Barata apresenta horóscopo de Madame Preciosa em cordel
RÁDIO BARATA NO AR – 401
Barata comemora 400 edições sem tirar de
dentro do contexto
RÁDIO BARATA NO AR – 400
Vida de sedentário
10 MINUTOS NO CONFESSIONÁRIO -108
https://www.radiodiariopb.com.br/vida-de-sedentario-dez-minutos-no-confessionario-episodio-108/
Barata
roqueira dá uma de Rita Lee tocando o punk rock do Véi da Van
RÁDIO BARATA NO
AR – 399
Barata é arrebatada até ao inferno onde os
exaltados são humilhados e não pagam dízimo
RÁDIO BARATA
NO AR – 398
Barata viraliza ao explicar o escândalo da bisteca do velho Bozó
que deu BO
RÁDIO BARATA NO AR - 397
O homem que beijou
uma barata pensando que era Rita Lee
RÁDIO BARATA NO AR
– 396
Para se comer uma jaca, planta-se
a dita cuja oito anos antes. O abacateiro leva três anos para começar a
produzir. Com dezoito meses você já pode consumir seu abacaxi. Se quiser
acelerar o processo, utiliza-se carbureto de cálcio. Essas são instruções que
recebo do caseiro de uma granja vizinha, enquanto semeio meu quintal. Nem
sempre tenho sucesso com as sementes. A terra não ajuda, mas eu vou repondo os
nutrientes, adubação orgânica, esses macetes que vou recebendo na cumplicidade
do velho cuidador do solo, um homem dedicado ao plantio e à colheita como forma
de ver o mundo, se é que me entendem. Já tenho até colheitas de frutas
incomuns, como o achachairu, natural da Bolívia. Sua safra foi um louvor para
este agricultor despreparado. Serve para desestressar, inspirar e baixar o
santo do cultivador diletante no terreiro. O achachairu adoçou bocas que
merecem beijos. E para as bocas que não fazem jus a osculações, cachaça nelas!
É que a fruta doce não serve como tira-gosto. Para isso tenho a acerola e o limão.
Meu alquebrado orientador, velho de uns 80 anos de idade, pra começo de
conversa, manja de árvores, passarinhos, cachorros, roças, porcos, vacas,
ovelhas, galinhas e abelhas. E sentimento humano de alegria no parto da
vaquinha, tristeza na morte da porca, raiva das cobras, medo dos relâmpagos e
desprezo por qualquer coisa que não seja seu ínfimo universo rural. “Não tem
medo de viver só, aqui nesta granja?” “Tenho não. Aliás, ter eu tenho, às
vezes. Mas não é defeito, é porque o medo ensina a gente a ver até onde pode ir
sem cair no buraco. A onça fica velha, mas não perde as pintas”. Eu vivo também
hermeticamente nestes ermos, pedindo a benção ao velho lavrador. Por acidente,
sorte ou destino, eis-me aqui nesta serra isolada, na calma aceitação do fadário.
Nas amarguras, tomo suco de maracujá. Para ansiedade, vou de caju. Depressão se
cura com banana. Manga é bom pra dar disposição e força. Acerola é nota dez no
combate aos vírus. Mamão remedeia até aflição. E achachairu é o charme do
estrangeiro, junto com o desgosto de pensar que jamais iremos provar as três
mil espécies de frutas que existem no mundo e suas infinitas variedades.
Este inviável lavrador, que sou eu, faz diariamente uma espécie de revista
nesse ambiente campesino, onde a vida vibra e palpita nos sapos, galinhas,
insetos, passarinhos, gatos, lagartixas e eventualmente uns camaleões e saguis,
escondendo-se do gavião-peneira que ronda no espaço aéreo. Tudo ali floresce,
cresce, pulula e viceja na palpável energia das coisas vivas. Cada bicho ou
planta reclama seu lugar ao sol, ou aos túneis, como as minhocas. Cabe a mim o
dever de escrever essas crônicas semirrurais para registrar, por exemplo, que
nosso sapo de estimação, o Siba, morreu em acidente idiota. Caiu em uma bacia
com água sanitária. O bicho não resistiu ao hipoclorito de sódio em alta
concentração e foi a óbito. Já chegamos a adotar um caranguejo. Há um ato de
clara virtude ao se proteger e adotar cães e gatos, principalmente se for um
bicho abandonado. O filósofo Mauro Arruda doutrinou: “"Sem raça, sem
graça, sem pedigree, sem destino, sem futuro, sem rumo, sem valor. Só quem
adota um vira-latas sabe sua real importância...” E quem adota um caranguejo? E
um sapo? São momentos únicos e superiores em que um ser humano se apieda de um
animal irracional e por ele demonstra afeição, porque o bicho inspira ternura.
Mesmo que seja um animalejo feio como esse anfíbio.
Enquanto isso, no meu toca-discos três-em-um, Gilberto Gil vocaliza: “Abacateiro,
teu recolhimento é justamente o significado / Da palavra temporão / Enquanto o
tempo não trouxer teu abacate / Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão.” Eu
complemento: e madrugará achachairu. De que fala o genial Gil na sua obra-prima
Refazenda? Remete ao retorno ao seu mundo rural do sertão nordestino. A poesia
surpreendente do mestre baiano faz citação ao equilíbrio orgânico. Quem sabe, é
essa conexão com a natureza que me converte de vez em quando no moço lírico e
utopista que um dia fui. Engraçado que nesta canção, Gil fala: “Abacateiro
acataremos teu ato”. Interpretava-se como referência ao verde das fardas dos
militares que davam as cartas naqueles tempos de chumbo, meados dos anos
setenta. O Ato Institucional Nº 5 foi o decreto determinante da ditadura. A
canção é, entretanto, um belíssimo hino lírico ao chamado ecossistema, um canto
ambiental quando na época pouco se falava neste assunto.