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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Professora Nini Paes contra o PSD de Mário Silveira



Jurandyr Noronha citando o historiador Taunay: “O Brasil é um país jovem que, por isso mesmo, ainda não tem muita história para contar. Mas o pior é que nem esse pouco ele conta”. Parte considerável da nossa memória histórica está irremediavelmente perdida porque não foram feitos registros, perderam-se com o desaparecimento das pessoas que vivenciaram os fatos. 

O descaso e a imprevidência deixaram as novas gerações sem saber de muitos fatos do nosso passado. Um povo sem história é um povo sem memória. Louvo iniciativas como a do ilustre confrade Luciano Marinho e da nobre confreira Margaret Bandeira no intuito de contribuir para que a História do município de Itabaiana não seja esquecida. Está aí a Associação Memória Viva, objetivando reconstruir o passado histórico, condição essencial para se entender o presente e projetar o futuro. 

A Toca do Leão e o jornal Tribuna do Vale também apresentam esse desiderato, ainda mais com o pensamento em levantar a baixa estima de Itabaiana, abatida por tantas negatividades e vergonhas, ao longo dos anos carente de políticas públicas em quase todos os setores, sofrendo uma triste decadência.  

Remontando a memória da educação na terra do professor Maciel e da professora Marieta Medeiros, trago hoje depoimento da minha ex-professora Nini Paes para tese de mestrado na Universidade Federal da Paraíba, defendida por Enoque Bernardo da Silva.

Em primeiro lugar eu tinha em casa minha mãe, ela sabia corrigir muito bem a gente o português e gostava de ensinar, então ela me alfabetizou, com a Carta de ABC, sofri muito porque eu não tinha memória para desenvolver naquela época, não desenvolvia de maneira nenhuma, pensava minha mãe que eu preguiçosa para estudar, mas não era, com o tempo então, eu comecei a melhorar de sorte e sai da Carta de ABC, não queria saber nem que ela existia, passei para a Cartilha das Mães. A Cartilha das Mães, ainda muito difícil para soletrar, porque tinha que dizer a palavra, mas dizer soletrando para poder dizer, dizia, diga por cima, por cima dá para dizer a palavra correta. Então, eu fui muitas vezes de castigo, sofri um bocado, mas estou aqui. Daí, quando terminei essa cartilha entrei para o primeiro ano, primeiro livro e depois para o segundo livro. Quando eu estava nessa situação, aí eu já estava mais ou menos com uns oito anos, eu vim pra cidade, eu morava no sítio. Pai tinha uma prima carnal, Ana Paes Barreto e ela vivia só, então ele conseguiu que eu ficasse na casa com ela, servindo de companhia e ela me ajudando.

Fiquei na casa de Nina o tempo que eu precisei, eu fiquei lá. Daí por diante eu já me transferi para outra casa, era um colégio, chamado Santa Terezinha, que funcionava aqui na frente do Coreto, na Praça Manoel Joaquim de Araújo, nº 25, era a casa grande, mas a outra era mais além, era quase vizinha, passando uma casa se via a outra, a outra era a casa de morada da professora e servia de internato e junto o colégio que era conjugado com a casa grande de morada. A minha professora era Geracina Lins de Souza Filha, conhecida por Didi Lins, ela era uma professora das professoras, muito culta, muito boa, muito compreensiva, muito pontual, muito responsável. Então, eu terminei meu primário com ela, daí, eu fui para o Colégio das Neves, por intermédio dela e meu pai já estava meio assim comigo porque eu queria ser professora e ele não queria. Então eu consegui através dela, venci, e passei a fazer o exame de admissão no Ginásio, aí passei cinco anos no Colégio das Neves interna da primeira até a quinta série do Ginásio. Terminando o Ginásio eu queria o normal, então, nesse caso eu fiquei na escola, no antigo Liceu, lá me formei, depois de dois anos.

Como a senhora entrou para o magistério público?

No dia da minha formatura, o paraninfo, Rui Carneiro, prometeu a todos os formandos, porque tinha rapazes estudando conosco, que ninguém ficaria sem o emprego, sem uma escola para ensinar, resultado final foi que eu fiquei sem escola, eu não fui contemplada. Fiquei esperando, todos os meses eu ia ao Departamento de Educação procurava dar uma injeçãozinha, mas não havia jeito, os políticos andavam atrás de mim, porque eu era da UDN e eles eram do PSD, então nesse caso eles estavam vendo que eu queria vencer, então procuraram me prejudicar, mas o certo é que mais tarde eu consegui minha nomeação. Numa das vezes que eu fui com madrinha Didi ao Departamento de Educação, levei uma carta de Monsenhor Francisco Coelho que era o velho pároco daqui da cidade e gostava muito de mim, me deu uma carta em mãos para entregar a Carlos Coelho, entreguei. Carlos Coelho tinha sido meu professor na Escola do Curso Normal, então ele disse: eu não posso fazer nada por você agora, mas vamos esperar uns dias que eu lhe dou uma resposta. Depois de uma semana ou quinze dias foi estampado no jornal o meu nome, Severina Paes de Araújo, para o Grupo Escolar Padre Ibiapina, então lá me entregaram a quinta série do primário, fiquei ensinando e daí por diante passou para o Grupo Escolar Camilo de Holanda, como construíram um grupo lá perto do hospital, mas já fora da cidade chamado Professor Maciel eu fui com outras colegas minhas, nós fomos transferidas pra esse colégio, nós fomos então as fundadoras do Grupo Escolar Professor Maciel, aí, ainda ensinei pouco tempo, passei a ser diretora do estabelecimento.

Os líderes políticos locais interferiram na administração do Grupo Escolar quando a senhora foi diretora?

Interferiam, e muito. Cada um com seu partido perseguindo os professores, trazendo até professores que não tinha necessidade nessa área, eles traziam, contanto que fizesse a perseguição do outro para sair. Fazia muito isso, e constava daqueles políticos que tinham da UDN e PSD. Esses dois partidos eram completamente inimigos um do outro. Eu era perseguida na diretoria do Professor Maciel.

Mas, eu tinha um amigo, Ivan Rabelo que era amigo de Pedro Gondim, e Pedro Gondim estava substituindo um dos Borges, o velho Borges, estou esquecida do nome dele. Então, esses que eram do PSD, tudo era contra mim, para me tirar e colocar seus favoritos, mas não conseguiram, não conseguiram, porque Ivan Rabelo foi a Pedro Gondim, porque eu mesma fui testemunha de uma vez, cheguei à secretaria, nesse tempo não era mais departamento, não lembro mais, eu cheguei lá e tinha uma pessoa no gabinete, a menina disse: “Dona Nini, a senhora não pode entrar agora, porque Mário Silveira está ai”. Aí, eu pensei: já sei que tem carrego. Está certo, eu espero. Daqui a pouco saiu, e era Mário Silveira que estava no gabinete. Quando fui entrando, nesse tempo não era Dom Carlos Coelho, era outro, estou esquecida, me falha a memória no momento, quem era o diretor do departamento naquela época, então ele me perguntou: “Que mal a senhora fez a Mário Silveira?” O mal que fiz a ele é que eu sou contra o partido dele, mas não falo dele e deixo para lá. Então o secretário disse: (...) esse homem, com uma equipe, vai constantemente ao palácio pedir para a senhora ser retirada da direção do Grupo Escolar Professor Maciel. No entanto, Pedro Gondim fez uma proposta: (...) quero que vocês tragam por escrito o que vocês têm contra esta moça. Eles não foram mais lá. Por que? Porque não eram verdadeiros, porque eles não falavam a verdade.

 LEIA MINHA CRÔNICA SOBRE DONA NINI NO ENDEREÇO:

Um comentário:

  1. D. Nini , registro vivo da educação em Itabaiana. Reconheço os méritos dos professores Itabaianense, mas D. Nini no meu ponto de vista é um referencial á parte, porque se fez presente em todas instituições de ensino da cidade, tenha sido elas de elite ou não.Recentemente estive em Itabaiana e tive o prazer de rever essa inesquecivel mestra.Estava ela sentadinha na Igreja Matriz assintindo a missa.Terminada cerimônia me apresentei a ela, e segurando suas frageis mãos, perguntei. Dona Nini, lembra-se de mim? E, ela com seu olhos azuis cansados pelo tempo, olhou para mim e disse. Me dê um minuto. Em seguida olhou pra e disse, você é Orlando, ex-aluno meu e caso com Jane, de Mada. Ai não deu outra, a lagrima rolou dos meus olhos, pois fazia mais de 30 anos que não me via. Que memória, que exemplo.
    Orlando

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