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Gerimaldo Nunes |
Homenagem
poética de Dalmo Oliveira a um poeta anarquista morto (Gerimaldo Nunes)
Se um dia houvesse a revolução
General seria o grande Geri
Com alegria lutando nas trincheiras
Festejando de Guarabira a Mari
Flor de cânhamo sendo nossa bandeira
Promovendo a cura a quem se ferir.
Se um dia houvesse a revolução
Guerreando contra a fome medonha
Gerimaldo seria o capitão,
Nossa tropa não ia passar vergonha
O Pajé curava toda ferida
Com rapé e meisinha de maconha.
Se um dia houvesse a revolução
Apostava toda fé nesse “cubano”
Com amor derrubava toda cerca
Na peleja pra libertar o humano
No lugar de canhão, de bala, beijos
Pois o amor seria o nosso plano.
Se um dia houvesse a revolução
O clarim só tocava Melodia,
Djavan, Beto Guedes, Bob Marley
Tinha festa de noite e de dia
MacFerry, Pedro Osmar, Mercedes Sosa,
A paixão desse som não se media.
Se um dia houvesse a revolução
Eu seria o inimigo do Rei
E amigo de toda rapariga
Liberdade seria nossa lei
Até este poema eu faria
Trabalhando em arte que não sei.
Se um dia houvesse a revolução
Na nação da Parahyba do Norte
O pivô era o Geri da Mangueira
Ingerindo a sua água-forte
A garrafa sendo o pau da bandeira
Alegria seria o passaporte.
Se um dia houvesse a revolução
Que beleza seria esse confronto
Na refrega de festa e algazarra
Combatente ia dormir no ponto
Capitão e Major, tudo arriado,
Comando alto e o soldado tonto.
Se um dia houvesse a revolução
Meu compadre Geri era o primeiro
A subir para Alagoa Grande
Levantando quilombo e terreiro
Gerimaldo, um bicho destemido
Dando vivas ao General festeiro.
Se um dia houvesse a revolução
O Durruti seria inspiração
Anarquista do povo espanhol
Inimigo de país, cerca e nação
Mas o nosso levante era maneiro
Era “paz e amor”, crueza não!
Se um dia houvesse a revolução
Eu saía do Geisel abaixadinho
Me encontrava com Pedrão em Jaguaribe
Pra beber meu licor com arrumadinho
E depois seguiria para a guerra
Celebrar o amor com peixe e vinho.
Se um dia houvesse a revolução
Eu seria comandante das meninas
Debandava pras bandas da Borborema
Fazer festa com a tropa nas Boninas
Beber pinga na feira em Campina Grande
Comprar couro, furar couro das Felinas.
Se um dia houvesse a revolução
Todo dia decretava feriado
A lei era trabalhar só por prazer
Patronato seria cancelado
“Mais valia” não ficava mais valendo
O peão seria o deputado.
Se um dia houvesse a revolução
Wilhelm Reich
seria o Ministro
Gerimaldo plenipotenciário
Bar em bar para fazer o registro
Acabava com o Supremo Funeral
Extinguia todo decreto sinistro.
Se
um dia houvesse a revolução
O regime seria anarquista
Bakunin era o guru da galera
Combatendo o ideal fascista
Proclamava: toda rádio é pirata
Excluindo a TV Globo golpista.
Se um dia houvesse a revolução
O jornal oficial era o cordel
Toda lei descabida revogada
Mais recursos para o bar e o bordel
Decretava carnaval o ano inteiro
Não havia mais portão lá no “Pinel”.
Se um dia houvesse a revolução
E o Nordeste ficasse independente
Nossa Força Armada o trovador
Gerimaldo seria o tenente
A cartilha seria a poesia
Lei maior a nossa arte candente.
Dalmo Oliveira