domingo, 7 de março de 2021

POEMA DO DOMINGO

 

Cordel do Alzheimer e outras bobajadas poeméticas

 

Eu não sou tão feio assim

Com esse ar de babaca

Mal-apanhado na foto

Fealdade se destaca

Sorumbático e velho

Porque estou de ressaca

* * *

Sendo homem de palavra e de respeito

E que nunca se safou de compromisso

Meu martelo a galope insubmisso

Passa em cima de todo preconceito

Alargando o meu caminho estreito

Mastigando calango no espeto

Eu te sirvo o pãozinho com brometo

Galopando o cavalo morticínio

Encherei de caveiras meu domínio

E prometo não cumprir o que prometo

 

* * *

CORDEL DO ALZHEIMER 

 

A memória malogrando

E pelo que estou vendo

Vai levar cartão vermelho

Pelas faltas que anda tendo

Eu só sei que nada sei

E o que sei não tou sabendo

 

Já esqueci o meu nome

A mente só tem remendo

Depressão e pandemia

Vai a cabeça moendo

Eu só sei que nada sei

E o que sei não tou sabendo

 

Essa doença de Alzheimer

É um distúrbio horrendo

É viver cada segundo

Como se o terminal sendo

Eu só sei que nada sei

E o que sei não tou sabendo

 

(Mote de Bebé de Natércio)

 

* * *

A cadela ditadura

Volta e meia aparece

Com o rabo entre as pernas

Defendendo com uma prece

A moral e bons costumes

Enquanto o abismo tece

* * *

Quando a máscara cai

a tensão sexual

se desfaz

 

terapeuta de casais

registra na caderneta

e nos anais

 

o que rola na alcova

cheira a corpos fusiformes

e anchova

 

* * *

Pescador recreativo

não assa o peixe

engole vivo

* * *

Rosto simbólico

minha face é um poema

fingido e melancólico

 

antes que desintegre

quem socorre a minha cara

tão desalegre?

 

Cara de tacho

tão sem graça e sem chalaça

qual populacho

 

Cara amarrada

de sorriso acorrentado

a alma atada

 

Inconformado

ao rosto resta

ar revoltado

 

rever as rugas

rosnar ao rei

e aos sanguessugas 

(Para Pádua El Gorrion, a partir de roteiro poético de sua autoria)

 

* * *

Pra não ficar bolado na quebrada

Foi passear com sua paranoia

Furtivo no seu cavalo de Troia

Em plena suburbana pátria armada

Cruzou com gata quente e abrasada

Mistura de putona e de atriz

Mundana marafona de raiz

“Me chama de Natal e me conduz

Despe o Papai Noel, apaga a luz

Que eu te mostro o que é noite feliz”

 


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