segunda-feira, 15 de março de 2010

Tenente Lucena, o general do folclore


Sou um apaixonado admirador das personalidades que têm seus nomes destacados nas artes e ciências, na cultura e na política de minha terra, a centenária Itabaiana, sobretudo os que dedicaram suas vidas na defesa da dignidade das pessoas. É impressionante como Itabaiana deu ao mundo figuras tão invulgares, homens de espírito engrandecido e inteligências notáveis.

Um deles chama-se João Emídio de Lucena, que ficou conhecido como Tenente Lucena. Acabei de ler sua biografia, escrita pelo filho Piragibe de Lucena em edição do autor, de março de 1986. O menino que nasceu em seis de abril de 1912, um dia de sábado, na vilazinha de Campo Grande, tornou-se um dos maiores folcloristas do Brasil. Predestinado e obstinado, o garoto trilhou uma vida de amor pela cultura do seu povo, com tal sentimento de bondade e benevolência que transformou-se em ideal, perpetuando-se no mundo por lutar pelo bem e inspirar a juventude a estudar e se dedicar às tradições populares.

O livro de Piragibe informa que Tenente Lucena, como ficou conhecido, era filho de Josias e Eulária. Era primo segundo do grande sanfoneiro Sivuca. Em 1918, a família foi morar em São João do Sabugi, Rio Grande do Norte. Em 1928, João Emídio de Lucena entrou para a banda de música local, tocando corneta, depois piston e trombone. Em 1933, sentou praça como soldado voluntário no 22º Batalhão de Caçadores, passando a ser soldado músico de terceira classe. A partir daí, cresceu como músico, adotando para sua vida o ideal de servir ao próximo, notadamente às crianças. Fundou corais infantis e abrigos de menores carentes. Foi sócio fundador da Orquestra Sinfônica da Paraíba.

Em 1957, foi transferido para a reserva do Exército no posto de segundo tenente. Foi um dos maiores folcloristas do Brasil, autêntico representante da cultura popular paraibana e nordestina. Hoje é nome de escolas, ruas e conjuntos folclóricos da Paraíba e Rio Grande do Norte.

Com seu grupo “Terra Seca”, preservou as tradições, usos e artes do povo nordestino, pesquisou e recriou danças populares, em valiosa contribuição ao folclore. Como humanista, despendeu todos os esforços para recobrar a auto-estima e dar dignidade aos párias, prostitutas, meninos abandonados e outros viventes à margem do meio social.

Faleceu em João Pessoa no dia 09 de julho de 1985. Itabaiana, sua terra natal, deveria reverenciar mais sua memória. Um homem que se dedicou à arte e à cultura, inclusive ao cinema. Fo ator nos filmes paraibanos “O salário da morte”, “Bagaceira”, “Fogo Morto” e “A Canga”. O dramaturgo José Bezerra Filho assim se referiu ao grande itabaianense: “Não acredito em vida após a morte, mas tenho a impressão de que tanta bondade, tanta fortaleza juntas não devem ter se acabado assim, sem mais nem menos. Pra mim Tenente Lucena está por lá nos outros mundos, dançando o Camaleão com os anjos, ensinando aos povos daquelas paragens as cantigas de roda que cantava com as crianças, ele também criança no espírito, quando estava do lado de cá”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário