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sábado, 9 de maio de 2015

Campanha das moedinhas de cinco centavos

Jerry é um compadre aluado que eu tenho em Campinas, São Paulo. Ele tem o péssimo hábito de puxar o rabo do cachorro, mexer com a cauda do jacaré, enfiar o dedo no fiofó da cobra, rosnar para o lobo e fazer careta pra todo feladaputista reacionário, todo filhote da ditadura e qualquer um que seja metido a opressor. Há quem diga que Jerry já nasceu protestando contra o obstetra pela desvalorização do parto natural, de tanto que esse cabra defende os fracos, os oprimidos, os sem teto, sem terra, sem trabalho e, agora, os sem rádio.

Militante mais que ativo do movimento de rádios livres e comunitárias, Jerry Oliveira acaba de ser condenado mais uma vez pelo crime hediondo de dar voz aos moradores das quebradas e suas rádios de baixa potência. Aliás, os cabras da Justiça e da Agência Nacional de Telecomunicações têm uma sede especial nele. A Polícia Federal perde uma Operação Lava a Jato, mas não perde uma prisão de Jerry, o perigoso. Foi condenado a dois anos e quatro meses em regime aberto, ou pagamento de mais de três mil reais, por ter sido pego com a boca no aparelho sem licença dos home. Decidiu pagar, e vai fazer isso em moedinhas de cinco centavos, só pra matar na unha feito piolho, que esse Jerry é super sacal para a turma da repressão.

Ele pede para a galera juntar moedinhas de cinco centavos, porque o pobre anda mais angustiado do que barata de barriga pra cima, doido pra armar essa molecagem com dona Justa e o resto do sistema. Esse pagamento deve ficar mais pesado do que mudança de ferreiro. Imaginem três mil reais em moedinhas de cinco centavos, a ser pago no dia 1º de julho. “Não concordo com a condenação e pretendo fazer desse limão uma grande limonada. Minha indignação pela injustiça e intolerância dos que reprimem nossa luta pela liberdade de expressão e o direito legítimo de resistência contra ações fascistas do Estado”, disse Jerry.


Já comecei a juntar as moedinhas. Quem quiser colaborar, vai no mercadinho e manda trocar dez reais, por exemplo, em moedinhas de cinco centavos. Ou entra em acordo com o esmoler da esquina, mesmo que você fique mais constrangido que padre em puteiro ao ser visto agenciando e mercadejando com o pedinte. Como os arapongas da repressão costumam ser mais informados do que agente funerário, eles devem estar armando outra prisão para Jerry, desta vez por desacato à autoridade, porque moeda de cinco centavos é dinheiro mais inútil do que buzina de avião e cinzeiro de moto. É que esses caras pensam que locutor de rádio comunitária é mais perigoso que barbeiro com soluço, muleta com rodinhas e mocotó de ontem. Eu, como sou mais ligado que rádio de preso e mais judiado que ovo de ciclista nesse lance de pegar cadeia pelo pecado cruel de montar rádio comunitária, naturalmente fico solidário com meu compadre Jerry e desejo que seu movimento fique mais forte que peido de burro atolado e que os contadores das moedinhas fiquem mais perdidos que Adão no dia das mães e tenham que recontar a dinheirama várias vezes. 

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