quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Rádio livre e cidadania nas quebradas

Beto Palhano, Danielly Gomes, Dalmo Oliveira, Fábio Mozart e a articuladora cultural Mariah Castro, de Pilar. 

Fábio Mozart*

Nesta quarta-feira (20) a Rádio Comunitária Zumbi foi ao sítio Jacaré, zona rural de Pilar, transmitir o desfile cívico da Escola Estadual Maria Alves de Brito. Recebemos um troféu de honra ao mérito, “comunicadores amigos da educação”. Cidadania comunicativa sempre foi nossa estratégia de ação e de participação no espaço público. Já nos articulamos com radialistas comunitários de Itabaiana, Gurinhém, Pilar, Conde e comunidades da grande João Pessoa, a exemplo da Casa Verde de Bayeux, participando da troca de experiências e ajuda mútua em prol da livre manifestação dos pensamentos nas camadas mais despossuídas. Sempre na perspectiva de promover a própria palavra dos que nunca têm voz, na prática de cidadania e participação dos sujeitos.

Dona Antonia, testemunha ainda viva da história da comunidade, aos 85 anos, contou histórias fantásticas sobre seu sítio Jacaré. Os povos do campo são especialistas em sobrevivência. A anciã caminhava seis quilômetros todos os dias, carregando nas costas um garajau de mandioca para a produção de farinha. Tem orgulho de sua capacidade física e dos seus valores de toda uma longa vida.

A nova geração é representada por jovens como Danielly Gomes, líder comunitária, valente no seu papel de estraga-festa, incomodando ao poder e aos poderosos, denunciando o errado, lutando pela dignidade do seu povo. Muito interessante observar a visão crítica de mulheres do  naipe de Danielly. Tipo de gente capaz de vislumbrar o que não quer antes de saber o que quer. Nos confrontos com os poderosos locais, vai afirmando sua cidadania e dos seus conterrâneos. Tem orgulho de sua escola, onde se faz curso de letramento e de cidadania, sob o comando gentil e carismático da professora Íriam Maria. Estimulante e confortador saber que uma comunidade rural tem altivez e segue construindo seu mundo com experiências vividas em carne e alma próprias, neste Brasil perturbadoramente alienado. A consciência é incômoda, já dizia o poeta Benedetti. Os graúdos da região já não podem usar o povo como massa de manobra da forma que faziam há séculos, porque tem a escola que educa para a cidadania e lideranças como Danielly, porta-voz de um povo em construção. Tem como ídolo o governador Ricardo Coutinho. Elogia a presença de forte impacto do governo paraibano na educação pública, melhorando a qualidade da escola e valorizando os mestres. “Aqui, temos o sonho de construir a quadra de esportes, proposta que colocamos por duas vezes no Orçamento Democrático, mas tenho esperança de ver esse equipamento a serviço da comunidade”, afirmou Íriam, mentora do educandário reconhecido como “escola de valor”, premiada pelas suas experiências administrativas e práticas pedagógicas bem-sucedidas.

A Escola Maria Alves de Brito mostrou índices que comprovam a evolução qualitativa dos indicadores educacionais: crescimento de matrícula, crescimento de aprovação e redução de reprovação. Com Conselho Escolar atuante, a Escola Maria Alves de Brito estabeleceu parcerias com segmentos da comunidade, voltadas para o desenvolvimento de projetos que garantam melhorias para a escola e alcance dos objetivos propostos pelo Projeto de intervenção pedagógica para o ano letivo.

A diretora, Iriam Maria Araújo Rodrigues dedicou o Prêmio à equipe escolar “que se esforçou e conseguiu mostrar que, numa comunidade rural de Pilar, professores e demais trabalhadores da educação têm real compromisso com os propósitos educacionais”. Além do cumprimento das metas, a escola comprovou a manutenção dos bens, espaços físicos e limpeza, critérios também para a obtenção do Prêmio Escola de Valor.

Na sua fala, o jornalista Dalmo Oliveira, representando a Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares, enfatizou que o Brasil anda perigosamente numa fase em que as pessoas são levadas a anestesiar sua capacidade de se importar, de se comprometer com a melhoria da vida dos outros. “Nós, que fazemos radialismo comunitário, vivemos de paixão, masterizando e compartilhando com as pessoas, olhando para quem elas profundamente são. E aqui no Jacaré de Pilar, vislumbramos o poder da empatia, a cordialidade e o espírito de luta em um corpo social historicamente esquecido, como são os habitantes da zona rural”. Para ele, é isso que alimenta os sonhadores por um mundo melhor, que faz crescer e empoderar, evoluindo sempre.

Valeu muito auxiliar na divulgação dos enfrentamentos dessa galera. Seremos sempre parceiros, clara e explicitamente defendendo nosso lado, o lado das classes populares, em defesa de uma rádio comunitária autêntica e cidadã. Sempre é restaurador perceber que a capacidade de resistência do nosso povo ainda subsiste, apesar desse “momento acidente”.

·        (Coluna ELEJÓ - Jornal A União - A ser publicada em 24/09/2017)


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