Inês
Etiene Romeu em julgamento em 1972, e como historiadora em 1999.
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Neste 31 de março, 50 anos do
golpe militar, vai aqui uma breve história de heroísmo, superação e coragem. “Inês
Etiene Romeu era bancária em Belo Horizonte, sindicalista e integrante do
movimento estudantil. Quando os militares fecharam as instituições democráticas
em 1964, ela entrou para o quadro da Vanguarda Armada Revolucionária –
VAR-Palmares. Foi presa em 1971, sob a acusação de ter participado do sequestro
do embaixador suíço Giovanni Bucher.
Para escapar das torturas, tentou
suicidar-se jogando-se na frente de um ônibus. Foi levada para uma casa em
Petrópolis onde permaneceu sob tortura, espancamento, choques elétricos e
estupros. Tentou o suicídio ainda por quatro vezes, sendo mantida viva por
médicos contratados pelos militares, a fim de que a tortura, os interrogatórios
e as possíveis confissões sobre organização extremista prosseguissem. A partir
de certo momento, ela foi informada de que sua tortura não era mais para
conseguir informação, pelo tempo decorrido desde sua prisão ela já era inútil
como informante, mas era apenas por sadismo.
Neste período foi obrigada a
cozinhar nua, sendo humilhada por seus carcereiros, e foi estuprada duas vezes
por um deles. Graças à ousadia da família e seus advogados, conseguiu-se
oficializar a prisão de Inês, em 7 de novembro de 1971, salvando sua vida e
tirando-a das mãos dos militares do Exército.
Após sua libertação, em 29 de
agosto de 1979 – depois de condenada à prisão perpétua, figura jurídica
existente no período ditatorial – pela Lei
da Anistia, Inês passou a dedicar-se à denúncia e esclarecimento dos
crimes ocorridos nos porões da ditadura. Última presa política a ser libertada
no Brasil, em 2009 ela recebeu o Prêmio de Direitos Humanos, na categoria
"Direito à Memória e à Verdade", outorgado pelo governo brasileiro.” (Wikipédia)
Li entrevista de Inês Etiene
Romeu no jornal O Pasquim em 1981, quando nascia minha filha única. Botei o
nome da menina de Etiene Mozart, para perpetuar a minha dinastia e homenagear
aquela mocinha que tanto ódio causou aos militares. Trinta e três anos depois,
as instituições democráticas brasileiras ainda não foram, de novo, estupradas
pela força das armas. Fomos “inimigos internos” e “forças oponentes” dentro da
nossa própria pátria por mais de vinte anos. Neste meio século do golpe,
lembrar histórias como a de Inês Etiene Romeu é uma forma de dizer não aos
crimes contra a humanidade, sejam eles cometidos em nome de Deus, do Exército
ou do Diabo.