quinta-feira, 10 de junho de 2010

A mulher que deu em três homens e meio


Sanderli em cena da peça "A peleja de Lampião com o Capeta" (Em riba da cadeira)

O próximo livro do Doutor Romualdo Palhano tem por título "O Teatro em Itabaiana - Da União Dramática ao GETI", cujos originais ele gentilmente me remeteu para escrever o prefácio. A obra fala das peripécias do Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana – GETI. Antes, faz um apanhado histórico do nosso passado, descrevendo as potencialidades econômicas e sociais de Itabaiana desde o começo do século XX, diagnosticando as forças trabalhistas como o motor propulsor de nossa cultura formal, a partir da fundação da União dos Artistas e Operários, núcleo de nossas primeiras experiências teatrais.

Romualdo reconstitui a trajetória dos equipamentos culturais itabaianenses, desde a banda de música aos jornais, passando pelos clubes carnavalescos e as festas públicas, até quando enveredamos por uma crise econômica e cultural sem precedentes. Itabaiana nunca foi tão pobre quanto é hoje. O livro do Mestre Romualdo Palhano, entretanto, não pretende fazer estudo político/sociológico das razões de nossa decadência, apenas historiar os movimentos artísticos do passado, culminando com o aparecimento do Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana na metade da década de 70. É nessa época onde nos encaixamos eu e mais uns moços e moças, unidos nessa aventura de produzir arte na província. São histórias engraçadas nos mais de 30 anos de atividades deste grupo teatral que o texto de Romualdo nos da a conhecer.
Um dos vários depoimentos transcritos na obra é do compadre Sanderli Silva, getiano que atualmente reside em João Pessoa. Eis o resumo:

Como o grupo não tinha recursos financeiros para investir nas montagens dos espetáculos, fazíamos toda espécie de malabarismo para arrumar dinheiro: pedágio nas ruas e estradas, coleta de auxílio no comércio, rifas e outras atividades práticas no intuito de arranjar o vil metal, incluindo a velha “vaquinha”.

Foi numa dessas caravanas pelo comércio que o nosso amigo Norberto Araújo pagou o maior mico. O grupo estava montando o cenário e figurino de um espetáculo, cujo nome não lembro. Fomos pedir ajuda para o guarda-roupa na loja de Galego da Prestação, misto de político e comerciante lojista que havia perdido uma eleição para dona Dida, outra líder política local.

Norberto Araújo trabalhou como locutor na campanha de dona Dida, candidata que ganhou a eleição, mas não levou porque foi cassada. Acontece que o locutor Norberto empolgou-se demais na campanha e dizia no microfone: “viva a a mulher que deu em três homens e meio!”. Eu só sei que um dos candidatos era Galego da Prestação...
Quando chegamos na loja de Galego, fomos bem recebidos. Galego já estava cortando os panos para nossos figurinos, quando percebeu a presença de Norberto. “Mago, tu não é aquele locutorzinho que andava dizendo que a mulher deu em três homens e meio? Quem é esse meio homem? Sou eu?” Norberto, mais branco do que uma tapioca, gaguejou: “Foi não, seu Galego. É que dona Dida andou se peitando com um anão insolente, provocador de meia tigela”. O ex-candidato sorriu, percebendo a batida de pino do nosso ator e locutor: “Eu dou porque gosto de contribuir com a arte, mas fique sabendo que sou homem inteiro”.


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