O radialista, poeta cordelista e dramaturgo Fábio Mozart
acaba de lançar um opúsculo em formato de bolso com o título “Poemas malditos
em prosa, verso, gesto e grito”, tentativas de haicai, tercetos que reduzem ao
mínimo a imagem poética. Nos gestos e gritos miniaturizados, Fábio recomenda a
leitura do livrinho em filas, sanitários, praças e ônibus. Baratinho, o livro
foi produzido abrindo os direitos autorais. Diz a legislação que “aos autores pertence o
direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras,
transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar”. O autor Mozart quer
que o usufruto da obra seja de todos, de maneira comercial ou apenas moral. Ele
avisa:
Contrariando a lógica
do mercado salafrário
o poema circulando
na praça e no
sanitário.
Que a indústria
cultural “ilumina como engano a massa”, conforme Theodor Adorno, isso já se
sabe desde as peripécias de Monteiro Lobato na tentativa de criar um parque
gráfico acessível para o autor nacional e uma base de leitores interessados no
que nossos escritores têm a dizer. A poesia de Fábio Mozart circula entre
amigos e nos sebos. Sua ideia determinante é produzir arte no teatro e na
literatura, enquanto dissemina empreendedorismo social e cultural. Criou grupos
teatrais, rádios comunitárias, times de futebol, associações de artistas,
jornais e academias. Conheci o dito cujo na década de 1980, no movimento
teatral amador da Paraíba. Ele vivia em Itabaiana, cercado pela influência de
prodígios feito Zé da Luz, Sivuca, Ratinho, Vladimir Carvalho e mais
recentemente, Jessier Quirino, vindo de Campina Grande para “salvar o que
estava perdido”, parodiando o evangelista. Sim, porque a cultura popular acompanha
a decadência da sociedade moderna. O pensamento mágico e espiritual, a memória
coletiva, os valores artísticos do povo nunca estiveram mais ameaçados. Daí a
importância do trabalho de um Jessier Quirino.
Mas eu falo da poesia
de Fábio Mozart no livrinho “Poemas malditos em prosa, gesto, verso e grito”,
que esta não tem raiz no pensamento e na forma do folheto tradicional da
literatura de cordel, outro vetor da criatividade deste pernambucano, radicado
na Paraíba há mais de meio século. Tive o prazer de inaugurar uma de suas
crias, o Teatro de Bolso Nautília Mendonça, em Itabaiana, improvisado em um
galpão. O teatrinho fechou, sem sustentação alguma dos tais órgãos públicos,
como aconteceu com o nosso Teatro da Juventude de Cruz das Armas, o JUTECA em
João Pessoa. E Mozart sempre foi descrente dos tais entes públicos e das
divindades. Isso evidencia-se no verso:
Desconfiado
de Deus e da ciência
morreu
com um pé atrás
ponto
final com reticência...
O livro é farto em
concepções e imagens anarquistas. O autor sempre combateu o fascismo cultural,
e hoje, nesses tempos assombrosos de atraso e decadência cultural, o velho
poeta ainda arregaça as mangas da camisa bastante gasta nas suas inúmeras
atividades democratizantes, humanizadoras e solidárias. Criador progressista,
Mozart não tolera ser chamado de poeta. “Sou trabalhador ferroviário”. Aqui e
ali, o livrinho fala de ternura. “Nesses tempos de ódio, amar nos faz
revolucionários”. E o velho ferroviário não planeja encerrar seu ofício na
estrada de ferro da arte nem tão cedo. Assim ele finaliza o livrinho, que recomendo:
Reinstalei
a memória
que eu
pretendo ser
uma longa história.
(Bento Júnior - Poeta, professor e ator)
Fábio Mozart, um menestrel atuando a todo vapor em defesa da nossa literatura, de quealidade.
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