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segunda-feira, 16 de março de 2020

Aquele abraço!





É necessário reafirmar a ética e o amor. Inadvertidamente ou não, o médico Drauzio Varela abraçou uma pessoa encarcerada, autora de crimes hediondos. A matilha sentiu necessidade desvairada de trucidar o médico com seus dentes impostores. Apologistas do ódio, tendência em alta.

No outro dia, compadre meu transitando com sua bicicleta Monark Barra Circular, desviou do ônibus Geisel Circular e foi esbarrar no carro da madame. Quebrou um pedal, furou o pneu do carro e sofreu ligeiras escoriações, como se diz nos boletins policiais. A motorista, aflita, desceu para prestar socorro. “Desculpe, senhor! A culpa foi minha. Eu com a cabeça quente, acabo de brigar com meu marido, não vi sua bicicleta”. Ofereceu-se para levar o padecente ao hospital, disponibilizou algum numerário para despesas médicas e pediu para rezar o joelho do meu compadre. O velho e chato ciclista esqueceu o padecimento e, conforme testemunhas, permitiu que a madame entoasse uma estranha oração oriental. “Não era da galera do Alá, porque a moça não orou voltada para Meca”, observou o compadre, que é desses tipos conhecedores de todas as ciências humanas, incluindo as preces.

Ao fim, a moça pediu para dar um abraço na vítima. O mau humor do padecente desapareceu no abraço energizado da madame. “Rapaz, eu senti um vigor moral, foi o melhor abraço que alguém me deu!”, revelou o ciclista macróbio e malcriado. Ele foi embora, olhando para trás e mancando, contemplando com um devoto olhar aquela senhora tão simpática e deferente. Seu escudo de ceticismo na humanidade do gênero humano derretendo ao sol da compaixão. Recusou o dinheiro. “Seu abraço foi minha indenização”, confessou, ao ser interrogado pelos outros compadres.

Qual a diferença entre abraçar um criminoso e apertar ao peito outro ser humano carente, prostrado e tensionado? Esquerda e direita são lugares relativos da política. Nesse caso, diante do rancor e hostilidade dos anti abraços, os favoráveis aos amplexos gerais e irrestritos são de esquerda. Por isso se diz “amigos que ficam do lado esquerdo do peito”. 


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Editorial da revista FOLHETO


Tenho 65 anos e aos sessenta fundei a Academia de Cordel do Vale do Paraíba, em Itabaiana. Antes, havia fundado três jornais, três rádios comunitárias, um time e uma liga de futebol, uma associação de bairro, duas entidades culturais e dois grupos de teatro em três cidades: Itabaiana, João Pessoa e Mari. Sou um cabra fundador. Faltou competência e criatividade para construir mais, além de money. Também incorri em muitos erros e desregramentos. Faz parte.

Mas, enfim, eu quero dizer que a Academia de Cordel do Vale do Paraíba chegou aos cinco anos nesta nação de alta mortalidade cultural. Sinal de que está vingando, apesar desse “instante anacrônico”. Cinco anos e já estamos em crise de meia-idade. Mas, isso fica para discutir em outra ocasião. Agora, lembrar apenas a parceria com os poetas Sander Lee e Thiago Alves na construção da academia, e agradecer aos quarenta confrades e confreiras por manter viva esta ideia, não obstante o cenário da cultura no país hoje, onde os ditos gestores costumam pensar que artista é uma planta que se deve tratar com cuidado para que não dê frutos.

Florescemos e esta revista é um fruto maturado e ousado, num país cada vez mais ágrafo. Nesta edição inaugural, fomos à Rússia entrevistar o poeta repentista intelectivo Astir Basílio. De quebra, trazemos Lau Siqueira, um gaúcho paraibano entendedor de poesia e outras invenções do pensamento. Por fim, reconhecer a dedicação e entusiasmo de Stelo Queiroga, Manoel Belisario, Marconi Araújo, Thiago Alves, Bento Júnior e Raniery Abrantes. Sobreviveremos, apesar do “momento acidente”.







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