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sábado, 26 de dezembro de 2009

Tempo para o imprevisto


Até 1993, correspondi-me com um poeta carioca chamado Ricardo Alfaya. Na época, eu editava um fanzine de poesia chamado “Alquimia do Verbo”, onde Alfaya publicou alguns dos seus trabalhos de altíssimo nível. Depois, parei de receber cartas do poeta, perdemos o contato.

A última missiva de Ricardo Alfaya tem a data de 27 de dezembro de 1993. Ele fala das indefectíveis metas que a gente se impõe todo final de ano. “Largar o cigarro” é um item infalível nesse tipo de lista, para os fumantes, é obvio. Alfaya disse que todo ano faz sua lista, que é imensa, para no fim cumprir apenas um objetivo que nem consta no rol de promessas de fim de ano, que é cair na gandaia, estar numa boa, pintar o sete e desenhar o oito, mandar brasa, como se dizia antigamente.

Se aplicarmos critérios rígidos, quase ninguém cumpre promessa de fim de ano. Nem os metódicos, que esses já vivem sob controle de si mesmo o ano todo.

Nessa carta de fim de ano e fim de papo, Ricardo tem uma sacada legal. Disse que pretendia apenas reservar sempre um tempo par o imprevisto, “pois nada mais previsível de acontecer do que o imprevisto”. É isso. Reserve sua agenda de 2010 para o imprevisto.

J. Cardias é outro poeta que frequentava o meu “Alquimia do Verbo”. Também carioca, mandou-me o livro “10 Poemas Sentenciosos.” Neste fim de ano, brindo meus seis leitores com micro-poemas, síntese romântica e lúdica da arte de J. Cardias, espécie de haikai:

Palha e aço.
PIEROT.
Palhaço e dor.

Sacis despertam
quem crê em lendas.
Poetas, velhos ciganos
tecem tramas.

Quer viver a emoção?
adolesce o coração
e deixa ninar a razão!

No mais, termino com o fecho da carta do poeta Ricardo Alfaya: “Tudo de bom pra você, um bom ano novo. Qualquer hora lhe envio uns poemas. Muita arte & poesia.”

Grande abraço.

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