordéis nas escolas e suas experimentações como termômetro do nível cognitivo dos alunos e alunas, vem deixando claro que precisamos aplicar no mundo da educação altas doses de letras, poéticas ou em prosa, para despertar o prazer à leitura e à escrita, porque ainda é muito deficiente o desempenho da moçada quanto aos significados das palavras, a compreensão do texto. De forma desenvolta e informal, o folheto estimula a interpretação e reflexão. Ainda assim percebe-se significativa falta de equilíbrio entre o que se lê e o que se apreende. Interpretação inexata de um texto simples é sinal claro de analfabetismo funcional. Como bom sinal, os números de pesquisas recentes dando conta de que o analfabetismo funcional já é muito menos entre os mais jovens do que entre os mais velhos.
Na escola onde o folheto foi explorado, a maioria dos alunos e alunas responderam ao questionário com mentalidade aguda e senso de discernimento intelectual. Parte da resposta de uma aluna: “Eu entendi que esse cordel é uma crítica ao Presidente Jair Bolsonaro sobre o medicamento cloroquina, porque até hoje não foi comprovado pela ciência que a cloroquina serve para pessoas que estão com a doença Covid-19. As iniciais FM e CN nas estrofes são dos autores Fábio Mozart e Cristine Nobre”. Outro escreveu: “O folheto mostra que o Presidente é um grande babaca”.

Sobre a pergunta “o que significam as siglas FM e CN entre as estrofes?”, um aluno respondeu que se trata de FM, “a sigla de Frequency Modulation que em português significa "Modulação em Frequência" e se refere à transmissão de ondas com variação da frequência”. E as iniciais CN, para o aluno, é o código na Internet para a China. Esse escorregão nos ajuda a entender o fenômeno da internet como ferramenta de pesquisa na escola, suas extravagâncias e desvios.  




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