“Esta terra de enlevo e espólio, tão amada e de
grande estirão”. Assim começa o hino de Itatuba (PB), criação dos poetas Pádua
Gorrión e Sander Lee. Confesso que os versos não me animam a ouvir a melodia,
mas sou admirador dos dois compadres, pelos motivos que passo a expor. No
começo da década de 1990, Sander Lee foi mandado pelos Correios para trabalhar
em Itatuba, onde morou por seis anos. Lá, conheceu Gorrión na igreja
protestante, um rapazinho matuto, morador de um cangote de serra, que gostava
de conhecer as coisas, tinha sede do saber, como diz a letra infame de outra
dupla, Dom e Ravel, famosa nos anos de chumbo por cantar a ditadura e bajular
os generais com seus acordes torpes. Era o “sertanejo lambe botas”, de muito
sucesso na época.
Mas eu falava do poeta Sander Lee e sua vivência em Itatuba, antiga Cachoeira de Cebolas, cidade que serviu de berço ao escritor Sabiniano Maia. Conforme testemunho do próprio Sander Lee, o pastor aconselhava os jovens a não estudar, porque “estudo afasta a juventude de Deus”. Essa ojeriza à pedagogia não agradava ao poeta, homem de letras, ator de teatro e íntimo das artes em geral. Daí começou a espalhar o gosto pelo teatro e pela literatura entre a juventude protestante. Foi quando nasceu o poeta Pádua Gorrión, que virou professor, doutor em letras, cordelista de primeira linha e historiador de sua cidade. Dessa turma também se destaca Elcio Gomes, entre outros.
Pois fui visitar Itatuba com os poetas Thiago Alves e Sander Lee neste sábado, 11, de junho. Lá nos reunimos com Pádua Gorrión para organizar um sarau de poesia para o dia 16 de julho, sob os auspícios da Academia de Cordel do Vale do Paraíba. Depois, fomos perambular pela cidadezinha. Encontramos um trio “pé de serra”, orquestra típica de baião: sanfona, triângulo e zabumba. Era o “Forró Carro de Boi”, imediatamente contratado para o show dos poetas. O líder da banda, Louro Martins, passou cinco anos na cadeia por ter matado Maria de Zezo, uma “feiticeira” famosa na cidade. Motivo do crime: Maria de Zezo ameaçou matar o irmão de Louro por vias de trabalho de encruzilhada, com assistência direta de Zé Pilintra. No outro dia, deu-se o passamento do rapaz por morte súbita, o que gerou a tragédia. Típico caso de morte anunciada e prontamente vingada, com fortes sinais de mandinga e obscurantismo. Ou seja, pura ignorância, na língua dos locais.
“Pé de serra” é conjunto que foi criado pelo Rei do Baião, mestre Luiz Gonzaga. Dizem que o sanfoneiro apresentava-se no Recife com sua sanfona e uma zabumba fazendo o ritmo, quando viu o moleque vendendo cavaco chinês com seu triângulo, tingue... lingue... tingue... lingue... tingue... lingue. “Foi quando eu tive a ideia de casar a zabumba com o triângulo, deu certinho”, disse Gonzagão. Inventou uma orquestração original, criando o famoso trio “pé de serra”.
Que fim levaram o bloco de Leonel, o cinema de Salvador, a poesia de Zé Vital, a banda Dez de Abril, o cine Santo Antonio, o forró no Mercado, a seresta de Pai Santo, a folia da Serra Velha, o maracá de Mané Flexa, a difusora de Biu de Josa, o pastoril, o clube de Biu Tucano, o doce de Zé Preto, a sanfona de Briba, o cabaré de Vilú, o bozó de Pedro Aguado, os foguetões de seu Zuzinha, a venda de Pedro Campina, o trompete de Zemar, o pandeiro de Joaquim Gama, a reza de Zefa Borges e tantas outras manifestações culturais itatubenses? Assunto para a próxima crônica. Além de manter contato com esses artistas populares e comer bode com feijão verde no pé da serra Velha, fiquei sabendo de coisas de minha própria vida que eu próprio desconhecia até então, entre outros mistérios. Aguarde!
Mas eu falava do poeta Sander Lee e sua vivência em Itatuba, antiga Cachoeira de Cebolas, cidade que serviu de berço ao escritor Sabiniano Maia. Conforme testemunho do próprio Sander Lee, o pastor aconselhava os jovens a não estudar, porque “estudo afasta a juventude de Deus”. Essa ojeriza à pedagogia não agradava ao poeta, homem de letras, ator de teatro e íntimo das artes em geral. Daí começou a espalhar o gosto pelo teatro e pela literatura entre a juventude protestante. Foi quando nasceu o poeta Pádua Gorrión, que virou professor, doutor em letras, cordelista de primeira linha e historiador de sua cidade. Dessa turma também se destaca Elcio Gomes, entre outros.
Pois fui visitar Itatuba com os poetas Thiago Alves e Sander Lee neste sábado, 11, de junho. Lá nos reunimos com Pádua Gorrión para organizar um sarau de poesia para o dia 16 de julho, sob os auspícios da Academia de Cordel do Vale do Paraíba. Depois, fomos perambular pela cidadezinha. Encontramos um trio “pé de serra”, orquestra típica de baião: sanfona, triângulo e zabumba. Era o “Forró Carro de Boi”, imediatamente contratado para o show dos poetas. O líder da banda, Louro Martins, passou cinco anos na cadeia por ter matado Maria de Zezo, uma “feiticeira” famosa na cidade. Motivo do crime: Maria de Zezo ameaçou matar o irmão de Louro por vias de trabalho de encruzilhada, com assistência direta de Zé Pilintra. No outro dia, deu-se o passamento do rapaz por morte súbita, o que gerou a tragédia. Típico caso de morte anunciada e prontamente vingada, com fortes sinais de mandinga e obscurantismo. Ou seja, pura ignorância, na língua dos locais.
“Pé de serra” é conjunto que foi criado pelo Rei do Baião, mestre Luiz Gonzaga. Dizem que o sanfoneiro apresentava-se no Recife com sua sanfona e uma zabumba fazendo o ritmo, quando viu o moleque vendendo cavaco chinês com seu triângulo, tingue... lingue... tingue... lingue... tingue... lingue. “Foi quando eu tive a ideia de casar a zabumba com o triângulo, deu certinho”, disse Gonzagão. Inventou uma orquestração original, criando o famoso trio “pé de serra”.
Que fim levaram o bloco de Leonel, o cinema de Salvador, a poesia de Zé Vital, a banda Dez de Abril, o cine Santo Antonio, o forró no Mercado, a seresta de Pai Santo, a folia da Serra Velha, o maracá de Mané Flexa, a difusora de Biu de Josa, o pastoril, o clube de Biu Tucano, o doce de Zé Preto, a sanfona de Briba, o cabaré de Vilú, o bozó de Pedro Aguado, os foguetões de seu Zuzinha, a venda de Pedro Campina, o trompete de Zemar, o pandeiro de Joaquim Gama, a reza de Zefa Borges e tantas outras manifestações culturais itatubenses? Assunto para a próxima crônica. Além de manter contato com esses artistas populares e comer bode com feijão verde no pé da serra Velha, fiquei sabendo de coisas de minha própria vida que eu próprio desconhecia até então, entre outros mistérios. Aguarde!
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