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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Não caiu a ficha


Pode ser chamado de intertextualidade, colagem literária ou o que seja. Trata-se de uma técnica de redação que eu gosto de praticar para o progresso de minha criatividade, mas que deve ser levado em conta como uma brincadeira, um joguinho de palavras, um lance literário que deve ser aceito nos seus devidos termos, enquanto arte. Consiste em você pegar um monte de palavras, até sem nexo entre si, para formar um texto. Por exemplo, outro dia aproveitei o catálogo de uma editora gaúcha, a L&PM, e montei uma redação com os títulos dos livros publicados. A editora até gostou da ideia, mandou mensagem agradecendo.
Semana passada, sem assunto para uma crônica, abri aleatoriamente o Dicionário de Ideias Afins. Caiu na palavra-chave “sofrimento”. Pesquei todas os substantivos, verbos e adjetivos relacionados e montei um texto com essa série de palavras afins. Saiu um chororô, lamúria total.
No final, dei a chave para o entendimento da brincadeira, mas meus leitores não entenderam, ou pelo menos alguns deles. Amiga minha perguntou porque eu estava tão triste, acabrunhado e perturbado. As amizades sinceras têm esses cuidados. Para ela, não se tratava de uma composição lúdica. Seria pedido de socorro de um sujeito encalacrado em alguma ilha de solidão e depressão. Não caiu a ficha, talvez por inabilidade minha.
Portanto, senhoras e senhores leitores da Toca, meus três ou quatro fiéis companheiros dessas minhas viagens, não estou prostrado, abatido, abandonado, ressabiado, desamparado, magoado, apagado, desolado, pesaroso e oprimido. Só um tanto ou quanto liso. “Homem só presta bêbado, liso e apaixonado”, diz a regra da fuleiragem, refletindo de certa forma o sentido absurdo da vida. O velho Leão é apenas uma sombra do que outrora foi, por isso não fica mais bêbado nem apaixonado. Só economicamente quebrado. E isso não é colagem.
Chega-se a uma certa idade em que a gente renuncia ao vínculo emocional. Despertamos para o fim da vida estranhamente sóbrios diante das verdades inalienáveis. Assunto para uma crônica mais séria, essa sim, refletindo minhas futilidades filosóficas.


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