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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A Rua Zé da Luz e o Conjunto Costa e Silva



Romualdo Palhano

     Nossa peregrinação em Itabaiana, de casa em casa, bairro em bairro, aconteceu em casas alugadas, exceto a casa da Travessa da Rua da Palha, que meu pai tinha adquirido com o dinheiro da pequena casa que havíamos deixado na Rua Jardim Amazonas na cidade de Nova Cruz – Rio Grande do Norte, dinheiro este que depois se transformou numa televisão. E também a casa da Rua Zé da Luz, nossa última residência em Itabaiana, que meu irmão Ecílio Rodrigues Palhano, conseguiu adquiri-la após ser aprovado em concurso público e contratado para trabalhar no antigo BEP – Banco do Estado da Paraíba, depois Paraiban. Em 1978 eu estava cursando o primeiro ano científico, hoje ensino médio. Foi um dos mais difíceis períodos da minha vida. Com a eliminação de ramais deficitários a malha ferroviária havia reduzido de 38.339 quilômetros em 1960 para 30.300 quilômetros de extensão em 1970, gerando grande tendência no Brasil à política de implantação do transporte rodoviário. Este fator se refletiu na mesa de minha casa. Em 1975 a empresa adquirida pelo Governo Federal deixa de ser Rede Ferroviária do Nordeste – RFN e passa a ser Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima – RFFSA.

     Meu irmão Ecílio Palhano, que havia trabalhado como aprendiz no escritório de contabilidade de Seu Israel Elídio de Carvalho, que se localizava perto do Colégio Nossa Senhora da Conceição; como contador na farmácia de Júlio Bernardes e depois como caixa do BEP, mudou a sua e a vida de nossa família ao comprar uma casa na Rua Zé da Luz no Conjunto Costa e Silva. Nessa época ninguém queria morar naquele conjunto residencial, inclusive algumas casas estavam abandonadas. Relembro que muitas rolinhas morriam porque se ofuscavam com as paredes brancas daquelas casas. Pobres rolinhas, depois assávamos e as comíamos. Não só deixamos de pagar aluguel como também a mobília da casa foi aumentando e se renovando; a primeira estante de livros. A primeira geladeira, tudo foi adquirido a partir do salário do meu irmão.

     A Rua Zé da Luz nos facilitou uma relação ainda maior com o Colégio Estadual Dr. Antonio Batista Santiago, pois se localizava no mesmo bairro da referida escola. Foi nessa rua que iniciei meus primeiros namoricos e dei o meu primeiro beijo com gosto de sexo numa menina que para mim era linda. Seu apelido era “linda”, filha de Neta de Sarí.

     A casa ficava na parte mais alta daquela rua, mais acima havia um grande terreno baldio (onde atualmente passa o asfalto que vem de Pernambuco), ali meu pai tinha um pequeno roçado para sua cultura de subsistência; batata doce, feijão, abóbora, milho, fava entre outros alimentos. Na época de São João, milho era o que não faltava em casa e como meu pai era ferroviário, conseguia dormentes velhos e sempre fazia as mais bonitas fogueiras de São João.

     Adailton José de Lima (Duda) foi um dos meus colegas de infância, comprávamos aqueles bonequinhos de índios e bandidos que vinham com bombons e brincávamos à vontade. Já adolescente e sem dinheiro resolvemos beber socialmente uma cerveja na famosa sorveteria de Mário, cujo proprietário era conhecido como “Mário da Sorveteria”. Foi necessário um espaço de três horas, para que eu e Adailton pudéssemos deglutir a referida cerveja, que foi dividida democraticamente entre nós dois, tanto o líquido como o pagamento da mesma. De fato, o objetivo não era bem a cerveja, mas a vontade de sermos vistos e nos sentirmos importantes, como também paquerar as garotinhas daquele pedaço. E ainda de estarmos num espaço socialmente requisitado.

     Nessa noite a filha de Mário, que estava atendendo no balcão, não soube lidar com a venda de cachorro quente; o gás escapou fazendo surgir grande labareda de fogo. Mário entrou em ação e habilmente pegou um extintor e dominou o fogo daquele cachorro quente. Depois de terminado a cerveja e com medo de morrermos queimados, voltamos para casa.

Seu João das Selas e Arreios


     João José de Lima era mais conhecido como João Cará. Por fabricar as melhores selas de couro com a intenção de estreitar a relação de cavalos e cavaleiros, vendia selas e arreios em toda a região do Vale do Paraíba. Seu produto que era praticamente artesanal e de primeira qualidade. Era procurado por fazendeiros e boiadeiros de vários outros estados da Região Nordeste. Sua casa era sua indústria e sua indústria era sua casa, situada no Conjunto Costa e Silva à Rua Batista Freire, número 12. Todos os filhos participavam na fabricação e na montagem das selas além de vizinhos, quando se fazia necessário de acordo com a demanda da época.

     Na década de 1970 a melhor festa de passagem de ano novo (31 de dezembro) era na casa de Seu João e Dona Severina. A festa era uma fartura, havia de tudo, refrigerantes, comidas diversas, conversas paralelas, músicas de sucesso da época e muitos abraços de confraternização. A casa ficava repleta de amigos e familiares que se reuniam para comemorar essa data tão festiva.

(Do livro "Eu e a Rainha do Vale", de Romualdo Palhano)














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