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terça-feira, 1 de março de 2022

W.J. Solha discorre sobre a poesia de Fábio Mozart

 


“Penso que Fábio Mozart pega ideias como quem caça borboletas: ágil, com extrema facilidade. Passou perto, encaçapa! Neste POEMAS MALDITOS EM PROSA, VERSO, GESTO E GRITO, com cerca de 300 poesias – a maioria de 3 versos – ...encaçapei algumas (você escolheria outras).

Veja esta, surreal:

Era um anjo encouraçado

mais pesado que o ar

não decolou, o coitado!

Todo mundo adora o Dom Quixote do Cervantes. Mas ao ver tanta gente - como o velhote magro - fazendo das suas, o poeta põe no caderno de notas:

Sinceramente, lamento

Guerra de cabeça oca

Contra moinho de vento

Ou pior seria o contrário?

Alheio a tudo

Viveu discreto

Como um surdo-mudo

Nada lhe escapa. Mapa-múndi dá nisto:

No mar semântico

Sou um homem Pacífico

Às vezes Atlântico

Não sei se ele se refere a si próprio, crítico, enquanto comemora seus 50 anos de poesia, ou se se coloca em lugar de quem não tem isso para se orgulhar:

Perdi o bonde da história

Cheguei atrasado e mal

Mas fixei na memória:

O destino é pontual.

Por que escreveu tanto? Porque

Em sua passagem pela terra

Aprendeu que o bom cabrito

É o que mais berra.

Transfere a própria urgência poética para um de seus ídolos:

Pancada de Zé Limeira:

“No dia que eu não cantar

Leve meu couro pra feira”.

Mas o tempo... passa.

Dialética fome:

Eu como o tempo

E o tempo me come.

Mas e o que já fez não basta?

Escrito no muro:

Nostalgia é inestético.

Passado não tem futuro

Selecionei estes, de seus 300 poemas, e ele se entristece:

Seria quase um rei

Se todos me perguntassem

As respostas que sei

Mas a gente é para o que nasce. Claro.

Pobre liberdade

Espremida entre a fome

E a necessidade.

Quem fica parado, porém, é poste. E, exatamente como fiz em meu 1/6 de Laranjas Mecânicas, Bananas de Dinamite, diz:

Preciso começar de novo

Preparar a eclosão

Dentro do ovo

 “Preciso começar de novo” – ele disse. Por que esse “preciso?” Porque “A arte existe porque a vida não basta” – disse o Gullar. E ele:

A vida é só

Cinquenta por cento

O resto eu invento.

Ô, um poema de duas linhas! Mas... genial:

Ela guiou minhas mãos

Ao caminho das Índias

É muito bom saber que temos tanta gente brilhante escrevendo na Paraíba. E aí está: FÁBIO – Bach, Schönberg, Beethoven, Stravinsky, Siqueira? – MOZART.

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