domingo, 7 de março de 2010

Mulheres da submissão, da generosidade e da guerra



Nesta data de festejo da mulher, falo de três realidades femininas em particular. Uma delas me veio de repente, eu viajando de ônibus para Itabaiana. Ao meu lado, um casal jovem ouvindo música em alto volume no aparelhozinho de MP4. A “música”, mistura de funk com sons do Pará, produzida por uma banda chamada Ravoli. A cantora da banda repetia insistentemente: “Ele me maltrata e me domina, ele é especial...” Fiquei matutando: as mocinhas de hoje em dia seguem a mesma ideologia machista do tempo em que minha mãe era uma jovem senhora evangélica, e admitia o fato de que as mulheres devem ser submissas ao marido “como convém ao Senhor”. Hoje as mulheres são submissas alegremente às novas ondas da indústria cultural que promove esse tipo de lixo. Homens e mulheres, no caso, os dois são idiotas, mas fica com a mulher o papel de estupidez mais profundo, porque, “primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão" (1 Timóteo 2:13-14).

A outra mulher de quem lembrei chama-se dona Dorinha. Aos setenta e quatro anos, é ainda robusta e cordial. Tem por método de vida cultivar a ciência da generosidade. Ela tem imenso prazer em servir aos outros, seja vizinhos, amigos ou parentes. Mesmo desconhecidos merecem sua atenção e prodigalidade. Basta pensarmos que vamos dar algo a outra pessoa para ativar a área emocional mais profunda do cérebro que está associada à alegria e promove a produção de substâncias que nos fazem sentir bem. Daí, concluo que dona Dorinha tem uma alma nobre e generosa, viciada em fazer o bem. No tratado sobre a generosidade, sou também informado de que as mulheres são mais generosas do que os homens, talvez para aparelharem-se com vistas à missão de conceber e conservar vidas.

Uma mulher será lembrada neste 8 de março em Itabaiana, por sua coragem e altruísmo. Ela foi à guerra em 1935, pensando em construir um Brasil onde mães não tenham que se prostituir para dar de comer aos seus filhos. Ofereceu sua vida na tentativa de realizar o sonho dos justos: o princípio da igualdade levado às últimas consequências. Foi presa com o marido na Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Sofreu torturas, suportou o suplício da polícia de Getúlio Vargas, mas não entregou nenhum companheiro. Dividiu sofrimento e angústia com outras grandes mulheres da categoria de Olga Benário, e homens do nível moral e intelectual de Graciliano Ramos. Essa heroína chama-se Leonilla Almeida, sobre quem estou escrevendo um livreto.

A revolucionária Leonilla Almeida é personalidade símbolo de um prêmio que concedemos todos os anos a algumas mulheres que se destacam pela defesa dos direitos humanos. Para preservar a memória dessa mulher itabaianense e para não esquecermos aqueles atribulados tempos ditatoriais.

Entre a mocinha admiradora de músicas que banalizam e inferiorizam a mulher, a senhora generosa e a mulher paraibana que se notabilizou pela coragem, estamos nós homens sempre ao lado delas, correndo atrás delas e muitas vezes rebaixando-as. Porque é difícil entender uma mulher, mesmo quando ela não fala e fica pertinho do namorado ouvindo músicas estúpidas e preconceituosas. Captar seu desejo, entender sua individualidade, vislumbrar o aspecto invisível do seu caráter, quem nos dera! Faço minhas as palavras do cronista Ronaldo Monte: “eu, que tenho por fardo a obviedade masculina, sou grato àquela que me põe cotidianamente em frente ao seu mistério”.

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