segunda-feira, 13 de março de 2017

COLUNA DE DAMIÃO RAMOS CAVALCANTI

Ciúme, fatos, coisas e crime

     
       
Por trás da Floriano Peixoto do Alto dos Currais, em Itabaiana, morava Biu do  Cavalo;  o bicho, desde seus tempos de potro, servia ao dono em tudo:  Puxava a carroça de mudanças; carregava caixas de sapato da fábrica de Seu Osório à Estação Ferroviária, vendidas a Timbaúba e Campina Grande; tinha um admirado trote que levava Biu às festas, à Igreja e ao mercado; e em nada dava trabalho, abastava-se do capim em torno da casa, cujo muro, à noite, Biu gostava de pular, a destino, até hoje, ignorado.
       Sua  mulher, por coincidência, Severina, nutrindo doentio ciúme e os fuxicos das "amigas" da vizinhança, dizia que tudo sabia: "Ele não me engana..."  Assim, escolheu uma da sua rua, a quem Biu sempre sorria, para ser sua rival. E, nos fins das tardes, quando via o escolhido pivô do ciúme sentado na calçada, reforçava sua raiva, em voz baixa: "Por que ela?  Sou melhor em tudo". Lembro-me, por outro lado, que os homens, batendo papo no Bar de Adonias, antes do último gole, lambiam os beiços e defendiam-se: "Mulher com muito ciúme não presta, dá nisso"...
        Severina conhecia como ninguém os gostos de Biu. Então lhe preparou seu almoço preferido: Feijão verde; num copo americano, caldo com coentro; farofa d'água com cebola e galinha torrada com muita graxa, alho, cebola, pimentão e cheiro verde. Em cima dessa comida, Biu se derretia de prazer e na mania de comer fazendo com a mão bolinho de feijão, receita de mãe a menino enfastiado, entretendo-o, chamando a comida de "pintinho" ou de "cavalinho". Quando estava Biu levando um desses bolinhos à boca, Severina quebrou-lhe o pescoço com um pino de engatar trem que ela arrumara na Estação do Triângulo, onde se revezavam os trens para fazer baldeação de vagões e mercadorias. Restou-nos forte lembrança de Biu morto, trancando na mão um bolinho de feijão e das vizinhas defendendo Severina: "Coitado de Biu, mas quem aqui apronta aqui paga..."

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