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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Microfone de luta




Neste sábado, 01 de novembro, compadre Marcos Veloso estará em Itabaiana e Mogeiro em ato de mobilização pelo movimento de rádios comunitárias. Estamos buscando parcerias para nos auxiliar nessa luta pela democratização das comunicações na Paraíba, e reunindo o movimento social para fazer parte, porque a Associação Brasileira de Rádio e TV, representante das oligarquias midiáticas, não sossega enquanto não ver nosso fim. 

No ano vindouro, vamos tentar fundar a Associação Paraibana de Comunicação Comunitária, Alternativa e Popular – Aparte, reunindo todos os que tenham um perfil efetivamente comunitário, desde o serviço de som do bairro até o jornalzinho da escola, passando pelas autênticas rádios comunitárias e rádio web. Vamos articular um encontro, talvez em janeiro, para definirmos a fundação da entidade e como enfrentaremos os novos desafios e as graves contradições da radiodifusão comunitária em nosso Estado e no país. 

Uma das frentes de luta é nosso programa “Alô comunidade”, produzido pelo Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares, Rádio Web Comunitária Porto do Capim e Coletivo de Jornalistas Novos Rumos, transmitido pela Rádio Tabajara da Paraíba AM aos sábados, a partir das 14 horas. 

Vou logo avisando: rádio que se diz comunitária e está nas mãos de famílias, partidos ou igrejas vai ser azucrinada, não adianta se esconder. E vem novidade por aí na região de Itabaiana.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Disfarça que o Estado vem aí!




Eu sou um sujeito que sempre trabalhou com o terceiro setor, um cara da periferia, dos subúrbios e cidadezinhas quase esquecidas. Já fiz teatro em assentamento da reforma agrária, em escolinhas públicas de sítio. Montei tenda de babau no sítio Linda Flor e me inspirei no velho Mestre Ciço pra fazer boi de reis nas quebradas de Cruz do Espírito Santo, em uma estaçãozinha de trem onde trabalhei. Eu sempre gostei de me ligar a movimentos espontâneos de periferia, esse universo meio caótico da cultura popular onde a própria cultura é muito forte, e viva.
Acontecem coisas incríveis no meio desse povo, mas você precisa de ter grana para trabalhar qualquer projeto. Mesmo que seja muito criativo, sem dinheiro, sua inventividade não chega muito longe. Daí, o caminho é o financiamento público, o que não é muito legal porque você passa a ter que conviver com um bicho chamado burocracia. Primeiro, você terá que registrar em cartório e jogar na corrente da imensa burocracia uma organização não governamental sem fins lucrativos. O cara que transa com linguagens artísticas fica meio doido no meio da papelada, não tem experiência nem saco pra lidar com as leis, as taxas, formulários, prestações de contas complicadas, enfim, esse incrível mundo pouco funcional da burocracia.
Tomemos os Pontos de Cultura como exemplo. A ideia é magnífica: pegar focos de produção e difusão cultural nas cidades e injetar recursos para que se possa estruturar a organização, dando condições e ferramentas para utilização de tecnologia moderna de comunicação como câmeras, ilhas de edição, serviços de som e aparelhagens destinadas à atividade mais importante da entidade selecionada em edital. O problema é quando uma simples associação de bairro, ou escola de samba, terreiro de candomblé, grupo de teatro ou dança, cineclube ou bloco de carnaval precisa concorrer a esses editais. A própria seleção é um calvário. Depois, quando a ONG é reconhecida como Ponto de Cultura, recebe uma grana inicial para comprar os equipamentos descritos na proposta de trabalho. Sem dinheiro para pagar um contador, mais de 80% dessas entidades ficam inadimplentes por causa da imensa dificuldade para lidar com os complexos mecanismos de prestação de contas.
Nosso trabalho no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, em Itabaiana, é reconhecido pela população. Na medida do possível, enfiamos a cara em projetos culturais e educacionais, apenas com a ajuda de alguns amigos. Ontem, tive a feliz surpresa de receber mensagem de uma moça que trabalha na Caixa Econômica Federal, dando os parabéns pelo trabalho desenvolvido e colocando-se à disposição para ajudar. “Sabemos do trabalho responsável e admirável que vocês desenvolvem no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar e resolvemos colaborar,orientando microempresários da região e pessoas físicas que têm imposto a pagar, no sentido de destinar recursos para os projetos sociais e culturais dessa entidade”. Bela e surpreendente iniciativa dessas pessoas, extremamente pertinente a forma de colaborar. Mas, e sempre tem um porém, precisamos ser reconhecidos como de Utilidade Pública Federal, e aí é onde a porquinha torce o rabo. Procurei saber o que é necessário para isso, e, mal comparando, finalmente descobri o elo perdido entre civilização e barbárie. Meninos, é tanto papel e são de tal número os itens de informações inúteis e as exigências que beira o patético e o dramático.
O Estado joga mesmo duro com o cidadão, não tem boquinha. Ainda bem que a poesia e a delicadeza do fazer artístico não se interessa pelos formulários do Leviatã. Vou procurar um cara antenado na antiarte das formalidades para fazer esse diálogo possível entre nossa ONG e os ditames do Estado para que nosso trabalho seja reconhecido de utilidade pública federal. Para mim, é mais relevante que um grupo de jovens bancários entenda a importância do trabalho do Ponto de Cultura e deseje, sinceramente, ajudar.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

REENCONTRO COM ARNAUD COSTA.


Na década de 60, nos idos de 1962 a 1966, na cidade de Itabaiana-PB, conheci e convivi com uma pessoa a qual aprendi a admirá-la, pela simplicidade, inteligência, pelo seu senso de humor e pela vontade inconteste de ajudar aos necessitados.

Trata-se de Arnaud Costa,figura carismática, baixo,magro, meio calvo e sempre eu dizia que ele falava sorrindo, na época era funcionário da Prefeitura e um dos baluartes da extinta Folha, jornal que existia em Itabaiana para o qual por algumas vezes escrevi alguns artigos.

Viajei em 1966 para o Rio, retornando em meados de 1970, e durante a minha trajetória de vida, e por conta da Profissão que exercia, passei por vários Estados, vindo a fixar residência em Campina Grande, e durante todo esse período não mais mantive contato com o mesmo, nem tampouco havia tido notícias.
Por ironia do destino encontrei no Facebook o seu filho Fabio Mozart, o qual me deu as coordenadas sobre o Arnaud e onde o mesmo residia atualmente, em Sapé-PB.

Na quarta-feira passada, dia 22, fui a Sapé e fiz uma visita ao grande Arnaud Costa, a alegria e a emoção ao reencontrá-lo foi imensa, conversamos e rimos a vontade. Ele apesar da conta dos anos, continua sorridente como sempre foi no passado.

Para celebrar aquele encontro de mais de 40 anos, registrei em foto a qual posto aqui, e para que o reencontro tivesse um registro maior, o mesmo me presenteou e autógrafou o seu livro “ MEMÓRIAS ESPARSAS DE UM RÁBULA”, o qual devorei rapidamente cada palavra e a minha admiração ficou maior, Ele relata algumas passagens suas, nos tribunais do Juri quando por devoção e amor defendia os menos favorecidos como Rábula.

Voltarei a visitá-lo grande Mestre, por várias outras vezes e com certeza ainda iremos rir bastante de muitos causos e casos.

João Wilson Luna Freire



segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Gracias a la vida


Foto de 1998, eu na ponte sobre o rio Paraíba, no lugar Entroncamento, município de Cruz do Espírito Santo na Paraíba do Norte. Meditando sobre a grandeza do rio e sua fragilidade na frente da ganância dos homens. Rio tapado, rio sugado, espremido, corrompido, poluído.

A suprema verdade das coisas será revelada a todos, no final. Ninguém muda a natureza impunemente. Para justificar o injustificável, certas “autoridades” tentam manejar projetos de leis oportunistas, para a exploração da areia do nosso rio.

Angústia de meia dúzia de pessoas que têm consciência do valor histórico, cultural e econômico do rio, além de seu supremo interesse para o ecossistema da região. Vereadora Rosane Almeida, de Itabaiana, é uma dessas pessoas. Seu grito parou a tentativa da Câmara local votar projeto de lei abrindo as portas do rio para os empresários de Pernambuco.

Se Deus existe, Ele responderá ao labor de gente dessa natureza, que não tem medo de defender essas causas tão essenciais para a humanidade. Interromper a cena escabrosa de entrega do nosso patrimônio natural é um ato de heroísmo, porque as forças contrárias, o poder do capital, são poderosos. Sua opção pela vida a faz crescer em meu conceito, senhora vereadora Rosane. O povo, mesmo sem saber, quer seu rio como sempre foi, quer rebanho e lavoura, quer piaba e capim, quer pescaria e banho saudável, quer suspirar e dizer, como diz o camponês no Uruguai e o pescador no Peru, o lenhador no Chile e o ribeirinho na Paraíba: “Gracias a la vida”. 

domingo, 26 de outubro de 2014

POEMA DO DOMINGO






Xilogravura de Josafá de Orós


PELEJA DE SANDER LEE E FÁBIO MOZART NA FEIRA DE ITABAIANA



MOTE: O universo da feira
Cantador nenhum não canta


Poeta, siga em frente
No embalo do meu pinho
Vamos cortar o caminho
Entrando noutra vertente
E para ser coerente
Meu poetar se levanta
Com um ronco na garganta
Que estremece a ribeira
O universo da feira
Cantador nenhum não canta.


Na cadência de um martelo
Ou na marcha da sextilha
No quadrão, em qualquer trilha
Eu seguro esse duelo
Se você brincar eu melo
A sua fama que espanta
Pois meu cartaz se agiganta
Desrespeitando fronteira
O universo da feira
Cantador nenhum não canta.

Na feira tem poesia
E um festival de cheiro
O ceguinho no pandeiro
Multidão e carestia
Tudo isso é alquimia
Que no cérebro se implanta
Faz mixagem e a Musa canta
Com imagens de primeira
O universo da feira
Cantador nenhum não canta.

O pião na feira roda
Galo canta e a gata mia
Se ouve o chiar da jia
O camelô cria moda
A difusora incomoda
Com um ruído que espanta
Rato, peba e salamanta
São chamariz de primeira
O universo da feira
Cantador nenhum não canta

Feira quando é mesmo boa
De Natal ou ano novo
Grana no bolso do povo
Nesse dia a “paia avoa”
Sem faltar uma pessoa
A cidade se levanta
Barraqueiro vende “fanta”
Como água em cachoeira
O universo da feira
Cantador nenhum não canta

Quando eu era pequenino
Botava o banco de Joana
Minha vó em Itabaiana
Junto com ave e caprino
Ela vendia com tino
O café, almoço e janta
No “hotel” daquela santa
Era grande a fumaceira
O universo da feira
Cantador nenhum não canta.

F. Mozart