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terça-feira, 30 de setembro de 2014

CARTA DE PILAR



De Pilar, meu compadre Evanio Teixeira mandou dizer que acorda logo cedo e, antes de ir trabalhar, abre a internet para ler os acontecidos. “Sempre espero ler notícias boas, algo que fique como um estímulo para continuar na minha luta diária, mas, só tem alienação, jornalismo envelopado e tendencioso”, reclama ele, lembrando que não é nenhum especialista no assunto, apenas um leitor comum. São blogs e sites sem coesão, sem coerência, a maioria, nesses tempos eleitorais, verdadeiros palanques virtuais para endeusar candidato A ou esculachar candidato B, reclama o compadre pilarense.
Melhor passar a palavra de vez para Evanio: “É verdade que quem escolhe o que ler é o leitor, mas a coisa está se tornando tão desqualificada que não temos quase nenhuma opção de leitura séria e decente. Nessa verdadeira enxurrada de babação, calúnia e jogo sujo, os caras deformam a forma de dar a notícia para prestigiar seus ídolos de pés de barro ou enxovalhar a dignidade dos inimigos. Quero, portanto, parabenizar o blog do jornal “Tribuna do Vale”, do meu compadre Fábio Mozart, que, no meio desse jogo dos “chapa branca”, “chapa marrom” ou “chapa prontuário policial”, mantém a dignidade da notícia isenta, com um jornalismo de qualidade.  O leitor fica informado sobre os fatos sociais sem manipulação. Como leitor, eu agradeço.”
Neste momento solene, quero apenas dizer que manifestações do tipo ajudam a me fortalecer para a missão diária de produzir noticiário para o blog da Tribuna. Não querendo ser o melhor nem o mais ético, meu espaço jornalístico na grande rede persegue o ideal do comprometimento com a verdade sem manipulação, e, mais do que tudo, priorizar as notícias de interesse local. Isso ajuda, de certa forma, a nos orientar na nossa vida cotidiana, em permanente processo de transformação.
Meu amigo Evanio Teixeira é cidadão militante. Sindicalista, homem de bem, cultivador dos valores criados na amizade. Tenho orgulho em ter Evanio como amigo e como leitor diário. Axé pra tu, compadre velho! E ainda bem que meu blog não depende de grana pra sobreviver, apenas de leitores qualificados como esse. Temos poucos acessos, mas são os bons que nos seguem. 

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O que eu sinto por você não passa na censura


Parece que foi em 1974 o começo de minha bem querência pela fofinha baixinha que ficava na janela esperando eu passar na minha bicicleta Monareta vermelha. Naquela época, a censura era muito forte no Brasil “ame-o ou deixe-o”. Aliás – não sei se você se lembra – eu escrevia uns poemas babacas meio que codificados, para fugir de uma censura que nem era oficial. Agora que eu já tenho idade bastante para não comemorar mais nada, me pego lembrando dessas efemérides, como esses quarenta anos de minha primeira tentativa de cometer um poema, justamente tratando de minhas fantasias. Não sei onde foi parar o poema, que falava coisas como “você sabe que eu passei na sua rua porque tem marcas das pegadas de minha Monareta no calçamento e no seu chibiu que ninguém jamais viu”.

Olha, seu menino, a menina faceira na janela acabou por retribuir a literatura barata com carinhos ousados por trás do muro que me faziam morrer em rimas pobres, em redondilhas fatais queimando até as cinzas de nossos jovens desejos. Umas palavras certeiras que renasciam do avesso nessa libido, versos-recomeço dissolvidos e reconstituídos vida afora, porque nem eu nem ela conseguimos frear a Monareta, sem querer me deter nos detalhes porque não passa na censura. Por conta dessa literatice, editei um fanzine por nome “Verso e reverso”. Encurtando a conversa: passei a compor versinhos desbragadamente, semvergonhamente, “com o coração contente enquanto seu amor for meu somente”, conforme declama J. G. de Araújo Jorge, o mais amoroso e brega sonetista brasileiro. Isso tudo porque jamais deixei de passar na sua rua pela vida afora, “relembrando esse passado de nós dois, esse passado que começa agora”.

Meus cumprimentos efusivos ao jovem poetastro que um dia eu fui, diluído em verso-recomeço nesses quarenta anos de estrada vicinal da emoção sempre renascida. Com as devidas e regulamentares lágrimas de saudade sem censura, que eu costumo desrespeitar as leis ditatoriais, mas jamais desconsideraria os sinais do trânsito confuso de sua rua-sentimento, escanchado em minha Monareta vermelho-paixão. 

domingo, 28 de setembro de 2014

POEMA DO DOMINGO


PELEJA DE SANDER LEE COM FÁBIO MOZART NA FEIRA DE ITABAIANA (VII)



A urupema e gamela
Simbolizando o mangaio
Marca maior dessa feira
Junto com couro e balaio
Com o mercadão do sexo
Na Rua 13 de Maio.

A memória, como um raio,
Leva à cena social
Dessa feira nordestina
Sua arte artesanal
Sua origem econômica
E cultura sem igual.

Começou com um curral
Antiga feira de gado
Da Itabayanna de então
Um simplório povoado
Às margens do Paraíba
Ficava localizado

No caminho do roçado
Para o brejo e o sertão
Dos vaqueiros tangerinos
Na longa penetração
Desse gado pioneiro
Para aquela região.

Dessa aglomeração
Surgiu este povoado
Nas margens de um bom rio
Matando a sede do gado
Florescendo uma aldeia
Como humilde arruado.

Depois do tempo passado
Desde a Missão do Pilar
Como nos conta a História
E cultura do lugar
Foi se formando esta feira
Que veio bonificar

O progresso do lugar
Com a sua economia
Onde vultosos negócios
Eram feitos todo dia
Sendo que na terça-feira
Chegava a mercadoria

Do varejo e hospedaria
Era aberta ao visitante
Que jogava seu dinheiro
Nesse meio circulante
Causando grande progresso
Essa riqueza abundante.

Economia arrogante
Dos reis do gado vacum
Que acendiam charutos
Ostentação incomum
Com notas de cem mil réis
Sem obséquio nenhum.

De batata a jerimum,
Carne seca, mel e fava,
Até panela de barro
Que o povo fabricava,
O comércio prosperou
Entre aquela gente brava.

Enquanto o gado desbrava
Criando prosperidade
Já a civilização
Chegava nesta cidade
Com jornais, livros, escolas
Dando notoriedade

 F. Mozart


sábado, 27 de setembro de 2014

QUEM LÊ MEU LIVRO


"Em 24 de setembro, dia de entregar livros das Edições FUNESC ao Secretário de Educação de Sapé, o professor Kildare Freitas. Sapé, além de ser a terra de Augusto dos Anjos, é o único município paraibano que possui uma política pública municipal de incentivo à leitura. O Programa de Incentivo à Leitura na Escola - PILE, trabalha exclusivamente com autores paraibanos.” – Lau Siqueira
Na foto, à esquerda, o poeta e professor Jairo Cézar com meu livro “Artistas de Itabaiana”, que passa a fazer parte do acervo da Biblioteca Municipal de Sapé.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014


Beto Brega (foto) é um vendedor de CD e vinil na Avenida Padre Meira, centro de João Pessoa. Já faz parte da paisagem humana da capital da Paraíba do Norte. Vai falar sobre música e radiofonia no nosso radiofônico “Alô comunidade”, na véspera da eleição, 4 de outubro.
Horário eleitoral custará R$ 839 milhões aos cofres públicos. É o espetáculo midiático mais ordinário e mais caro do mundo.
No DF, PT impede candidato que defende liberação das drogas de aparecer no horário eleitoral.
Se eu soubesse que o mundo terminaria amanhã, ainda plantaria uma árvore. (Martin Luther King)
"O Brasil, sempre na vanguarda dos povos, inventou o intelectual de Facebook que não lê, não estuda e não produz, mas tem opinião sobre tudo." - Fred Navarro
Cerca de 80% do Universo é composto por algo misterioso e invisível, que ninguém sabe de fato o que é. A urna eletrônica é um desses mistérios...
“Irei ao Ministério Público solicitar informações sobre o funcionamento de uma rádio difusora instalada nos postes da Praça da Paz, nos Bancários, que todos os dias, às 18h, transmite uma pregação chamada "Terço dos Homens". – Pedro Santos
“Além do equívoco que é utilizar o equipamento público em favor de qualquer credo, a prática é monótona e antiquada. Tanto que a maior parte das pessoas que caminham ali, o fazem com fones no ouvido”. –Pedro Santos, desconfiado da falta de laicidade da Prefeitura.
"Melhor idade" é quando você pensa duas vezes antes de se abaixar para pegar o lápis que deixou cair e, se ninguém estiver olhando, chuta-o para debaixo da mesa.” – Rui Guerra
Fan page ligada a um assessor da Prefeitura de Itabaiana fez duras críticas aos vereadores da cidade, acusando-os de “pelegos, despreparados e com fama de roubar”. Para ele, a população não sabe escolher bem seus representantes, “com raras exceções”. O assessor considera que, dos onze vereadores atuais, só três devem renovar o mandato para a próxima legislatura.
A “Toca” tentou ouvir opiniões dos vereadores, mas nenhum dos que foram contatados quis comentar o assunto.
"Detran flagra "urologistas" no exercício ilegal da profissão! No teste biométrico, as dedadas eram falsas!" - Humberto De Almeida
"Vote certo. Enfie a cédula no orifício do seu candidato e mande ele procurar o que fazer." - Ameba, um eleitor invocado.
Políticos se vestem de santos no guia eleitoral. Acho que o mundo acabará sem que teoria e prática tenham uma relação estável.
Meninos e meninas da Escola Professor Mendonça no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, que retribuiu a visita com apresentação dos alunos de violão na escola. Livro acessível, música e prazer. Nosso compromisso é com o futuro.


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Todo menino é um rei

Eu com a turma da Rádio Araçá de Mari: Manuel Batista, Ricardo Alves e Carlos Alcides, em recente encontro na Rádio Tabajara

Meu compadre velho Ricardo Alves, o Ceguinho, foi quem me informou que um tal de Reginaldo apareceu na Rádio Comunitária Araçá me procurando, em Mari. Disse que me conhecia desde quando era garoto. Lembro de ter conhecido três reginaldos em Mari: um filho de Dequinha, colega ferroviário, outro irmão do meu compadre Biu Apaga Luz e o terceiro era um rapaz militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra. Pela descrição do Ceguinho, não se tratava de nenhum dos três, apesar de que se sabe que não se deve levar muita fé em testemunho de cego, rogando perdão aos politicamente corretos pela piada infame. 
Ricardo deu o número do meu móvel para o rapaz, ele acabou me ligando. Surpreso, lembrei que se trata de um meninote que apareceu na estação do trem onde eu trabalhava, magrinho, faminto e analfabeto. Levei o menino pra casa, descobri que era filho de agricultor e não conhecia uma escola. Dona Ivana, que era professora, levou o garoto para estudar no Grupo Escolar Augusto dos Anjos. Ele passou a ser meu office boy. Era um menino decente, filho de família pobre e digna, sem terra e sem pão, integrante desse contingente imenso dos deserdados, trabalhadores das plantações de fumo, roça e abacaxi, semi-escravos do latifúndio.
O irmão de Reginaldo também apareceu para conhecer nossa família. Onde come um, comem dois, diz o ditado popular desse povo tão acolhedor que é o nordestino. Ficaram por lá um bom tempo, até que eu me mudei para João Pessoa. Nessa mudança, dei de presente aos meninos o meu cachorro Pitu, um vira-lata preto e branco, muito esperto. Achei que aquela família de agricultores seria digna do meu cãozinho, um povo tão cordato e honesto.
Quase vinte anos depois, me liga Reginaldo:
 --- Seu Fábio, que emoção! Sou eu, aquele menino magrinho que o senhor ajudou, comprou lápis e cadernos pra eu estudar. Hoje tenho 31 anos, casei, moro em Cruz das Armas, trabalho fazendo portão de ferro. Qualquer dia vou na sua casa. Nunca me esqueço do senhor e de sua mulher, tão bondosos, que me ajudaram tanto na minha infância.
Já é o segundo moleque com quem me relacionei em Mari que me encontra este mês. O outro foi um ex-pupilo de minha escolinha de futebol que mora hoje em Sapé. O fato é que sempre fico impactado com esses lances do destino, do acaso. Encontrar alguém que reconhece seu benfeitor, a lembrar que “a bondade é uma linguagem que o surdo consegue ouvir e o cego consegue ler”, conforme escreveu Mark Twain. E saber que aquela criatura driblou a miséria, conseguiu estruturar uma vida digna.

Esqueci de perguntar por Pitu, que já deve estar no céu dos cachorros há muito tempo.  A vida segue.


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Alunos da Escola Estadual Professor Mendonça visitam biblioteca do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar


No dia 19 de setembro, estudantes da 5ª série da Escola Estadual Professor Mendonça visitaram a Biblioteca Comunitária Arnaud Costa, do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, realizando atividades do projeto “Conhecendo a Biblioteca”.  O projeto visa promover a interação dos estudantes com a biblioteca, mostrar a importância da leitura, da pesquisa para a vida estudantil, fazer com que os alunos conheçam e participem das atividades deste espaço e conheçam as atividades do Ponto de Cultura.
No próximo dia 10 de outubro, a Biblioteca Comunitária Arnaud Costa vai até à escola, desta vez na Escola Estadual João Fagundes de Oliveira, onde será montada tenda com exposição de livros de autores paraibanos e itabaianenses. Paralelamente, a Escola abrigará a exposição de painéis do projeto ““Paraíba grandes nomes: a xilogravura e o cordel, apresentando importantes personalidades do Estado”, com a presença do autor das gravuras, Josafá de Orós.
Hoje, 24 de setembro, os alunos do curso de violão do Ponto de Cultura estarão se apresentando na Escola Professor Mendonça, sob a batuta do professor Rosival Silva, executando números clássicos e populares do repertório da orquestra infanto-juvenil de violões.

Foto: Rosival Silva

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Ansiedade

Esse locutor ansioso que vos fala, aboletado no estúdio da Rádio Web Comunitária Porto do Capim, insofrido porque não posso me ligar com todos os canais do planeta. (Foto: Beto Palhano)

Em minha humilde opinião, acho que estou doidão. Dei-me conta de que ando com fortes crises de ansiedade. Desconforto, porque você fica assim feito mosquito em praia de nudismo, sem saber onde pousar.
Nada para me preocupar, segundo o Dr. Drauzio. Aqui no site dele, diz que essa doença mental só fica séria quando o paciente começa a sentir dificuldade de concentração, tensão muscular e perturbação do sono. Ainda não cheguei lá.
Essa minha figura esplendorosa pensa que é o centro do universo (às vezes). Fico muito preocupado porque estou quase na sobrevida e ainda não li, por exemplo, nem um milionésimo da literatura paraibana. E quando penso nos milhões de livros que deveria ler e jamais lerei, entro quase em pânico.  
Ao lado do meu computador, conservo umas 500 folhas de papel de rascunho. O outono vem chegando com suas folhas secas e nevascas (ta bom, aqui a nevasca vai como figura de linguagem) arrepiadoras da pele ressecada, avisando que está quase na hora de desviver, e cadê tempo para escrever nesse monte de folhas em branco? A crise civilizatória nas portas, e eu sem tempo hábil para salvaguardar nossos valores morais, culturais e educacionais, sem falar nos temas sexuais porque o velhinho não está mais a nível de.
Isso é o que chamo de ansiedade precisando de uma avaliação clínica criteriosa. Antes que o coroa fique babando na testa, choroso porque sua vidinha opaca não consegue abranger quase nada dos aspectos econômicos, sociais, de geopolítica e culturais da humanidade. No meu fascinado e ansioso ponto de vista, essa tensão e ansiedade é um dos muitos transtornos da meia idade. Só sobre o tema ansiedade, existem mais de 300 mil livros e 100 mil artigos escritos por médicos. E eu só li um, que foi esse do Dr. Drauzio.
Ele me dá alguns conselhos: “Se você cobra muito de si mesmo, está sempre envolvido em inúmeras tarefas e pressionado pelos compromissos, tente pôr ordem não só na sua agenda, mas também na sua rotina de vida, sem esquecer de reservar um tempo para o lazer.” Abrindo a agenda de hoje, tenho oito tarefas a cumprir, todas importantes. O que fazer? Só nessa consulta, meus neurônios ficam histéricos! Para não complicar mais o quadro, fecho a agenda e vou me deitar na rede velha. Decido não fazer nada, porque não consigo estabelecer prioridades.
Meu compadre Ameba, outro cabra de estopim curto e sem papa na língua, foi incisivo: “Teu problema todinho é preguiça no lombo”.


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Não caiu a ficha


Pode ser chamado de intertextualidade, colagem literária ou o que seja. Trata-se de uma técnica de redação que eu gosto de praticar para o progresso de minha criatividade, mas que deve ser levado em conta como uma brincadeira, um joguinho de palavras, um lance literário que deve ser aceito nos seus devidos termos, enquanto arte. Consiste em você pegar um monte de palavras, até sem nexo entre si, para formar um texto. Por exemplo, outro dia aproveitei o catálogo de uma editora gaúcha, a L&PM, e montei uma redação com os títulos dos livros publicados. A editora até gostou da ideia, mandou mensagem agradecendo.
Semana passada, sem assunto para uma crônica, abri aleatoriamente o Dicionário de Ideias Afins. Caiu na palavra-chave “sofrimento”. Pesquei todas os substantivos, verbos e adjetivos relacionados e montei um texto com essa série de palavras afins. Saiu um chororô, lamúria total.
No final, dei a chave para o entendimento da brincadeira, mas meus leitores não entenderam, ou pelo menos alguns deles. Amiga minha perguntou porque eu estava tão triste, acabrunhado e perturbado. As amizades sinceras têm esses cuidados. Para ela, não se tratava de uma composição lúdica. Seria pedido de socorro de um sujeito encalacrado em alguma ilha de solidão e depressão. Não caiu a ficha, talvez por inabilidade minha.
Portanto, senhoras e senhores leitores da Toca, meus três ou quatro fiéis companheiros dessas minhas viagens, não estou prostrado, abatido, abandonado, ressabiado, desamparado, magoado, apagado, desolado, pesaroso e oprimido. Só um tanto ou quanto liso. “Homem só presta bêbado, liso e apaixonado”, diz a regra da fuleiragem, refletindo de certa forma o sentido absurdo da vida. O velho Leão é apenas uma sombra do que outrora foi, por isso não fica mais bêbado nem apaixonado. Só economicamente quebrado. E isso não é colagem.
Chega-se a uma certa idade em que a gente renuncia ao vínculo emocional. Despertamos para o fim da vida estranhamente sóbrios diante das verdades inalienáveis. Assunto para uma crônica mais séria, essa sim, refletindo minhas futilidades filosóficas.


domingo, 21 de setembro de 2014

POEMA DO DOMINGO


A FEIRA DE ITABAIANA E O BEM-TE-VI

Já eu costumo dizer
Que pobre não passa fome
Na Feira de Itabaiana
Com pouco dinheiro come
Macaxeira e batata
Por isso honro o seu nome
Nego enche o abdome
Naquele cair da tarde
Porque tudo entra “no queima”
E o preço baixo arde
Quando o homem pobre compra
Sua “feira” sem alarde
De fato não é covarde
A Feira da minha terra
Pela mão do agricultor
Desce o produto da serra
Milho, farinha, beiju
E a triste fome soterra
O bom cabrito não berra
Diz o dito popular
Mas o povo da caatinga
Tem na arte de falar 
Sua grande valentia
É o jeito de abalroar
O poeta popular
Faz do verso a sua arma
Cabra forte, sem frescura,
Que desconhece o carma
Cada folheto que canta
A dor do povo desarma
A sua arte alarma
Prospectando cliente
Vai-se fazendo uma roda:
Gente ruim, gente decente,
Menino, velho, doutor,
Ateu, anarquista e crente
Seu cantar emoliente
Amolece o coração
Vai tocando cada alma
Aquela doce canção
Um circunstante decora
Um verso pra sedução
Depois eu volto a visão
Para a Feira de fato
Como é que coisa tão feia
Faz delicioso prato
Se juntar à fava branca
Abro a boca e dou um “trato!”
Minha origem é o mato
Ainda lendo Rousseau
E pra quem torce o nariz
Uma banana eu dou
Em Itabaiana é assim:
Se bateu, cabra, levou!
Sei que saudoso estou
Da minha terra tão bela
Aonde o bem-te-vi
Roubou a tinta amarela
Pra enfeitar sua roupa
E completar minha tela...

sábado, 20 de setembro de 2014

Comunicadores de Mari comemoram aniversário da cidade com entrevista na Rádio Tabajara

Fábio Mozart e Manoel Batista, quando trabalhavam juntos em projetos sociais na cidade de  Mari

Os radialistas comunitários Manoel Batista e Ricardo Alves, da Rádio Comunitária Araçá, de Mari/PB, estarão no programa “Alô comunidade” neste sábado, 20, a partir das 14 horas. A cidade festeja aniversário de emancipação política, cujas celebrações começaram ontem, 19, com eventos organizados pela Prefeitura local.
Os comunicadores comunitários irão falar sobre sua cidade, além de abordar temas ligados à cultura e radiodifusão comunitária.
O programa, apresentado por Fábio Mozart e Marcos Veloso, tem início às 14 horas, transmitido pela Rádio Tabajara da Paraíba AM (1.110 KHZ), com reprise por diversas rádios comunitárias e sites da internet. O programa tem difusão em tempo real pela Rádio Web Comunitária Porto do Capim (www.radioportodocapim.com.br)
“Alô comunidade” é produzido pela Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares, parceria com o Coletivo de Jornalistas Novos Rumos, Sociedade Cultural Posse Nova República e Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, de Itabaiana.
Também para ouvir em tempo real:

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Sei não, visse?

Ando tão descontente. Sofrendo de padecimentos variados e alguns inaudíveis, outros quase desencarnados. São tantas as penas e variáveis as prisões! Tormento pedindo eterno descanso. 
Aborrecimentos mil pelas quebradas desse meu Brasil. Desconsolo. Transtorno e inquietação. Sei não, visse? Tanto descontentamento, irritação, um horror! Preocupação, pesadelo, agonia desse fardo, angústias e infortuna.
Um drama no inferno onde faço papel de mártir. Desgosto e pesar, eis meu nome. Vexame, abatimento e tortura. Persegue-me o flagelo nesse transe onde padeço, carregando a cruz da desgraça e desolação. Sei não!
Nadar de braçada no mar de contrariedade, comendo o pão que o diabo nem quis amassar. Desgraçado e infeliz, sorvendo o cálice da amargura misturado com vinho de gengibre quente em copo de plástico descartável. Isso dá náusea e mal estar. Sangrar de dor nesse castigo, desespero, aflição e tristeza, amargura, miséria e tragédia, eis o quadro deste sofredor no purgatório.
Acabrunhado, desditoso e banhado em lágrimas, este desinfeliz, em lastimável estado de desolação, aflito, ansioso, sem assunto para essa porcaria de crônica diária, pega do dicionário de ideias afins, abre na página do verbete “sofrimento” e enche sua linguiça sem graça.
Sei não, visse?


quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Jessier Quirino e as rádios comunitárias


Conheço Jessier Quirino desde 2004, quando fizemos parte da comissão que organizou as comemorações pelo centenário do poeta Zé da Luz, em Itabaiana. Naquela ocasião, produzimos uma revista, fizemos um espetáculo musical e inauguramos o busto do poeta matuto de Itabaiana. No espetáculo, apresentaram-se os artistas itabaianenses Adeildo Vieira, o forrozeiro Aracílio Araújo e o saxofonista Arnaud Neto, com um detalhe: foi a primeira vez que esses consagrados músicos tiveram a oportunidade de se apresentar em sua terra natal. Sabe por quê? Pelo simples motivos de que a população não conhece as obras desses artistas de tão alto valor. E isso acontece porque as rádios comerciais não tocam suas músicas. Eles não fazem parte do esquema do velho jabaculê, que consiste na prática de uma gravadora pagar dinheiro para a transmissão de músicas em uma rádio ou TV. Por isso, só são divulgados nas verdadeiras rádios comunitárias, aquelas que adotam o princípio de valorizar os artistas da região. 
Recebemos mensagem de Nesmar Monteiro, morador da cidade de Ipiuá, uma comunidade pequena no sertão da Bahia. Naquelas paragens, informa o leitor, “o poeta Jessier Quirino retrata o Nordeste como ninguém, entra na alma do nosso povo, fala com uma sabedoria de quem viveu as agruras e alegrias do sertanejo. Aqui em nossa Rádio Comunitária, o Jessier Quirino está invadindo as casas com suas prosas e canções. Mas tem um detalhe: só as rádios comunitárias tocam Jessier, porque as outras se resumem ao forró falsificado das bandas bundinhas”. Isso indica duas verdades: primeiro: Jessier Quirino hoje é um nome nacional, indiscutivelmente a maior revelação paraibana no campo da poesia e da música regional dos últimos tempos. Segundo, as rádios comunitárias estão resgatando a autêntica cultura de raiz, através das ondas eletromagnéticas de baixa potência, nas pequenas cidades brasileiras. 
Corrupção também é cultura: a palavra jabaculê tem origem africana, e seu sentido original é “oferenda para que os maus espíritos não interfiram na harmonia da comunidade”. O jabaculê das rádios comerciais é, portanto, uma “oferenda” para que o esquema do lixo da indústria cultural continue a rolar nas ondas do rádio, em detrimento da música de qualidade. Mas cabe a pergunta: e rádio comunitária também não “come” jabaculê? Pode até ser, mas é um tanto complicado, porque a indústria da música não se interessa por pequenas rádios que só alcançam uma pequena cidade ou um bairro. O negócio deles é macro, no atacado, envolvendo grandes redes de rádio e TV. 
Mas voltando ao Jessier Quirino, o fotógrafo Euclydes Villar da microssérie “A Pedra do Reino”, da Rede Globo, o homem tá se tornando “nacioná e internacioná”, mas onde ele reina mesmo é na difusora de pé de poste do interior, e nas pequenas emissoras como a Rádio Comunitária Alto Falante, do Alto José do Pinho, comunidade pobre do Recife. Lá tem um programa chamado “Politicando”, que fala de temas ligados à política, logicamente, em linguagem simples para o povão. No programa eles tocam músicas que falam de política. Rodam Legião Urbana, Raul Seixas, Lobão e outros. Daí apareceu um morador da comunidade que entrou no debate e recitou “Comício de beco estreito”, um poema clássico de Jessier Quirino. Portanto, menino, quando o poeta está na boca do povo, é porque está consagrado pra “seculum seculorum”. Assim falou Zaratustra e Biu Penca Preta...
Fábio Mozart

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Dia Nacional do Bajulador


Todo cronista, cedo ou tarde, acaba escrevendo uma crônica sobre a crônica que ele não escreveu, mas deveria ter escrito. É clássico. Nestas crônicas, o malandro vai enrolando o leitor, faz juras de amor e promessas, promete alhos e bugalhos, mas no fim não diz é nada com nada. Na verdade, enrolar o leitor é a essência da crônica. Em maior ou menor grau, é sempre disso que se trata. Como o cronista não é especialista em coisa alguma, ele nunca terá algo importante pra dizer. Se o poeta é um fingidor, como escreveu Fernando Pessoa em seu célebre poema, então o cronista é – no máximo– um mentiroso.
Isso que vai aí acima é o começo de uma crônica de Victor da Rosa para o Diário Catarinense. Não sou malandro, por isso vou confessar que hoje não tem crônica, por absoluta falta de assunto. Nesses casos, eu vou no Wikipédia, saber o Santo do dia. Hoje é dia de São Roberto Belarmino, um doutor da Igreja Católica, totalmente desconhecido. Não tem Ibope, como se diz por aqui.
Andei pesquisando, tem umas estratégias para manter o interesse do leitor. Uma delas é ser meio palhaço, inventar lorotas, dizer besteiras engraçadas. A outra é ser um tanto polêmico, pegar o leitor pelo lado emocional. Uma das minhas crônicas que mais rendeu comentários dos leitores foi quando eu falei sobre o racismo da doutrina espírita.
Hoje, tou meio que cinza. Não sei como segurar o leitor, porque sem graça e indisposto para defender temas polêmicos. Por isso, peço: não me abandonem! Este velho escriba está cansado, pálido e aflito, procurando em vão os heróis da beleza, da bondade, da verdade e da justiça no horário eleitoral. Naquelas criaturas exóticas pedindo votos e jurando que são anjos de candura, vejo minha própria ânsia dominadora de ser admirado, ser lido e comentado, elevando a auto estima que é o elemento primário de nosso instinto de sobrevivência. Por isso que temos blogs na internet e abrimos contas nas redes sociais, para publicar fotos onde os amigos comentam: “Lindo!” “Espetacular!” “Você está cada dia mais jovem!”
Alguém já disse que as redes sociais são o paraíso dos bajuladores. Conheço um rapaz que todo dia, pela manhã, posta uma flor branca, dedicada ao chefe. “Para o senhor, para dar sorte no seu dia”, escreve o desavergonhado puxa-saco. Entretanto, isso já vem de longe. O chaleirismo é uma arte praticada por grandes figuras da História, com a mesma cara-de-pau dos aduladores comuns. Algumas vezes, acertaram no elogio. O grande músico Mozart disse sobre o jovem Beethoven: “Esse rapaz é um assombro. Prestem atenção a ele, pois ainda fará com que o mundo fale a seu respeito por toda a eternidade”. Alexandre Dumas: “Depois de Deus, Shakespeare foi quem mais criou”. É no círculo familiar onde os elogios beiram às raias do sacrilégio. Jane, a irmão de Franklin, atingiu o extremo de intensidade bajulatória quando escreveu: “Não é sacrilégio comparar meu irmão ao bendito Salvador”.
Afinal, essa crônica tem a pretensão de marcar o Dia Nacional do Bajulador, na esperança de receber algum comentário elogioso, ou pelo menos o silêncio respeitoso. Todo homem ou mulher tem sua virtude particular. Sem ser adepto de queimar incenso ou gastar vela com santo ordinário, ando seguindo essa filosofia do bem viver, de procurar virtudes escondidas naquele patife de primeira. Sem, no entanto, seguir a plebe rude nas suas caminhadas e carreatas atrás dos seus candidatos. Esse povo aplaude sem saber o que está aplaudindo.