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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Morri no ano passado, mas este ano não morro
O poeta violeiro paraibano Zé Limeira nasceu no sítio Tauá de Teixeira, em 1886, e morreu no ano de 54 do século vinte. Conhecido como o poeta do absurdo, Limeira criava versos sem nenhuma lógica aparente. Um dos famosos:
Eu cantei lá no Recife
Dentro do pronto socorro
Ganhei 500 mil réis
Comprei 500 cachorros
Morri no ano passado
Mas neste ano, não morro.
Muitos estudiosos desse violeiro e sua forma estranha de versejar escreveram teses e mais teses sobre o cantador humilde e analfabeto. A sextilha acima, muitos acham que tem a ver com o lance de nascer da própria cinza. Penso que era só imaginação fértil e necessidade urgente de rimar, sem se importar com o sentido das palavras.
Lembrei da estrofe de Limeira para este primeiro dia de 2010. O ano de 2009, quem diria, já é passado, porque o passado sempre começa no dia seguinte. Para o novo ano, tenho a chave de minha própria felicidade: continuar vivo com o resto da família, lançar três livros já prontos, receber a outorga da rádio Zumbi, produzir documentário em vídeo sobre rádios populares e organizar a banda filarmônica do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar com instrumentos doados por um mecenas de Itabaiana.
Coisas simples, mas há um trabalho por fazer. A saúde precária atrapalha. Avisei a mim mesmo que não deveria mais me meter em jornalismo no interior, que só dá prejuízo e processo na Justiça. Não ouvi meus conselhos. Também dependendo do altruísmo de terceiros, pretendo retomar a publicação mensal do Tribuna do Vale.
Por pagar as despesas mais depressa do que o dinheiro conseguia entrar, fui à falência em 2009, problema vexatório que devo evitar neste ano, sob pena de ficar sem casa para morar, que a Caixa não brinca em serviço na hora de cobrar as prestações.
Minhas mãos artríticas não deverão pegar no violão, mas terei alegria em ver os meninos do Ponto de Cultura tocando na bandinha de flauta, no conjunto de percussão e na orquestra de violões preparada pacientemente pelo Vital Alves.
Contra toda a desesperança, vamos em frente. É patético que o tal Poder Público possa ficar indiferente, sem estender a mão para uma parceria, enquanto acontece uma pequena revolução na política cultural de Itabaiana. Parece que há uma instrução explícita para não se envolver com nada que não tenha o selo oficial. Não preciso dizer mais nada. Os fatos falam melhor por si. Irrefutáveis.
Tribuna livre e abandonada
Câmara de vereadores de Itabaiana
Meus caros amigos de Itabaiana costumam participar efetivamente da vida política da cidade, pelo que se vê de comentários nos blogs. Trocando em miúdo, o povo de Itabaiana gosta de uma politicagem que é uma beleza! Quem conhece cidade do interior sabe que tudo gira em torno da Prefeitura, por isso o debate político, se é que se pode chamar assim, tem um único tema: o prefeito. Fala-se mal ou bem, mas a Prefeitura é sempre o referencial. Tem a turma do mal e a turma do bem. A do mal geralmente é a que está por baixo. O Senhor e Belzebu dividem a cidade.
O programa do partido da oposição é se apropriar da Prefeitura para “se dar bem”. O outro partido também tem o mesmo ideal, só que está na fatura, “por cima da carne seca”, como se diz por lá. Porém se consideram adversários de morte. Por uma questão de justiça com a História, devo dizer que tivemos grandes e honrados homens públicos, pessoas que tinham ideal. Hoje a política virou um espaço de gângsteres. A única coisa limpa e transparente é o vidro da janela, quando devidamente tratado. Com as exceções de praxe.
Existe um canal de manifestação da população que quase nunca é lembrado. Trata-se da “Tribuna Livre”, criada pela Lei nº 407/2003 e sancionada pelo prefeito Sebastião Tavares. Acho que a ideia foi do ex-vereador Antonio Fernandes. Desfiguraram tanto o projeto, com medo do que o povo pudesse falar na Câmara, que a Tribuna Livre ficou mais para “tribuna controlada”. Só pode falar na tribuna o diretor de entidade representativa da sociedade. O assunto a ser tratado deverá ser comunicado à Mesa da Câmara com antecedência de oito dias e será submetida à prévia aprovação dos vereadores por maioria qualificada de dois terços. Cada orador terá apenas três minutos para expor seu ponto de vista. Se a conversa não agradar aos vereadores, o Presidente da Câmara cassará a palavra do orador, “trazendo a ordem para o recinto”, conforme está escrito na lei.
Chamam isso de “tribuna livre”. Imagine uma pessoa que é confessadamente contrária ao vereador Presidente da Mesa ou integrante da oposição encaminhando requerimento solicitando o uso da tribuna. Claro que esse requerimento vai ser inviabilizado. Talvez por isso a livre manifestação do pensamento da população nunca teve guarida na tal tribuna.
O advogado Normando Reis garante que a lei da tribuna livre é inconstitucional, porque, segundo ele, “ninguém pode exercer o papel de vereador, ocupando a tribuna da Câmara, sem ter sido eleito, conforme esclarece a Constituição Federal no parágrafo único do artigo 1º, o qual afirma que ‘todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos diretamente, nos termos da Constituição”.
O homem possui direitos que devem ser defendidos contra quem os queira abolir, negar ou impedir seu exercício. Um deles é a comunicação. Não deveriam impedir o povo de falar na sua própria casa, que é a Câmara. De minha parte, semelhante a Goethe, acho que a melhor forma de governo é aquela que nos ensina a governar-nos por nós mesmos.
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Baú de putaria dando uma força ao Fabinho
Recebi mensagem do poeta e escritor Rui Vieira, de Campina Grande, autor do livro Baú de Putaria. Disse que leu e gostou do meu cordel “Biu Pacatuba, um herói do nosso tempo”, que fala da vida de um camponês de Sapé, lutador pelos direitos dos agricultores sem terra e perseguidos pelos latifundiários. Pacatuba foi o primeiro presidente das Ligas Camponesas de Sapé.
Rui quer me dar uma força, aliás, já deu. Botou o cordel debaixo do braço e foi falar com seu amigo Nelson Coelho, superintendente da União Editora. Nelson é estudioso dos conflitos agrários na várzea do Paraíba na década de 60, sendo autor do livro “A tragédia de Mari”, sobre uma batalha sangrenta entre fazendeiros e camponeses em terras marienses. Pediu a Nelson para publicar o cordel. “Ele se prontificou a publicar seu trabalho”, informou Rui.
Melhor notícia não há nesse final de ano. A cada dia que passa a gente ganha uma coisa e perde outra. Sou do tipo que gosta de contabilizar os créditos e não os débitos, como naquele comercial de banco. As coisas ruins, bota no baú dos esquecidos.
Rui Vieira está trabalhando no “Dicionário Temático da Poesia Popular Nordestina”, que já vai bem adiantado. “Gostaria de registrar seu trabalho poético na área de cordel”, me disse o putanheiro de Campina Grande. Com o perdão pela expressão chula, isso não é da gente ficar mais arreganhado do que furico de galinha na hora da postura? Ainda nem comecei direito minha vida de escrevinhador de cordel e já viro verbete de dicionário. Sem querer me comparar, lembro que o poeta cordelista Paulo Nunes Batista, que nasceu em João Pessoa em 1924, teve seus textos poéticos traduzidos até para o japonês, com seu nome citado na Grande Enciclopédia Delta Larousse. Foi ele o autor do folheto “As proezas de João Grilo”, que inspirou Ariano Suassuna para escrever a peça “A Compadecida”.
Meu compadre Rui Vieira, agradeço tua força, saudações poéticas e que 2010 seja o ano da definitiva redenção do cordel, que ainda é desvalorizado. Os elitistas nem desconfiam que a literatura de cordel tem origens eruditas, na literatura medieval dos trovadores albigens provençais, na França.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Personagens de Itabaiana: Reginaldo Marques
Estava almoçando no restaurante da rodoviária em Itabaiana com Marcos Veloso e Clévia Paz, quando fui apresentado a uma figura que imediatamente me fez sacar meu caderninho de notas para os temas mais inesperados que surgem do nada, e se encaixam na feição deste blog. No momento inaugurei uma câmera digital que comprei fiado do meu compadre Gilberto Júnior, tirando o retrato da figura. É um rapaz por nome Reginaldo Marques, agricultor ocasional, intérprete e compositor profissional, morador do Porto da Canoa, distrito de Guarita, município de Itabaiana.
Não sabia, mas fiquei sabendo que Reginaldo Marques já gravou um Long Play (os da novíssima geração nem sabem o que significa isso) e quatro CDs de músicas românticas, comumente chamadas de brega. Sua melhor lembrança: fez uma música em louvor da atriz Daniela Perez, assassinada pelo namorado, e recebeu um telefonema de agradecimento da mãe da falecida.
Nosso cantor tem sofrido muito para distribuir seu último CD, obra que contou com a participação de Mó do Acordeão, filho de Pinto do Acordeão, Glauco do “Colo de Menina” e outros cobras da música regional bregueira. O caso é que o público não aceitou o trabalho de Reginaldo. Não ouvi o dito cujo, mas soube que é ruim de correr água, desses que o sujeito recebe de graça e ainda faz cara feia. Outros simplesmente recusam, com a desculpa de que o som quebrou. Mas Reginaldo não desfalece, acredita no seu trabalho e segue conduzindo seu sonho nesse mundo de gente insensível. Para divulgar o CD, paga cinco reais aos meninos dos carrinhos de CD pirata para tocarem o disco pelas ruas. Os safados simplesmente boicotam e não tocam o disco de Reginaldo. “Sai do ar” no momento em que o cantor dá as costas. Por isso ele vive pelas ruas, emboscando os carrinhos, conferindo se o CD está sendo executado.
O artista percebeu meu interesse, procurou saber se eu era radialista. Seus olhos brilhavam enquanto falava da carreira artística. Quando perguntei se era agricultor, vi seu semblante envergonhado. Disse que nas horas vagas cultivava uma terrinha em Pororoca de Guarita, mas sua profissão é cantor e compositor. Nosso artista não é filiado à Ordem dos Músicos nem ao famigerado Ecad, que arrecada direitos autorais. Tem carteirinha, que fez questão de mostrar, da Sociedade Brasileira de Administração e Proteção de Direitos Intelectuais, entidade da qual também jamais ouvi falar.
Portanto, quem quiser ouvir o CD de Reginaldo Marques, é só entrar em contato que eu sou o seu mais novo divulgador. Não entro no mérito da qualidade das músicas, que nem cheguei a escutar, mas admiro as pessoas que sustentam um inabalável propósito, por ele vivem e com ele morrem. Pode ser um produto vagabundo, sem qualidade artística, mas agrega os valores da coragem, tenacidade e fé.
domingo, 27 de dezembro de 2009
Minha galega dos olhos azuis
Não mandei o buquê de flores tradicional nem qualquer outro presente no dia 27 de dezembro, aniversário de minha mãe. Nunca escrevi uma carta para minha mãe, nem ao menos dei um abraço no dia do aniversário. Seja como for, ela sabe o tamanho do afeto de cada filho, porque mãe tem essas coisas de pressentir as emoções das crias. Suponho que seja uma tática de milhões de anos no jogo perigoso da preservação da espécie.
Dona Iraci provavelmente não vai ler essa carta aberta porque não manja de computadores. Nunca tocou em um teclado de PC. Foi mestra rudimentar, como se designava antigamente, professora primária nas escolas de alto nível que existiam em Itabaiana, de onde saíram crânios iguais a Zé Lins do Rego e Abelardo Jurema. Minha mãe foi aluna do legendário professor Maciel, um paraplégico cuja escola marcou época na educação daqueles tempos na Paraíba.
No primário, minha professora pediu que escrevêssemos uma carta para um herói ou uma pessoa que admirássemos. Talvez secretamente gostaria de receber uma cartinha de um aluno bajulador. Escrevi uma carta para minha galega dos olhos azuis, mas essa não conta porque não cheguei a entregar a correspondência.
Lamento não ter entregado a carta. Achei que estava sendo meio ridículo. Os babacas colegas diziam que quem demonstrasse afeto pela mãe era boiola. Adolescente que anda com pai ou mãe é ainda hoje estigmatizado. Eu tinha apenas doze anos. Na verdade, acho que minha mãe tem uma personalidade muito prática. Ela sabe das coisas, que a gente nem imagina. Mesmo um filho não consegue jamais agradecer à sua mãe o suficiente. Ela sempre vai entender o que a gente quer dizer, e o que não quer também.
Nunca fui chamado de filhinho da mamãe, mas sei que não há nada de errado em ser um filhinho da mamãe. Mãe: obrigado por ser minha mãe e obrigado por ser bonita.
sábado, 26 de dezembro de 2009
Tempo para o imprevisto
Até 1993, correspondi-me com um poeta carioca chamado Ricardo Alfaya. Na época, eu editava um fanzine de poesia chamado “Alquimia do Verbo”, onde Alfaya publicou alguns dos seus trabalhos de altíssimo nível. Depois, parei de receber cartas do poeta, perdemos o contato.
A última missiva de Ricardo Alfaya tem a data de 27 de dezembro de 1993. Ele fala das indefectíveis metas que a gente se impõe todo final de ano. “Largar o cigarro” é um item infalível nesse tipo de lista, para os fumantes, é obvio. Alfaya disse que todo ano faz sua lista, que é imensa, para no fim cumprir apenas um objetivo que nem consta no rol de promessas de fim de ano, que é cair na gandaia, estar numa boa, pintar o sete e desenhar o oito, mandar brasa, como se dizia antigamente.
Se aplicarmos critérios rígidos, quase ninguém cumpre promessa de fim de ano. Nem os metódicos, que esses já vivem sob controle de si mesmo o ano todo.
Nessa carta de fim de ano e fim de papo, Ricardo tem uma sacada legal. Disse que pretendia apenas reservar sempre um tempo par o imprevisto, “pois nada mais previsível de acontecer do que o imprevisto”. É isso. Reserve sua agenda de 2010 para o imprevisto.
J. Cardias é outro poeta que frequentava o meu “Alquimia do Verbo”. Também carioca, mandou-me o livro “10 Poemas Sentenciosos.” Neste fim de ano, brindo meus seis leitores com micro-poemas, síntese romântica e lúdica da arte de J. Cardias, espécie de haikai:
Palha e aço.
PIEROT.
Palhaço e dor.
Sacis despertam
quem crê em lendas.
Poetas, velhos ciganos
tecem tramas.
Quer viver a emoção?
adolesce o coração
e deixa ninar a razão!
No mais, termino com o fecho da carta do poeta Ricardo Alfaya: “Tudo de bom pra você, um bom ano novo. Qualquer hora lhe envio uns poemas. Muita arte & poesia.”
Grande abraço.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Uma crônica de Natal em agosto
Em agosto de 1979 circulou em Itabaiana o Jornal Alvorada, editado por Fábio Mozart, auxiliado por Arnaldo Barbalho e Joacir Avelino, contando ainda com a colaboração de Sósthenes Costa, Antonio de Pádua e Pedro Lourenço. Aquela edição trouxe uma crônica assinada por mim, com o título de “Canção de ninar em terras nordestinas”. Resumo da crônica:
“Dorme menino, do meu coração. Dormir é o meio prático de esquecer o rigor cruel da fome. Dorme, menino dos meus cuidados, que o seu pai se viu obrigado a sair da lei e não volta tão cedo. Dorme, menino, que a hipocrisia dos homens é mais oca que tua barriguinha comovida pela maldade atroz do bicho-papão. Dorme, filhinho, que seu pai foi sentar praça na polícia, desarmado e desabastecido, lutar contra o descontentamento geral.
Xô, pavão, de cima do telhado, que o progresso tá chegando nessa terrinha, nesse fim de mundo, nesse seu xodó vestido de galho seco. Mas dorme, filhinho, do meu agreste coração, de minhas mandingas, dos meus pirões de farinha. Dorme, filhinho, dono dos meus cacarecos, dono do maracá de cascavel, de minha faca e de minha camisa de algodão grosso. Dorme que eu quero pegar uma enxada e puxar cobras para os pés disformes, pegar o pito e puxar fumaça para os brônquios bloqueados de terra, poeira fina de massapé que pertence ao patrão.
Dorme que seu pai foi morrer na guerra deles, foi levantar fardos pela vida afora, foi derramar suor e verter lágrimas de estupidez.
Aproveita este acalanto e esquece seu pai que foi para o sul, onde o chamam de forte e bravo, onde transformam nossa fome em folclore, e transformam seu pai esperançoso em um ente parado, desnorteado na confusão, na angústia de tocar funeral em harpa de arame farpado. Um animal parado na multidão, entre figuras proeminentes, parlamentares, governadores, heróis, salvadores da pátria, cretinos de televisão, tomadores de uísque.
Dorme e segura a vida em tuas mãozinhas secas e reza o Pai-Nosso e espera em Padre Cícero. Dorme, filhinho. Lembra do presente de Papai Noel que você nunca viu? Também não trouxeram progresso pra nós. Dorme. Para sempre... “
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Saudade, Natal e medo
F. Mozart
O Paraíba é o rio
Que ao desaguar na foz
Forma o oceano atlântico
Da alma de todos nós.
Itabaiana, saudade
Da tradição citadina
Nas jornadas de Natal
No pastoril de Rubina.
Uma criança nasceu
Sem nenhum plano de vida;
Darei sentido ao Natal
Oferecendo guarida?
Guarida na minha casa,
Abrindo incertos destinos,
Fugindo do medo insano
Que temos desses meninos.
“Um país que tem medo de suas crianças, realmente enlouqueceu.” (Fábio Mozart, na peça “Cantiga de Ninar na Rua”)
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Natal do canalha baixinho
Havia a mocinha, o patrão, a tia do patrão e o canalha baixinho. Era dia de vestibular. E dia de trabalho na empresa de construção. O patrão viajou para Brasília em busca de contratos com deputados e senadores. O canalha baixinho ficou tomando conta, fiel e competente como sempre. A mocinha precisava fazer vestibular naquele dia. O baixinho negou-se a abonar o dia para a mocinha fazer o vestibular. Ameaça de demissão.
Chorando, a mocinha procurou a tia do patrão para pedir “pelo amor de Deus” que a deixassem fazer o vestibular, sonho de mocinha pobre e estudiosa. A tia do patrão desconversou, disse que não era possível falar com ele, que tivesse paciência...
No fim do expediente, o canalha baixinho pegou seu carrinho e foi para casa, no subúrbio. A mocinha carregava aquela dor de não poder fazer uma coisa com a qual havia sonhado durante muito tempo. A tia do patrão foi ver a novela.
A mocinha atravessou a cidade no ônibus coletivo, assombrada com os seres humanos e com sua capacidade de crueldade. Em casa, o pai é um homem de setenta anos, doente. A mãe sofre de asma. Apoiaram o canalha baixinho. Precisavam do emprego da mocinha para sobreviver.
Na sexta-feira, o canalha baixinho pegou a família e foi para a igreja rezar, na missa de Natal. Baixinho como era, o canalha ficou quase invisível no meio de tantos fantasmas desempenhando seus papéis na igreja lotada.
Uma postura de derrota vestiu a mocinha. Secretamente, não conseguia deixar de sentir uma parcela de alívio por ter perdido o vestibular: não poderia estudar mesmo.
Chorando, a mocinha procurou a tia do patrão para pedir “pelo amor de Deus” que a deixassem fazer o vestibular, sonho de mocinha pobre e estudiosa. A tia do patrão desconversou, disse que não era possível falar com ele, que tivesse paciência...
No fim do expediente, o canalha baixinho pegou seu carrinho e foi para casa, no subúrbio. A mocinha carregava aquela dor de não poder fazer uma coisa com a qual havia sonhado durante muito tempo. A tia do patrão foi ver a novela.
A mocinha atravessou a cidade no ônibus coletivo, assombrada com os seres humanos e com sua capacidade de crueldade. Em casa, o pai é um homem de setenta anos, doente. A mãe sofre de asma. Apoiaram o canalha baixinho. Precisavam do emprego da mocinha para sobreviver.
Na sexta-feira, o canalha baixinho pegou a família e foi para a igreja rezar, na missa de Natal. Baixinho como era, o canalha ficou quase invisível no meio de tantos fantasmas desempenhando seus papéis na igreja lotada.
Uma postura de derrota vestiu a mocinha. Secretamente, não conseguia deixar de sentir uma parcela de alívio por ter perdido o vestibular: não poderia estudar mesmo.
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Livre-se do Papai Noel
Tem gente que odeia o Natal. É fome na terra e foguetes no céu, conforme os incrédulos e livre pensadores. Também reclamam da quantidade enorme de hipocrisia destilada pela humanidade nessa época. A sociedade de consumo coloca no mesmo saco o nascimento de um Salvador do mundo com pão, queijo, peru, castanha, bebidas, família reunida, criança correndo pra lá e pra cá, presentes idiotas. No Natal eu perco a sensibilidade.
E o tal do Papai Noel? Quando meus filhos eram garotos, eu fazia um esforço enorme pra comprar umas coisinhas pra eles no Natal, e quem levava o crédito era o filho da puta do Noel! Esse cara consegue ser mais lembrado do que Jesus Cristo no Natal, mas não é de graça. Ele é o símbolo da Coca Cola. É ele quem diz como você vai gastar a porcaria do seu décimo terceiro salário.
O maior comunista que pisou na terra, Jesus Cristo, serve de emblema para a orgia de consumo, com aquelas luzinhas idiotas e os velhinhos de barba branca com criancinhas no colo. Alguém disse que aquilo parece mais uma putaria pré-pedofílica gigante.
Tem escrotagem maior do que forçar as pobres mocinhas vendedoras de lojas a usar aqueles gorrinhos do papai noel, quentes como o diabo no nosso clima tórrido de dezembro? E haja mamãe noel, cachorro noel, gato noel, enfim, uma zorra total de mal gosto e colonialismo cultural.
O “bom velhinho” filho da puta ainda obriga os pobres dos carteiros a trabalhos extras, entregando porcarias de presentes comprados nas lojas de 1,99 para crianças famintas das periferias. E o tio que resolve se fantasiar de papai noel? Tem coisa mais ridícula?
Uma cidadezinha da Alemanha resolveu proibir papai noel. A campanha visa promover a figura de São Nicolau e resgatar tradições natalinas. A ideia é incentivar os cidadãos a substituir o "bom velhinho" pela figura histórica de São Nicolau. "O Papai Noel é um personagem artificial" argumenta o prefeito. "Ele não lembra em nada São Nicolau, que ajudava pessoas carentes e era um amigo das crianças", explica. Fluorn-Winzeln é um lugarejo com pouco mais de 3 mil habitantes localizado às margens da Floresta Negra. A região é uma "zona livre de Papai Noel".
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
O macaco ta certo
“Um homem vive só quando não tem muito com quem dividir seu pensamento, a única coisa que realmente é de seu” (Luiz Augusto Crispim)
O blog do Fábio Mozart completou sete mil acessos em menos de um ano. Isso é quase um vazio demográfico digital diante dos milhões de acessos que muitos conseguem por dia, mas é muito significativo para mim, um sujeito que escreve um livro e passa mais de dois anos para desovar mil exemplares, mesmo na base da cortesia. Os visitantes do meu blog são amigos daqui e de todo o Brasil, fiéis compadres e comadres que me dão a honra de sua leitura.
Meus leitores possuem alto grau de sofisticação, um público seleto e gabaritado igual a Quelyno Souza, de João Pessoa, que escreveu: “Se Itabaiana já era bem falada, agora com o novo livro de Fábio Mozart até o Ministro das Comunicações vai querer o seu exemplar”, referindo-se à futura edição do livro “A Voz de Itabaiana e outras vozes”. Não esquecerei da galera na festa de lançamento. O professor Benjamim, da Universidade Estadual da Paraíba, também expressa o regozijo pela aprovação do projeto do nosso livro pelo Ministério da Cultura. “E viva Itabaiana, e viva o Cantiga de Ninar!”, exclama o compadre de Campina Grande.
Agradeço ao amigo Marconi Xavier, de Itabaiana, que lincou meu blog no seu “Itabaiana Hoje”, com um relevante número de leitores interessados no assunto base de nosso espaço cibernético que é Itabaiana. Isso fidelizou a galera de Itabaiana que mora em outras cidades. Esses leitores fiéis geram links, que aumenta nosso ranqueamento nos sites de busca e trazem mais visitantes novos. Esse é o circuito dos blogs de sucesso na internet. Nosso conteúdo é particularizado, mas de qualidade, modéstia à parte que a modéstia é uma forma de mentira.
Tenho também repercutido meus escritos diários nos sites do jornalista Wellington Costa, de Cabedelo (www.soltandooverbo.com.br), professor Josa de Mari (www.professorjosa.blogspot.com) e Mari Fuxico, também de Mari, além das listas de discussão das quais participo. Juntando tudo, calculo que tenho cerca de 2 mil leitores para cada post, mesmo que não acessem meu blog.
Dá um certo trabalho escrever diariamente, mas é prazeroso conversar com pessoas que lêem e admiram o que você escreve, como Sandra Canassi, de Aparecida de Goiânia, Goiás; Lívia de La Rosa, de Londrina/PR; Glauber Veríssimo de São Paulo; o músico Andriz Petson, de Salvador, Bahia; Atiz de São Paulo e até um símio, um macaco chimpanzé que, além de pular de galho em galho, é também escritor, do Rio de Janeiro. Parodiando um velho bordão humorístico da TV dos anos 80, “o macaco ta certo”.
domingo, 20 de dezembro de 2009
As simpatias para 2010
Saúde
Misture uma xícara de chá de merda de morcego com uma de chá de raspa de chifre de corno manso. Ferva um litro de água e despeje a mistura no mesmo recipiente, mexendo bastante. Pingue 5 gotas de perfume de rosas, espere esfriar e passe o conteúdo para um penico onde tenha mijado uma donzela. Depois, jogue a mistura do pescoço para baixo e mentalize que as energias ruins estão saindo do seu corpo e entrando no couro daquele político que você odeia.
Conseguir algo difícil
Acenda 1 incenso de alfazema na sala da sua casa, com cuidado para não misturar com o cheiro de maconha que vem do quarto do seu cunhado. Depois que ele queimar, embrulhe as cinzas em um pedaço de jornal com a foto do Arruda, Governador de Brasília, aquele da propina na meia. Deixe esse embrulho embaixo da sua cama por 3 noites e mentalize o que você deseja, durante esse período, ao se deitar. Após a terceira noite, jogue o embrulho no lixo junto com essa dica.
Ter mais dinheiro
Comemore o reveillon usando muitas bijuterias de ouro falso, prata falsificada e missangas do Paraguai. Mas, para que elas tragam o sucesso para você, é preciso captar a energia do Sol, portanto mostre para o olho do Sol aquele seu olho que não vê, bem cedinho ao raiar do dia, com cuidado para não levar bicadas da galinha. No último domingo do ano, fique exposta ao Sol por uma hora, nua e com as bijuterias. Se não ganhar dinheiro, vai ficar com um lindo bronzeado.
Sorte no amor ou resolver problemas de relacionamento
Guarde uma calcinha sua junto com uma cueca dele, enrolando-as e amarrando-as com uma fita vermelha de um metro de comprimento. Arremate-as com sete nós cegos e guarde numa gaveta ou caixa de madeira. A calcinha deve ser virgem, você não. A cueca deve ser da marca usada pelo deputado de Brasília que guardava propina na ceroula.
sábado, 19 de dezembro de 2009
2009 foi 10!
O ano que está se findando foi legal pra mim. Afora os lances negativos, que esses a gente esquece, bota na conta do equilíbrio natural das coisas. Algumas covardias, dois ou três negócios mal feitos, incompreensões e maldades de certas pessoas. Tudo bem, o mundo necessita de mais dois mil anos para ser coerente e honesto. Por exemplo: um sujeito de moral fossilizada está me processando por difamação e quer um troco pela sua honra.
Winston Churchill, estadista britânico, afirmou que “o sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo”. Assim prossigo, sempre com a consciência de libertário, mas sabendo das limitações de minha prisão porque ninguém é mais escravo do que aquele que se considera livre sem o ser, conforme Goethe, também pensador e escritor alemão.
Mas 2009 foi um ano positivo. Depois de quatro anos de luta, consegui instalar o Ponto de Cultura em Itabaiana. Minha filha única terminou o curso de Relações Públicas na Universidade Federal da Paraíba, consegui aprovar projeto para edição de um livro pelo Ministério da Cultura e realizei o tal sonho da casa própria. Comprei uma casinha financiada pela Caixa Econômica Federal, com a ligeira impressão de que esse sonho vai virar pesadelo no futuro devido aos juros altos que chegam às raias da extorsão. No fim, o saldo devedor está sempre mais alto do que as prestações pagas.
Para terminar o ano, a Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares vai produzir um documentário sobre as mulheres no rádio popular, com roteiro e direção deste amigo de vocês. O projeto foi aprovado pela Fundação de Cultura de João Pessoa.
Não foi um ano excepcional, mas positivo. A crise financeira internacional não me atingiu porque cachorro morto não pega calazar. Meu Clube Náutico Capibaribe foi rebaixado para a segunda divisão, mas em compensação o Sport também morreu agarrado ao pescoço do timbu. Para não perder de todo, o Treze foi campeão da Taça Paraíba.
O balanço é favorável. Espero 2010 com a esperança e o ardor das viúvas prontas para aliviar o luto e o resto.
Por falar em luto, morreu Sivuca. Não o sanfoneiro famoso, mas outro Sivuca de Itabaiana, meu amigo José Cardoso Rodrigues, filho de João do Bode, o pioneiro no serviço de alto-falante naquela terra. O livro que irei lançar em 2010, “A Voz de Itabaiana e outras vozes”, começa com uma crônica onde falo de Sivuca, do seu pai e sua família de comunicadores. Sivuca era um locutor de voz macia e educada. Gostava de tomar umas biritas, depois converteu-se ao protestantismo. Tanta gente ruim dando sopa e a morte acha de levar Sivuca, um homem de bem. Deus me perdoe, que eu sou um ateu consciencioso.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
É de lascar o rabo da baiana!
Lamentavelmente, o cara que se mete nessa onda de voluntariado é considerado um bundão e siliconado. O negócio é ser pilantra, viver atrelado a cargos, às saias, às barras de calças de prefeitos, deputados e outros putos do poder. O bom é viver nos gabinetes, incensando ideologias obscuras e outros espectros alimentadores da miséria humana. Solidariedade, ações proativas e outras besteiras não valem a pena. E viva a desigualdade, o empobrecimento da língua, da cultura, e de tudo aquilo que conduz o homem ao naniquismo, à degradação, à alienação.
Os tais órgãos oficiais são só discurso, cartaz, propaganda. Na prática, a burocracia e outras práticas nefastas afastam as boas ações. Desestimulam e desfavorecem a vida, a dignidade e o respeito pelo ser humano.
Não estou em crise hemorroidária, só quero desabafar nesta merda de blog. Lamentar que o Banco do Brasil rejeitou um projeto de telecentro para o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar porque no Estatuto está escrito que a diretoria não será remunerada, mas poderia eventualmente receber ressarcimento por despesas efetivamente feitas. Quer dizer: você tem que ser voluntário e pagar para isso. É ou não é de lascar?
O Banco do Brasil promoveu um autêntico massacre contra funcionários públicos do Estado da Paraíba. Tudo bem, está dentro dos padrões do tal mercado financeiro. Deixou de ser um banco social há muito tempo. Para doar computadores velhos, carcaças inservíveis, é uma burocracia desgraçada. E dizem que querem promover a inclusão digital.
O governo federal disse que doaria 120 mil computadores usados neste ano a populações carentes do País e nas periferias das grandes cidades. Trata-se do programa Computadores para Inclusão. O projeto faz parte do plano de inclusão digital do governo federal, que busca promover a inclusão social e combater a pobreza e a violência por meio da informática. Na Paraíba, apenas João Pessoa e Campina Grande receberam computadores usados do Banco do Brasil. Agora eu sei porque o projeto não colou no interior do Estado.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Em 2010, seremos todos felizes
Papai Noel de ressaca, depois de tomar todas e ser assaltado por um bando de trombadinhas
Não quebramos em 2009, e vamos crescer em 2010, segundo previsão da economista Conceição Tavares. A profecia do fim do mundo é para 2012, portanto, ano que vem não vamos nos preocupar com isso. Se bem que acho que só escolheram o Brasil para a Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016 porque sabiam que o mundo já não mais existirá nessas datas. Sacanagem do primeiro mundo.
Por falar em crise, as engrenagens do capitalismo selvagem e sádico apertam cada vez mais os pobres aposentados, mais de 30 mil crianças morrem por dia no mundo, como resultado de doenças causadas pela subnutrição; um bilhão de pessoas vivem abaixo do nível da miséria absoluta, e vai por aí. Não dá pra festejar o Natal sabendo que pessoas anônimas passam fome, não há pão, não há segurança nem saúde, habitação é um sonho distante, as pessoas estão embrutecidas, os jovens perdidos na alienação e nas drogas.
Enquanto isso, na terrinha, meia dúzia de políticos ficam criando factóides em seus mundinhos de podres poderes para saber se Cícero ama Cássio, se Cássio vai com Coutinho, se Coutinho entorna o caldo de Maranhão e se Ney Suassuna vai passar com seu chapeuzinho de Papai Noel e o saquinho cheio de grana para os lobos famintos.
A vantagem de ser pobre é poder receber caridade, já dizia aquele cara cínico. Nessa época, acontecem as campanhas tipo “Natal sem fome”, uma síntese da hipocrisia. A moda é responder às cartas que os moleques mandam para o “Papai Noel” do Correio. Recebi um apelo para ir ao Correio e comprar presentinho para um desses moleques. Diz que este ano estão pedindo muito material escolar. Sacanagem! Adultos escrevem essas cartas no nome da molecada. Menino nenhum pede material escolar como presente de Natal. A maioria pediria ao Papai Noel que explodisse a escola.
Sou um cara meio insensível como quase todo mundo, preguiçoso e sem grana para esses lances de caridade. Mas este ano vou ao Correio pegar uma carta e entrar no jogo do “Papai Noel” postal. Se sair pedido de material escolar, vou me dar o direito de discordar e compro uma bola, dessas vagabundas de cinco reais que estouram nos primeiros chutes. Melhor que decepcionar o moleque com um caderno ou livro didático.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
PREVISÕES PARA 2010
Fumando no cachimbo do Cacique Cobra Criada, a Mãe Dindin fez várias previsões para 2010. Junto com o Caboclo Mamador, a trinca de videntes achou pouco e chamou o numerólogo Um, Dois Três da Silva Quatro e o pai de santo Joca de Obaluaê para concluir o seguinte:
1) Dona Dida vai comer a canjica de São João junto com Antonio Carlos e Maranhão, fumando o cachimbo da paz, que não é o do Cacique Cobra Criada, esteja claro!
2) Zé Cobal vai se converter ao evangelho segundo Pastor Ronaldo e vai promover sessões de descarrego na Câmara Municipal.
3) Souza é eleito prefeito de Campo Grande.
4) Dema recebe as bênçãos de Oxossi e se candidata a candidato a prefeito, com o apoio de Lourenço do Jornal e do Partido dos Trabalhadores Informais (PTI).
5) Zé do Curtume recebe Pomba Gira na Câmara e declama poesia em louvor a dona Dida.
6) Doutor Pedro do Funrurá toma banho de ervas com Zezinho da Goméia para se ver livre da urucubaca e passar a ser reconhecido por dona Dida como um bom sucessor.
7) Um dos rapazes alegres do “Lutadores do Vale” tira licença maternidade. Termina nascendo um jacu.
8) As rádios de Itabaiana entram em cadeia para cobrir o carnaval, tendo como âncora a difusora “A Voz de Itabaiana”, e Raminho do Bode como locutor oficial. A Difusora Canaã não participa do pool e só toca música de Mara Maravilha durante o carnaval.
9) De acordo com a posição dos corpos celestes, famoso cozinheiro assume seu lado mulher e passa a se chamar Luciana Dart.
10) A festa da Conceição é abrilhantada pelos conjuntos “Tonico e Tinoco”, “Jararaca e Ratinho” e “Trio Nordestino”.
11) Elias da Banca recebe diploma de melhor gerente de bichos da Paróquia, e é reconhecido como o rei da contravenção, recebendo a medalha das mãos do deputado João Gonçalves, conhecido pela alcunha de João Caixão, ele também um dos maiores bicheiros da Paraíba.
12) O deputado Manoel Júnior vai morar em Itabaiana, vizinho de dona Dida, com quem faz parceria para eleger Sinval como deputado. O filho da prefeita tem tantos votos que a sobra ainda elege mais três deputados, dois vereadores, um síndico de prédio e quatro conselheiros tutelares.
13) Uma moça de Campo Grande, eleitora de Souza, perde o cabaço, mas, para azar de todos, termina achando.
14) Antonio Carlos e Maranhão visitam o Hospital Regional de Itabaiana e elogiam o trabalho de Graça Duré na saúde.
15) A ponte finalmente é aberta ao tráfego. O primeiro carro a transitar pela ponte é um fusca lilás dirigido por conhecido político local.
16) Torcedores gays do Flamengo fundam a torcida “Flagay”.
17) Torcedores bunda-mole do Flamengo fundam a torcida “Flacidez”.
18) Torcedores inimigos de Cássio fundam a torcida “Flacássio”.
19) Torcedores inimigos do Flamengo fundam a torcida “Flagelado”.
20) Jessier Quirino é eleito o morador mais simpático e popular de Itabaiana.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Chá de camomila na veia
O famoso médico Dráuzio Varella disse que de médico e louco todo mundo tem um pouco. Por isso, muita gente não resiste à tentação de receitar um remedinho. É remédio natural, um comprimidinho para dor ou azia, o medicamento que a vizinha tomou quando caiu de cama com gripe, ou aquele famoso que se não fizer bem, mal não faz.
Em Itabaiana, um rapaz foi trabalhar de atendente de farmácia, tomou gosto pelas bulas e comprimidos, vestiu uma roupa branca e passou a receitar para os matutos nos dias de feira. Essa figura é quase normal, a não ser por raros acessos de insanidade. Adora se passar por médico. O Conselho Regional de Medicina nunca incomodou nosso “médico”. Seus “colegas” de profissão levam na esportiva a estranha concorrência. Virou folclore.
De remédio e receita, me chega a frase genial do cronista Marcos Tavares: “a vida vem sem bula. Por isso às vezes a gente toma a dose errada”. Vendo o “doutor” auscultando seus pacientes na maior seriedade, as pessoas acostumadas com essa prática, penso na qualidade de vida do interior. As sociedades dos pequenos lugarejos não afastam seus loucos, excluindo-os do trabalho, da escola e da convivência familiar. A loucura sempre fez e fará parte da vida humana, sendo uma propriedade desta. Os cidadãos do interior compreendem isso e sorriem condescendentes quando seus doidos passam apressados em busca de seus delírios.
A maior do “doutor” foi receitar chá de camomila na veia para um senhor que se queixava de insônia. O poeta Jessier Quirino conta que o matuto perguntou ao compadre: “Maracujá é bom pra dormir?”, no que o outro respondeu: “Eu prefiro uma rede”.
O “doutor” raizeiro, que não tem nada de louco, é outra figura folclórica do interior. Canseira, intiriça, tosse braba, difurço, sarna, sangue no fundo, doença do mundo e mordedura de cobra são algumas doenças tratadas pelo Doutor Raiz.
A maioria dos estudantes de medicina saem de famílias bem situadas. Recusam-se a trabalhar no interior quando se formam nas faculdades pagas com dinheiro público. Ninguém quer sair da capital para atender no posto médico da prefeitura nos lugares mais distantes. Queixam-se do isolamento afetivo da família, da baixa qualidade técnica dos equipamentos, falta de condições de trabalho e remuneração insuficiente.
Portanto, nada de perseguir os raizeiros, curiosos, parteiras e “médicos” malucos. Na minha terra tem um doutor raiz por nome Pedro Zé, raizeiro bom da peste, que fabrica a autêntica garrafada “Fortalecimento do ser humano”. É conhecida como Viagra do mato. Ele diz que morre e não revela a fórmula. “Se falar, perco o mistério e a clientela”, diz Pedro Zé. Adianta que contém catuaba, marapuama, nó de cachorro, pau de resposta, jucá e outras raízes.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Natal elevado à quarta potência
Em uma noite de dezembro de 1987, um corpo luminoso cortou os céus da serra do Sino, riscando o vale do Paraíba em direção às terras ricas do Alagamar. Agricultores que conversavam nos terreiros da serra do Pirauá, planejando ocupar as outrora fecundas e produtivas fazendas, viram perfeitamente o astro, ou disco voador. A maioria achou que era a estrela cadente. Fingiram que não sentiram a forte sensação de entrar em um universo paralelo, saindo daquele mundo cotidiano de agruras, de falta de feijão e farinha. Retomaram a conversa em algum ponto do passado, porque o corpo luminoso deixou a impressão de hipnose, levou aquelas cabeças broncas a um mundo borbulhante de novidades e beleza nunca experimentada. Sabiam todos que não havia explicação, mas no íntimo sentiam que outro universo fez contato.
No saguão do hospital, naquela hora, dona Joaninha procurava força e sabedoria necessária para enfrentar uma situação de dor e desalento. Seu Cipriano, marido de dona Joaninha, tinha medos iguais. No entanto, fazia gestos mansos para não assustar a mulher ou confundir ainda mais aquele ser tão frágil. Falava baixinho. Bateu o pó das estradas a vida toda, vendendo mangaio nas feiras. Nada arrumou de seu, a não ser o respeito da esposa e a esperança de ser pai. E era naquela hora mesmo que estava prestes a ser pai. A repercussão disso na vida pessoal daquele casal pobre já era potencialmente devastadora. Não tinham casa, nem esperança de arrumar alimento para o rebento que estava às vésperas de vir ao mundo. Moravam de favor em um quartinho no subúrbio.
Homens de pouca fé rezaram quando passou o corpo luminoso. Seu Cipriano, rapaz do interior e muito devoto, rezou com a intimidade dos que conhecem os poderes infinitos da Natureza. Vagou sem rumo certo até a porta do hospital, quando passou a estrela. Dali em diante o lume o orientou. Os astros não são guias errantes. Eles apontam o caminho para quem sabe ler sua orientação de outras paragens. Seu Cipriano viu aquela centelha e soube no mesmo instante que o milagre visitaria aquelas vidas severinas.
Dona Joaninha entrou em trabalhos de parto à meia noite. Apresentava o rosto resplandescente. Passou o medo e a dor. E então veio a surpresa para o médico, enfermeira e os pais: nasceram quatro bebês. Chegaram como se viessem num asteróide que gravita nos espaços interestelares. Nessa noite mesmo, toda a cidadezinha soube do fenômeno. Sentado no saguão, seu Cipriano começou a pensar a respeito da vida, em como ela pode parecer tão sem lógica, tão malvada para pessoas carentes como ele e sua família. Nem percebeu que era personagem de uma histórica grandiosa, era pai de quadrigêmeos, nascidos em perfeitas condições de saúde. Aos poucos, recebendo as pessoas que visitavam os rebentos, ele foi tendo uma espécie de compreensão psíquica no cérebro, extraindo algo de si mesmo que ele não esperava, não sabia que era capaz. E lembrou da estrela.
E então saiu para a rua, caminhando em direção das luzes fortes que iluminavam o grande pátio da estação de trens. Na contraluz, aquela figura esguia lembrou Carlitos nos finais das histórias nos filmes mudos.
Os parágrafos acima escrevi como prólogo de um conto baseado na história real dos quadrigêmeos que nasceram em Itabaiana. Nunca terminei o conto. No meu enredo, os quatro se dividiriam: dois iriam trabalhar para as forças do bem e o outro time vestiria a camisa do mal, dentro do velho maniqueísmo tão ao gosto das novelas populares. Seria o culto do contraste, o Céu e o Inferno, Deus e o Diabo, para no fim demonstrar que o Mal faz parte da natureza humana “como o Sol do sistema solar”, conforme a comparação de Freud.
Na vida real, os quadrigêmeos ganharam os espaços midiáticos da época, servindo até de tema para cronistas ilustres como Luiz Augusto Crispim. “Passam bem os quadrigêmeos nascidos ontem na cidade de Itabaiana”, informava na primeira página o jornal “O Norte”. Não houve consulta de pré-natal, que aquilo era luxo que não chegava para as pobres parturientes de Itabaiana. Até hoje é assim. Os meninos Adriano, Alessandro, Ana Paula e Ana Cristina nasceram sem ajuda de fertilização. Em duas semanas receberam alta, viraram celebridade. Cada bebê usava oito fraldas por dia. O prefeito logo nomeou um comitê municipal para cuidar dos quatro gêmeos paridos no hospital da cidade, coisa nunca acontecida antes. Não existe calamidade que dure mais do que quinze dias.
domingo, 13 de dezembro de 2009
Governo comete atentado aos direitos humanos
Filas dos funcionários no Espaço Cultural (Foto: Tião Lucena)
A imagem que tenho do governador José Maranhão é de um sujeito ardiloso e frio que nem lâmina. Impressionante a desfaçatez desse povo e a manipulação que consegue junto à imprensa venal.
Tenho uma pessoa da minha família que é funcionária pública estadual e apresenta sérios problemas de saúde. Precisou abrir conta no Banco do Brasil para receber seus proventos. Chegamos no Espaço Cultural, local onde o banco estava atendendo para abrir as contas, logo cedinho da manhã, às sete e meia deste domingo. Só saímos às 18 horas, depois de quase 11 horas de fila, calor, fome e sofrimentos outros. Pessoas idosas, doentes e mulheres grávidas ficaram nas filas o dia todo, para abrir uma conta que não pediram. Ninguém optou por ser cliente do Banco do Brasil. Foi imposição do Governo.
Dizem que no dia anterior muita gente passou mal, sendo atendida pelo SAMU. Hoje apareceu até lanche. Enfermeiras se revezavam medindo a pressão dos condenados. E estava um inferno, imagine ontem!
O tenebroso mundo da burocracia mais uma vez deu mostras de como é eficiente para humilhar e maltratar o cidadão comum. O desconforto das pessoas foi testemunhado por repórteres, radialistas e colunistas de jornais, muitos deles também funcionários públicos. Sintomático que nenhum deles possa reclamar nos seus jornais.
O escândalo do Banco do Brasil torturando funcionários públicos é ilegal. Obrigar o servidor a abrir conta normal é contra o Código de Defesa do Consumidor e uma arbitrariedade do Estado. Ouvimos muitas denúncias de servidores que estão desesperados porque têm conta há muito tempo em outros bancos e não querem mudar para o Banco do Brasil.
Isso vai acabar em processos contra o Estado, que incorrerá em multas e outras consequências. Além disso, as pessoas que forem ameaçadas a abrir conta corrente no Banco podem, posteriormente, ajuizar ação por dano moral e material.
Preparação para o vestibular
O garoto está estudando para o vestibular. Igual ao samba-enredo de Sérgio Porto, o menino misturou os fatos históricos e produziu um texto mirabolante. Começando do começo, pra quem não sabe, o Brasil é uma potência emergente de quinta grandeza, que foi invadido em 1888 por Napoleão Bonaparte. Esse Bonaparte foi quem introduziu o mensalão no país para equilibrar o balanço de pagamentos.
O Brasil ainda não era um país abastado, com um futuro promissório, confusório e preocupatório. O maior matrimônio ainda é a educação, mas precisamos tirar as fendas dos olhos para enxergar com clareza o número de famigerados que aumenta. Os analfabetos, por exemplo, nunca tiveram a chance de voltar para a escola, começando pelo Chefe. O bem estar dos brasileiros independe de roça, religião, sexo e vegetarianos. É preciso melhorar as indiferenças sociais e promover o saneamento das pessoas, a nível municipal, estadual e federal. Também preocupa o avanço regressivo da violência.
Quando descobriram o Brasil, isso aqui já estava uma zorra. Entre os índios encontrados, havia os aztecas, incas, maiôs, pirineus, fenícios e fascistas. E para quem não sabe, introduzo que a História se divide em Antiga, Média, Moderna e Momentânea, a dos nossos dias. Um dos costumes dos índios era matar as crianças que nasciam mortas. Isso porque no começo os índios eram muito atrasados, mas depois foram se sifilizando.
Os portugueses eram muito cruéis. Tiradentes, por exemplo, depois de morto foi decapitado ao som de La Mayonèse, o Hino Nacional da França. Houve muita revolta, então o Governo precisou contratar oficiais para fortalecer o Exército da Marinha. Nesse tempo de colônia, o Brasil só dependia do café colonial e de outros produtos extremamente vegetarianos.
Na Geografia, respondendo às perguntas, quero crer que a capital de Portugal seja Luiz Boa. A Geografia Humana estuda o homem em que vivemos. O Brasil está livre do efeito estufa, porque é muito aguado pela chuva, senão veja a Amazônia... Nosso país não gosta de trem, mas na América do Norte tem mais de 100 mil quilômetros de estradas de ferro cimentadas. O oceano é onde nasce o sol. Onde ele nasce é nascente, e onde desce é decente. A terra é um dos planetas mais conhecidos no mundo e suas constelações servem para esclarecer a noite.
As principais cidades da América do Norte são Argentina e Estados Unidos, onde nasceu Lavoisier, que foi guilhotinado por ter inventado o oxigênio e desenvolvido a arte funerária para que os mortos pudessem viver melhor.
As aves têm na boca um dente chamado bico. Quando essa ave não tem água para beber, só sobrevive se for empalhada. Isso tudo é devido aos raios ultra-violentos que recebemos todo dia. Foi o que colaborou para a extinção do micro-leão dourado que vivia nas bacias esferográficas da mata. O problema ainda é maior em se tratando da camada Diozônio, cujo problema é de muita gravidez.
E aqui termino a redação porque não sou expansivo. Para quem não sabe, expansivas são as pessoas tangarelas.
(Essas são pérolas das redações do ENEM, resultado da falta de leitura dos nossos jovens. É pra rir ou chorar?)
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Não me acompanhe não que eu não sou novela
Acompanhe meu blog Toca do Leão e, igual ao formidável poeta Antonio Costta, acompanhe também o blog do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Eis os endereços, respectivamente:
www.fabiomozart.blogspot.com
www.pccn.wordpress.com
No meu blog, a comunidade itabaianense se encontra. Os temas são na maioria das postagens sobre Itabaiana e seu povo amigo, suas peripécias, safadezas, grandezas e sabedoria. Testemunha ocular dessa província ao lado esquerdo do rio Paraíba durante 33 anos, gosto dela como o cachorro velho gosta do dono. Itabaiana marcou minha passagem para o mundo da adolescência e do adulto, como no poema de Zé da Luz:
“Ai! quadra de minha vida
Qui passou, não vorta mais
O meu tempo de minino,
De minino a rapazinho,
De rapazinho a rapaz!”
E esse extremado sentimento compartilho com dezenas de itabaianenses espalhados por esse Brasil afora, que leem o blog e interagem conosco. Ontem postei carta de um jornalista, informando sobre importante projeto de preservação e divulgação do acervo de Sivuca. É tema controverso, muitas opiniões que se chocam. Ao contrário do que se poderia supor, Itabaiana está dividida sobre a questão. Já postei aqui diversas crônicas sobre esse assunto, afirmando que Sivuca ajudou a colocar Itabaiana no mapa mundi, construindo de forma indelével a nossa identidade cultural. A música de Sivuca está presente no nosso inconsciente coletivo. Não há nenhuma grandeza em se querer deformar sua imagem depois do mestre falecido, em nome de lendas sobre pretenso menosprezo do músico à sua terra natal.
Minha comadre Rosário Paiva manda dizer de Brasília, sobre o assunto:
“Caro Mozart,
Toda esta carta deve ser analisada com sabedoria e discernimento para não cairmos em mais um erro no nosso pobre acervo cultural. Parabéns pela iniciativa de publicar a carta. Precisamos conhecer os dois lados.
Rosário.”
José Ricardo Oliveira também está preocupado com a herança cultural em litígio, e do Recife se pronuncia:
“Sendo sobrinho de Sivuca, sempre me coloquei ao lado da Flávia, apesar de não conhece-la, pois sou o caçula de cinco filhos do irmão do mesmo, Joquinha. Nunca tive contato com a Flávia e tão pouco com a Glorinha, mas como já falei, sempre fui e serei a favor de sua filha. Abraços e obrigado por me enviar suas crônicas e narrativas.”
ricardo.oliveira2911@gmail.com
É isso.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Projeto Sivuca defende democratização do seu acervo
Recebi e repasso mensagem do jornalista Fernando Gaspari:
Prezado Fábio Mozart,
Meu nome é Fernando Gasparini, sou jornalista e coordenador do Projeto Sivuca - Maestro da Sanfona Brasileira, idealizado e fundado pela filha única e herdeira dos direitos de imagem do pai, a socióloga Flávia Barreto.
Como é de seu conhecimento, há um constante bafafá em torno da questão dos "direitos autorais" de Sivuca e de uma disputa familiar entre a "viúva" (que vem a ser a quarta companheira) e a filha. Faço-lhe contato, pois, de tudo o que eu leio sobre o caso aí na Paraíba, o seu blog é o mais equilibrado, mais ponderado e mais imparcial. O resto da imprensa paraibana parece já ter tomado partido.
Enfim, escrevo-lhe também para lhe dizer que não há partido. Afinal, o Código Civil, a Constituição Brasileira e até a Justiça da Paraíba já foram mais do que claros: direitos de imagem passam de pai para filha. E ponto! Tudo o mais que se diga em torno disso não passa de especulação. Portanto, nenhum Memorial será construído sem antes ter o aval da única herdeira de Sivuca. Se o Governo e as prefeituras insistirem em fazer qualquer coisa sem consultá-la, estaremos diante de um caso de repercussão internacional! Vamos ver até aonde vai a prepotência e a arrogância de quem se diz "dono" do patrimônio. Porque o “dono” não pode ser maior do que as leis de um país – ou será que alguns sectários paraibanos acreditam que estão vivendo ainda os tempos do coronelismo?! Então, não adianta fazerem campanhas difamatórias contra a Flavia, nem contra o seu Projeto. Não estamos falando somente de uma filha, mas de uma socióloga, pós-doutora em Estudos Culturais, diretora do departamento de Pesquisa do Sindicato dos Sociólogos, professora universitária há mais de 30 anos, e portadora de uma biografia tão bela quanto a do pai – não no campo da arte, mas no campo das lutas pela cidadania, em defesa dos marginalizados e oprimidos.
Quando a imprensa marrom paraibana abre a matraca para falar da filha de Sivuca, eles deveriam estar conscientes de que estão falando acerca de uma intelectual da mais alta categoria, com trabalhos divulgados no Exterior e reconhecimento científico da qualidade do seu trabalho. E toda essa competência ela está usando agora a favor da memória do pai. Ela, sim, poderia deixar tudo isso de lado, se quisesse, afinal ela já tem uma carreira constituída e nunca precisou ficar à sombra de Sivuca para se constituir como ser humano, nem como artista, nem como intelectual. Ao contrário de muita gente que se encostou e se adonou dessa grande árvore sivuqueana.
A visão do Projeto Sivuca - em consonância com os movimentos internacionais de liberação dos direitos autorais e de imagem - é de que o patrimônio de Sivuca não tem dono, pertence ao povo. Trata-se de um patrimônio cultural. Sivuca teve de se banhar na sua cultura popular para produzir sua obra. Em última análise, e em harmonia com o pensamento de grandes críticos e filósofos, como Foucault, Benjamin e Sartre, a obra não pertence ao autor, pois, por mais que ele tenha criado aquela peça, esta foi feita a partir de elementos externos à autoria, isto é, elementos de nossa cultura. Nessa reflexão (que seria indigesta para os defensores dos direitos econômicos), não há uma autoria única, há uma releitura pessoal de elementos de uma cultura, uma cultura que é maior do que qualquer artista.
A partir dessa tomada de consciência, nós do Projeto Sivuca já doamos TODO o acervo discográfico de Sivuca (incluindo mais de 50 participações emblemáticas) a dezenas de escolas e instituições de pesquisa no Rio de Janeiro. Porque a obra de Sivuca é do povo, e nós damos ao povo o que é do povo. Elencando as escolas mais emblemáticas: Conservatório Brasileiro de Música, UniRio, Instituto Moreira Salles, Instituto Cultural Ricardo Cravo Albin, além de vários músicos parceiros nossos e que reconhecem a grandiosidade e riqueza do nosso trabalho.
Gostaríamos muitíssimo de doar o nosso trabalho às instituições de pesquisa da Paraíba. Mas o Governo e as prefeituras solenemente nos ignoram. É esta a pergunta: até aonde vai essa arrogância e prepotência? Até aonde os interesses eleitoreiros e politiqueiros se almejarão ser maiores do que o patrimônio da nossa cultura?
Nosso Projeto recebeu um prêmio do SESC Rio, em virtude de nossos esforços pelo levantamento do acervo do mestre. Assim como Flavia foi condecorada pelo Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro, pelo empenho, profissionalismo e dedicação a este trabalho (a secretaria da Paraíba deveria estender tapete vermelho para o nosso Projeto, pois estamos fazendo aquilo que o Estado deveria fazer: cuidar de seu patrimônio cultural). Afinal, estamos falando de patrimônio cultural brasileiro, de memória da cultura brasileira, de pesquisa, de trabalho duro. Temos hoje, além da discografia completa autoral de Sivuca, mais de 300 discos em que ele participou (gravados no Brasil, Estados Unidos, Japão, Suécia, Dinamarca, Canadá, África do Sul, Portugal, França, entre muitos outros), o acervo completo de discos de 78 rotações (nem o próprio Sivuca tinha esse material), além de mais de mil matérias na imprensa sobre Sivuca, desde a década de 50 até os dias de hoje, nos mais variados jornais do Brasil e Exterior. Temos um bom milhar de fotos, dezenas de horas de vídeo, fora os objetos pessoais (certidão, contratos trabalhistas, roupas, peças de uso pessoal, selos etc. etc.). Levantamos o acervo de Sivuca nos institutos de pesquisa do Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Belém, Brasília, Fortaleza, Natal, Recife, João Pessoa, Itabaiana, Londres, Estocolmo e Paris. E agora vamos para Nova Iorque.
Tudo isso porque o nosso Projeto tem o apoio do Ministério da Cultura, e também de dezenas de instituições Brasil afora. Listo as principais:
Acervo Christiano Câmara – CE
Acervo Câmara Cascudo – RN
Arquivo Leide Câmara – RN
Arquivo Público do Distrito Federal
Biblioteca Nacional – RJ
CEDOC TV Globo – RJ
Centro Cultural Banco do Brasil – RJ
Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos – Cebela
Conservatório Brasileiro de Música – RJ
Conservatório Pernambucano de Música
Cooperativa de Artistas Autônomos do Rio de Janeiro
Embaixada Brasileira na Suécia
FUNARTE – RJ
Fundação José Augusto – RN
Fundação de Cultura da Cidade do Recife – PE
Fundação de Cultura do Estado de Pernambuco
Fundação Joaquim Nabuco – PE
FUNDARPE Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de
Pernambuco
ICCA Instituto Cultural Cravo Albin – RJ
Instituto Moreira Sales – RJ
Museu Cearense da Comunicação de Nirez – CE
Orquestra Petrobras Sinfônica – RJ
Orquestra Sinfônica do Recife – PE
Orquestra Sinfônica de Natal – RN
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
Prefeitura Municipal do Recife – PE
PUBLIKIMAGEM – Recife/PE
Rádio e TV Senado – DF
RBS TV – RS
Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro
Sistema TV e Rádio Jornal do Commércio – PE
TV Globo Nordeste – PE
TV Universitária Recife – PE
Vianapole Comunicação – RJ
O Brasil e o mundo já reconhecem a grandiosidade e a importância de nosso trabalho, bem como a legitimidade da socióloga Flavia Barreto, filha única de Sivuca. Portanto, como inaugurar um Memorial Sivuca sem a participação de sua filha?! Não é só porque é somente filha, reitero, mas porque é a responsável por um projeto de preservação da memória de Sivuca – um trabalho que deveria ser feito pelo Estado (se vivêssemos num país decente) mas que está sendo feito por uma instituição não-governamental – devidamente legalizada, institucionalizada e legitimada.
A Paraíba insiste em nos ignorar? Restará a ela perder “o bonde da história por querer / sair do juízo sem saber", e ser "mais um covarde a se esconder / diante de um novo mundo” – um novo mundo baseado na solidariedade, no respeito ao próximo e, principalmente, na democratização do acesso aos bens de nossa cultura (sem intermédio de “interesses econômicos”) - sem dúvida é este o maior ingrediente de nossa cidadania.
Perdoe-me a longa carta. Mas alguém precisa ouvir o "outro lado" da história, para tirar as suas próprias conclusões.
Cordialmente,
Fernando Gasparini
Jornalista
Mestre em Comunicação
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4238162P4
(21) 8622-4344
Sobre "jornalismo de esgoto"
Recebi mensagem do engenheiro e ativista dos direitos civis Heitor Reis, das Minas Gerais, que faço questão de reproduzir na íntegra:
Grande Mozart:
Excelente seu enfoque na matéria "Jornalismo de Esgoto" que mantenho ao final e divulgo para outros ambientes!
Fez-me lembrar de um artigo do Aloysio Biondi, de 2002, que não encontrei no sítio dele e o republiquei, agora, no CMI, sob o título de "O Jornalista-Enganação". Foi escrito durante a vigência da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão: http://prod.midiaindependente.org/pt/red/2009/12/460367.shtml
Assim, constatei que é extremamente relevante vincularmos o fato de que sempre houve e sempre haverá profissionais devidamente habilitados através de curso universitário, interessados em realizar este serviço porco. É o diploma a serviço do esgoto, da enganação e tudo o mais. E, sem dúvida, um jornalista sem diploma não se exclui naturalmente desta mesma possibilidade.
Um empresário de esgoto não é capaz de realizar uma mídia de esgoto sem profissionais da mesma categoria! Diplomados ou não. Mas a estupidez humana ou a má-fé tem sido incapaz de perceber tal coisa. A própria Fenaj age como se uma coisa jamais tivesse relação com a outra... Muito antes pelo contrário, utiliza o diploma como se fosse a salvação da lavoura ou um sistema de tratamento de esgoto, quando na realidade, durante a vigência da obrigatoriedade, foi absolutamente inócuo para tanto. Apenas atuou como reserva de mercado.
Os acadêmicos tidos como sendo "nossos melhores quadros" também jamais vinculam o jornalismo de mercado, o jornalismo de insinuação (Venício de Lima), a ditadura da mídia (Altamiro Borges) e outras mazelas que dominam o jornalismo atual com o profissional que se vende a tal propósito.
Antonio Gramsci condenou o trabalhador que comprava o jornal burguês, no que podemos incluir, naturalmente, o jornalista que para ele trabalha. Mas será que há algum interesse da sociedade em ter um jornalismo verdadeiramente público? [ A sociedade quer informação com ética e qualidade?
É a malignidade intrínseca da mídia, do capitalismo, do socialismo e da humanidade. E das associações de classe também.
Ou criamos um mecanismo para proteger o jornalista do escravagismo existente na relação injusta entre o capital e trabalho, ou sempre os teremos como mercenários a serviço do exército inimigo do operariado. É um bom tema para a Confecom. E nada tem a ver com diploma!
Minhas mais efusivas congratulações àqueles raros profissionais que preferem escolher a benignidade também intrínseca de todas estas coisas. E, naturalmente, muita das vezes, a miséria, a invisibilidade, e quando não a morte.
Dialeticamente,
Heitor Reis
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Haikai sem regras
Haikai é um poema de origem japonesa, que chegou ao Brasil no início do século 20 e hoje conta com muitos praticantes e estudiosos brasileiros. No Japão, e na maioria dos países do mundo, é conhecido como Haiku. Para não incidir em problemas de rimas, ricas ou rudes, achou-se por bem denominá-lo Haicai.
O Haikai tem algumas regras, além de ser um poema conciso. Como eu gostava de escrever poemas curtos, passei a defini-los como Haikai. Eis algumas “pérolas”:
Porque viveu ao contrário,
Morreu como um nenenzinho.
Ela guiou minha mão
Ao caminho das Índias.
Acordou sonhando
Com um puro acorde.
Foi lendo Garcia Marquez
E contabilizando a solidão.
A chuva seca na areia
A esperança de verão.
Depois fui agrupando os três versos como manda a tradição, contando 17 sílabas no total, a autêntica forma do Haikai. É um exercício de concisão e sobriedade, e eu gosto muito disso. Conclamo os compadres a produzir essas micropoesias, seguindo os cânones clássicos ou não. E peço licença para apresentar meus mais novos haikais:
Mudou de roupa
Liderou o féretro
Mudou de casa.
Na vida real
A moça fantasia
Um coito normal.
No purgatório
Da conta bancária
O saldo reza.
Jaz confortável
E íntimo do solo
Secando o húmus.
Bato o solado;
Dizendo de onde vim
Cai o pó claro.
A banda passou
Instante semibreve
Limpando a pauta.
Com língua presa
A testemunha muda
Depoimento.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Jornalismo de esgoto
Em João Pessoa, Anco Marcio disse que o jornal JÁ está com a corda no pescoço e só não saiu de circulação ainda porque “não querem admitir que fizeram uma merda”. Esse jornal é um que espremendo sai sangue. Sensacionalismo barato, custa 15 centavos.
No Rio Grande do Sul, outro jornal com o título de JÁ ganhou o Prêmio Esso de jornalismo. A pequena publicação especializou-se em denunciar as mazelas do governo local, passando a ser vítima de forte pressão. Em 2001, JÁ noticiou umas falcatruas envolvendo a família do governador Rigotto, que entrou na Justiça pedindo indenização pela “honra ultrajada”, inviabilizando economicamente o jornal.
O jornal de Porto Alegre está recebendo o apoio de muita gente para voltar a circular, enfrentando o sufocamento da Justiça e do Governo local. Os que lutam por uma imprensa livre e decente estão com o JÁ gaúcho.
Outro dia, uma moça ligou para renovar minha assinatura do Correio da Paraíba. Disse que não assinaria um jornal cuja empresa edita um lixo como o tal JÁ. A mocinha ficou sem argumento, pediu desculpas e desligou.
Apesar do sectarismo obsoleto, o ContraPonto ainda é o jornal que tem conteúdo e vergonha na cara, aqui na Paraíba. Além do meu “Tribuna do Vale”, que volta a circular ano que vem.
Só como curiosidade: Um grande portal noticioso publicou a morte da atriz Leila Lopes na seção "Entretenimento". Outro grande portal noticioso publicou a morte do locutor Lombardi na seção "Diversão". Humor negro é isso aí.
Meu blog ensina o caminho de Itabaiana ao Brasilzão
A Toca do Leão, devagarzinho, vai cumprindo seu papel de divulgar a Rainha do Vale do Paraíba por esse Brasil afora. É que temos outra Itabaiana, cidade próspera no Estado de Sergipe. Vejam vocês a mensagem que recebi de Zé Souza, um gaúcho de Pelotas: “Olha a ignorância minha, pois só agora descobri que a Paraíba também tem Itabaiana. Gostei...”.
A poetisa Vera Jacobina, de Jacobina, Bahia, leu a crônica sobre os seleiros de Itabaiana e comentou: “você não imagina o tanto que aprendemos com tudo o que diz respeito à cultura de um povo. Tudo isso me fascina”.
Maria Iraci, humorista de Brasília, disse sobre o solar dos Maroja que está caindo aos pedaços em Salgado de São Félix: “Quantas cidades no Brasil vivem nessas condições que você descreveu! São populações desinformadas desses lugares eleitores que votam nas porcarias de políticos que vêm pra cá infernizar o país inteiro. Triste, né?” Como humorista, ela foi amarga demais!
Já o Roberto Pelegrino, de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, acredita que “em um Brasil de tantos mensalões e roubalheiras institucionalizadas, ajudar o próximo se tornou uma forma de acreditar que o ser humano tem jeito. Parabéns, poeta, que a vida não é fácil mas o importante é lutar”. Ele se refere à crônica “Vamos caminhar e cantar”. No fim o Pelegrino faz um elogio que agradeço: “O seu texto é maravilhoso, você usa palavras sábias para expressar o assunto tratado, parabéns!”
Jucimar Estrela, de Curral Velho, Paraíba, sobre a mesma crônica só afirmou: “Grande Geraldo Vandré, excelente texto!”.
São tantas as emoções, como diria o sexagenário rei da juventude que deixou saudades, diante do rudimentar gosto musical da rapaziada de hoje. De todo o país, recebo mensagens dos meus compadres e comadres leitores. Um deles me surpreendeu. Foi o Anderson Cristiano da Costa, de quem li um conto em blog português e publiquei como sendo lusitano esse escritor. Fiz até uma crítica adstringente. Mas o rapaz é de Santo Antonio do Monte, Minas Gerais, tem 27 anos, autor de contos de horror, que chamei horrorosos. Foi na crônica “As fábulas da mortalidade do homem”. O aprendiz de Zé do Caixão foi, no entanto, educado e compreensivo: “Bem... talvez se acertasse a nacionalidade, bem como o título... sim, e o gênero... Mas mesmo assim foi válido. No fim, até um bom texto.”
Diogo Liester Júnior é de Cabo Frio, Rio de Janeiro, um cara que “ama e espalha palavras para melhorar o sabor da vida”. Miriam de Sales é de Salvador, Bahia, “uma mulher imaginativa e romântica”, deseja sorte aos meninos do projeto Pedra de Toque. Lourenço de Oliveira, professor de Salesópolis, São Paulo, conferiu a crônica “A mão que governa” e achou que é “mais profundo do que parece”. Alberto Sales, do Rio de Janeiro, disse que a narrativa sobre o Urubu-Rei é “uma bela história de uma pessoa curiosa e inteligente”.
Como fiel depositário dessas simpáticas mensagens, agradeço à Kássia C, de São Paulo, que diz ser “banal, sem sal, completamente normal”, e a todos os outros leitores deste blog. Sobre o compadre Benjamim, de Campina Grande, me inquieta o desejo de conhece-lo pessoalmente, de tanto que temos trocado figurinhas pela internet, ele um humanista que muito me orgulha, já que se diz itabaianense da gema.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Jazz
O jazz começou na América do Norte, mas se mundializou. Nova Orleãns foi o ninho onde nasceram os músicos que juntaram a criatividade da comunidade negra com a cultura popular. Os afro-americanos criaram o jazz como os negros brasileiros pariram o samba e suas vertentes.
Os caras pegam um tema musical e começam a improvisar. Eu comecei a gostar de jazz ouvindo Miles Davis e sua banda fantástica. Não sou especialista, mas adoro saber que quase tudo que tocam nos discos foi gravado de improviso. John Coltrane é um saxofonista considerado o maior de todos os tempos. É imprescindível para quem quer começar a conhecer o jazz.
Recebi um presente do maestro Edson Rodrigues, o CD “Contrabanda”, disco que comemora 22 anos dessa banda de Pernambuco. Tem frevo, bossa-nova, maracatu, blues, valsa-jazz, forró e baião, tudo com o tempero jazzístico impecável da “Contrabanda”. O disco tem apoio da Prefeitura do Recife. Quem quiser pedir seu exemplar, o E-mail do maestro é edson.crpj@uol.com.br
Página do maestro: www.maestroedsonrodrigues.com
Aqui em João Pessoa tem uns paraibanos loucos por jazz. A banda “Dixieland” toca um subgênero do jazz, que é pra iniciados. Coisa finíssima. Quando se sabe que essa riqueza foi trazida da África pelos escravos, fico a imaginar o que se passa na cabeça de um racista para afirmar que os negros são inferiores, gente primitiva.
Em Campina Grande, a cidade mais charmosa da Paraíba, rola o CAMPINA JAZZ FESTIVAL, evento marcante que acontece em abril, setembro e novembro. São dez bandas de músicas instrumentais e vocais, resgatando o que há de melhor na cultura musical em nosso Estado. A maior importância do festival é abrir espaços para grandes músicos compositores que vivem fora da mídia e mostrar novos valores, dando início à sua participação no mercado de trabalho.
domingo, 6 de dezembro de 2009
O filho do raizeiro que ama suas raízes
Itabaiana é o lugar do Brasil onde respiram mais poetas por metro quadrado. Agora mesmo meu compadre poeta Antonio Costta está lançando sua Coletânea Poética com mais de 200 páginas. Descubro no ambiente da grande rede outro poeta que saiu daqui para morar em João Pessoa, meu compadre Sarderli Silva, que assina Sander Lee, mal escondendo sua admiração pelo país do Tio Sam, sem, entretanto, deixar de gostar da cultura de raiz do Nordeste brasileiro. Como cultor das nossas mais belas manifestações artísticas, Sanderli, ou Sander Lee, escreve poesia de cordel, sonetos e outras variedades. No passado cometeu outros desatinos artísticos, como ator do Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana – GETI, fazendo o papel da Besta-de-sete-léguas na minha peça “A Peleja de Lampião com o Capeta”.
O poeta é filho do líder camponês José Ferreira, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itabaiana por muitos anos, conhecido pela sua fama de prático na medicina popular, onde corpos e espíritos são inseparáveis, como atestam nossas rezadeiras, curadores, raizeiros, pajés e mães-de-santo. O pai de Sanderli era craque em desfazer o sofrimento dos humildes rurícolas que se queixavam de quebranto, micróbios, vermes, encosto, praga rogada e osso rendido, entre outros males do corpo e da alma. Zé Ferreira hoje é uma lenda como detentor da riqueza que são os saberes da medicina popular. Já falecido, Ferreira deixou Sanderli para cantar as belezas da terra comum.
Leitor do meu blog, Sanderli mandou dizer: “como ex-dirigente da Sociedade Amigos da Rainha, ex-Sociedade Cultural Poeta Zé da Luz, conheço de perto a luta do poeta e dramaturgo Fábio Mozart. Por onde passou, abriu caminhos e investiu na cultura brasileira. É um desbravador. Quantas vezes o vi usar o próprio salário empreendendo a arte. Sempre foi e será um referencial para a minha geração”. Isso ele disse em relação ao Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, para no fim exclamar nostálgico: “Deu-me uma saudade da minha Itabaiana!”
Outro poeta, esse nascido em Pilar, mas foi Itabaiana que lhe deu régua e compasso, no dizer famoso do mestre Gilberto Gil, nosso compadre Damião Cavalcante assim opinou sobre a feira de artesanato que estamos planejando: “Prezados conterrâneos, excelente ideia e elogiosa iniciativa a de criar, em Itabaiana, a “Feira Permanente de Cerâmica”. Sempre achei que Itabaiana poderia ser o centro turístico da cerâmica com um decisivo apoio da Prefeitura, inclusive o de albergar mestres dessa arte para dar (também de modo permanente) aulas à nossa juventude sobre esse tipo de arte”.
sábado, 5 de dezembro de 2009
Vamos caminhar e cantar
Professora Telma Lopes, à direita
O caso eu conto como o caso foi. Mais uma vez sofri censura na internet. Resumindo, conheci um músico que anda precisando de ajuda devido a um problema pessoal. Sem querer me auto-incensar, sou adepto da ajuda desinteressada ao próximo, promover e incentivar a amizade, ética e bem-estar cultural, social e moral da minha comunidade. Por isso escrevi no meu blog sobre o rapaz, pedindo ajuda. De fato, vários amigos responderam ao apelo, dispondo-se a auxiliar na campanha para adquirir o violão do músico, entre eles o companheiro Adeildo Vieira.
A família do dito cidadão não gostou de ver na internet o depoimento do rapaz, sugerindo até me processar por expor publicamente seu drama. Não quis aparecer na mídia eletrônica como uma espécie de mecenas, não sou político nem religioso, muito menos demagogo e aproveitador das desgraças alheias. Simplesmente quis ajudar uma pessoa em dificuldade, um homem inteligente e capaz a quem a vida armou uma arapuca, uma pessoa precisando de auxílio. Não foi assim que a família dele entendeu. Tudo bem, retirei a crônica do blog, e deixa isso pra lá.
O que ficou de bom foi meia dúzia de mensagens de pessoas como a professora Telma Lopes, de Itabaiana: “Lemos sua mensagem, e como mediadora de conhecimento, não poderia ficar omissa diante do relato. Juntos, Escola João Fagundes e sua gestão, dispomo-nos também a colaborar com tão nobre causa, que trata de resgate de verdadeiros valores humanos da cultura, de que tanto Itabaiana necessita. Vamos caminhar e cantar”. Agora me diga, não é pra estremer de satisfação saber que ainda existem pessoas desse nível moral e humano em nossa comunidade, e ainda por cima com capacidade intelectual para escrever coisas tão bonitas?
O professor Benjamim, da Universidade Estadual da Paraíba, enviou a seguinte mensagem: “Contamos com pessoas como vocês no trajeto de construção do Homem Novo, do Mundo Melhor para todos. Me comovo, e muito, com depoimentos como o da professora Telma. Sim, enquanto raios e trovoadas caem em nossas cabeças,
ainda encontramos espaço neste campo de batalha para CAMINHAR E CANTAR. Portanto, vamos sim, caminhar e cantar.”
Gostaria que Telma fosse minha professora-orientadora na disciplina dignidade. Que a chegada do ano novo traga muitas alegrias à Telma e seus familiares, com muita resistência diante dessa sociedade opressora e falsa.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Seleiros de Itabaiana
Recebi mensagem do ator Buda Lira, de João Pessoa, nos seguintes termos: “é uma alegria, vocês nem imaginam, o passeio que acabo de fazer neste blog do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Saber que pulsa forte uma experiência com vontade de manter viva a tradição cultural de Itabaiana. Visitei em 1982 um seleiro (não lembro o nome) aí em Itabaiana para compor o Mestre Amaro (Fogo Morto) da peça Papa-Rabo. Vocês têm notícias desse artesão?”
Seleiro é o cara que faz selas para cavalos. Aqui tivemos o maior polo de comercialização de cavalos e bois da Paraíba, daí a tradição nesse artesanato. Conheci grandes seleiros, quase todos já falecidos, a exemplo de Clovis Almeida, Daciano Alves de Lima, Zé de Nana, Dudu e João Seleiro.
O jornalista Hilton Gouveia publicou no jornal A União um artigo que fala de nossa tradição coureira. Itabaiana era chamada a Meca do Couro. Couros de bois e bodes que vinham do alto sertão, aqui encontravam a morte. Deles se tirava a pele in natura, que depois era salgada e curtida. Beneficiada, essa pele ganhava o mundo para virar bolsas, sapatos, chapéus e cinturões. Luiz Gonzaga não dispensava um chapéu de couro legítimo de Itabaiana. Sivuca não usava chapéu de couro, mas para homenagear Itabaiana, usava cinturão com o couro de sua terrinha amada. Depois veio o sintético, e a era do couro decaiu. Com ela, Itabaiana abateu-se economicamente. Hoje é uma cidade que perde população. A cada dia, mais e mais itabaianenses saem de seu torrão natal em busca de sobrevivência. Do couro só restou a tradição, as lembranças. O Curtume Nossa Senhora da Conceição já trabalhou com mais de 200 empregados. Hoje está extinto.
No passado, grandes curtumes de Itabaiana forneciam couro para fábricas de sapato em Timbaúba e Caruaru, exportando para Rio Grande do Sul, Ceará, São Paulo, Bolívia, Portugal e Alemanha.
O couro de Itabaiana tinha fama internacional. Hilton afirma: “Conta-se que o agroindustrial Aguinaldo Veloso Borges, na época, dono do maior rebanho bovino da Várzea do Paraíba, dizia que a diferença do couro de Itabaiana estava no pasto que os bois comiam em Pilar, o município vizinho, onde Veloso dispunha de fazendas de criação de gado Nelore. Além dos couros que saíam do rebanho de Veloso, Itabaiana concentrava a venda de couros procedente do Brejo, Cariri e Curimataú.”
Em Itabaiana, curtia-se couro bovino e caprino. O couro de bodes era usado em larga escala pelos diversos sapateiros e fabricantes de calçados autônomos que existiam na cidade. Diz-se, até, que Itabaiana tem o período do couro e o período após o couro. Timbaúba rivalizava com Itabaiana na produção de couros e seus artefatos. Hoje, Itabaiana subsiste decadente, e de Timbaúba só recebemos eleitores clandestinos para votar em político ruim.
Câmara de Vereadores conta sua história
Desembargador Almir Carneiro, João Quirino Neto e Edilson Andrade
Recebo material de grande valor histórico, repassado pelo ex-vereador e ex-prefeito de Itabaiana Edílson Andrade, pessoa que se constitui numa página viva da evolução do legislativo em nosso Município. Coube honrosamente ao Edílson a tarefa de dotar a Câmara Municipal de ótimas instalações, inauguradas em março de 1984, quando ele ocupava o cargo de prefeito por decisão do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba.
Como Presidente da Câmara de Vereadores, após ser nomeado prefeito, Edílson Andrade empenhou-se em investir na instalação de prédio próprio para o Legislativo, que antes funcionava em prédio anexo ao Fórum. As reuniões dos vereadores eram realizadas no mesmo local onde funcionavam as sessões de júri da Comarca. O Presidente da Mesa sentava-se na cadeira do Juiz.
Edílson aproveitou sua passagem pela Prefeitura como chefe do Executivo para alugar um imóvel em frente ao Itabaiana Clube, de propriedade de Belarmino Ribeiro, instalando o Departamento de Energia Elétrica do Município, efetuando melhorias no prédio histórico onde hoje funciona a Câmara Municipal. Deu mais dignidade ao Poder Legislativo local, mandando confeccionar as bancadas para os vereadores e mesa diretora, salas de arquivos, gabinete da Presidência e outros benefícios, como consequência do seu trabalho articulado como Prefeito e Presidente da Câmara, cargo este que foi passado para o grande líder de Campo Grande, João Quirino.
Foi assim a época de ouro da Câmara, que pela primeira vez teve um dos seus membros como Prefeito, ainda que interino. Edílson Andrade teve longa trajetória na Câmara, sendo talvez um dos conquistaram mais mandatos consecutivos na história do Legislativo itabaianense. Plenamente identificado com a atividade de vereador, Edílson Andrade não renovou seu mandato mas seu reconhecido prestígio e dedicação à Casa de leis de Itabaiana o coloca como referência obrigatória e indispensável ao estudo dos nossos valores e das nossas raízes históricas.
As fotos que gentilmente cedeu para o acervo da Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba com certeza serão valiosas no futuro, para visualizar a história de Itabaiana na perspectiva do Legislativo. Na época em que foi inaugurada a Câmara, apenas dois partidos dividiam o poder na cidade: PMDB e PDS. Do Partido do Movimento Democrático Brasileiro eram os vereadores José Ramos, João Quirino Neto, Cláudio Roberto Lucena (Beto de Zé de Paulo), Manoel Leite de Melo (Neco Frizo) e Gentil Cassemiro. Do Partido Democrático Social (PDS) faziam parte os vereadores Fernando Melo, José Carlos de Almeida, Otoniel Marinho, Maria Jaide, Clidenor Félix (Nô Almeida) e Janete Barbosa, que assumiu na vaga de Edilson Andrade.
Para a solenidade de inauguração das novas instalações da Câmara compareceram os deputados Carneiro Arnaud e Afrânio Bezerra, Desembargador Almir Carneiro, Presidente do Tribunal de Justiça do Estado, prefeitos das cidades vizinhas e o Juiz da Comarca, Dr. Reginaldo Antonio de Oliveira. O descerramento da placa foi feito pelo vereador João Quirino Neto e pelo deputado Afrânio Bezerra. A sessão solene foi transmitida pelas rádios Tabajara e Integração do Brejo, de Bananeiras.