domingo, 20 de novembro de 2016

POEMA DO DOMINGO


HAI-KAIS NA MADRUGADA

A foice do lucro martela
as mãos revolucionárias
de Carlos Marighela

Que queiras ou não queiras
novas mãos empunharão
outras bandeiras

Jaz fuzilado
a esmo
quem amou o próximo
como a si mesmo

Viveu amanhecendo
morreu em plena aurora
anoiteceu vivendo

Verdemente
a frutinha se põe
em semente

Noite inteira em serenata
muriçoca bemol
carapanã sonata

Crime que não se arrola
matar a aula
o melhor da escola

Forçando a rima
criando clima
as luzes de Paris
me deixam tão febris!

A vida inteligente
escorre nos condutos
mansamente

Como um Narciso torto
quero estar belo e roxo
depois de morto

Um novo tempo despercebido
explode em nós
sem alarido

Numa dimensão sem porta
escrevo este poema nu
em letra morta

Não era hora ainda.
Por que o ser humano
sem cumprir-se, finda?

Pelas barbas de um rei assírio
como é vetusto o charme dessa rosa!
Como é antigo o cheiro desse lírio!

Acordar cedo
tecer a teia institucional
do nosso medo

Nos olhos teimosos
de quem foi embora
a luz inexistente
de uma tênue aurora

Nervosinho, aperreado
sem saber que, pelo tempo
será bostificado.

No Jacaré arrebol
músico aquático foi visto
roubando a cena ao sol


F. Mozart

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