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terça-feira, 29 de julho de 2014

ADEILDO VIEIRA


Três artistas populares, três cachorros da mulesta! O mais novinho, Marlen Silva, é a sensação da arte de tocar violão em Itabaiana. Aprendeu com o mestre Vital Alves no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Adeildo Vieira dispensa apresentações, e é colaborador do Ponto de Cultura. ““Minha arte hoje está mais comprometida com a construção de pessoas do que sua repercussão midiática. Quero chegar mais junto do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar”, afirmou Adeildo.


Caro poeta Fábio Mozart:

Sua postagem um tanto melancólica em texto recente na TOCA DO LEÃO fez com que eu escrevesse sobre a esperança que tenho na vida a partir de pessoas como você, cujos valores artísticos e morais me inspiram, assim como a capacidade de se fazer perene no ofício de manifestar a poesia em tudo o que faz, com humor e amor.
Abaixo lhe mando o texto da minha coluna deste domingo no jornal A União, que se contradiz com meu estado de espírito manifestado na coluna em 20/07. Na verdade, sou um cara esperançoso e isso é o que me faz rebater o tédio que ronda os dias.
Adeildo Vieira

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Esse trem não para!

Adeildo Vieira

Não, os redutos da beleza não estão se esgotando. Ainda que uns manipuladores do belo larguem para sempre o nosso convívio, deixam eles a inspiração para quem se arvora ao ofício de manter a vida nos trilhos da poesia. Em menos de uma semana ficamos sem a vigorosa presença de João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves e Ariano Suassuna. Isso na mesma semana em que nos horrorizamos com pesadas cenas do longevo conflito no Oriente Médio, lamentamos a queda de um avião civil abatido por um míssil nos céus da Ucrânia e vimos repercutir a notícia de que soldados de polícia executaram mais um jovem no Rio de Janeiro. Mas, digo que nem com esta subtração da beleza e esse frenético e exponencial crescimento da tragédia eu perco a esperança na humanidade.
A poesia é instituto perene na vida e o que a mantém em ligação permanente com os dias são os agentes que se prestam à ocupação de resolver equações complexas com teoremas que juntam as incertezas e os aspectos da beleza de nossas vidas, apontando caminhos possíveis nos aparentes becos sem saída. E há mais desses agentes nos recantos do cotidiano do que possamos imaginar. A ida sem volta de personalidades como as que citei acima deixa uma lacuna pra sempre aberta, já que são únicos no seu jeito de exaltar a grandeza do que somos e as possibilidades do que podemos ser através de sua poesia amalgamada numa obra de tamanha importância para cada um dos que acreditam na vida e seus movimentos. Mas há infinitas formas de manipular a poesia. Cada voluntário dessa brigada, que se renova a cada dia, traz seu jeito único de lubrificar as engrenagens da vida, tornando-a possível e suportável.

Não me canso de tentar identificar pessoas que de alguma forma trabalham para fazer a vida valer a pena, algumas com obras significativas, outras que fazem isso apenas com a simples manifestação de valores que resultam e atitudes dignas de uma pintura. Melhor do que encontrá-las é acostar-se a elas e sentir seu jeito de olhar, a cor de seu sorriso e o balé de sua caminhada rumo ao horizonte. Assim como os calorosos amigos que nos deixaram esta semana, procuro exaltar a grandeza de viver em personagens do cotidiano, que são tantos e que de certa forma explicam o que somos e o que queremos no difuso e ardiloso caminho que se nos apresenta. E assim vou formando meu clã, que faz com que eu me sinta sempre acompanhado e promovendo o bem estar da minha esperança em dias melhores. Não me deslumbro com multidões, mas com pessoas que carregam o mundo dentro do peito.

Mas, gostaria de endereçar este meu recado com uma declaração confessa de esperança a meu amigo poeta Fábio Mozart. Ele aparentou-me angustiado em texto seu que li esta semana no seu blog “Toca do Leão”. Parece que a melancolia andou visitando aquele bardo, quando em certo momento sentiu a vida lhe escorrendo por entre os dedos, numa revisitação às suas relações com o passado. Quero dizer a meu amigo que ele habita o meu clã da esperança, já que insiste em se ocupar de reconhecer a dignidade colhida nas ruas, nos terreiros e quintais das nossas relações com o mundo. E este é um dos paradigmas mais fortes para minha inspiração. Nunca tive notícia de um trabalhador aposentado que trabalhasse tanto nos elásticos horários do dia. O ex-ferroviário agora conduz locomotivas históricas que arrastam trens carregados de personagens que a história oficial sequer se digna a reconhecer. Pois bem, caro Fábio, cá estou eu na estação, legitimando a viagem desse trem rumo ao futuro. Vamos mantê-lo nos trilhos da dignidade e da poesia. Assim como você, esse comboio não para.



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