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segunda-feira, 30 de julho de 2018

Para que serve uma academia de letras matutas?


 
Poetas reunidos para eleger Marconi Araújo na Academia de Cordel do Vale do Paraíba


Eu e meus compadres Sander Lee e Thiago Alves criamos uma academia para agrupar os chamados poetas de gabinete, escritores da literatura de cordel. “Uma academia é tão inútil quanto astrologia”, garante o despeitado Maciel Caju. Trata-se de uma entidade literária destinada a realçar a vaidade dos seus membros e distribuir medalhinhas a troco de repercussão na imprensa especialista na promoção de futilidades. O técnico de futebol Vanderlei Luxemburgo e o jogador Ronaldinho Gaúcho receberam a Medalha Machado de Assis, honraria máxima da Academia Brasileira de Letras, deduzindo-se que o “gol de letra” anda mais apreciado do que as letras propriamente ditas na ABL.

Corrigindo aqui um erro histórico: o General paraibano Aurélio de Lira Tavares não foi admitido na Academia Brasileira de Letras por ter apenas escrito o Ato Institucional nº 5, cujo texto apresenta 135 erros de português. O general Tavares é autor de sonetos e quadrinhas publicados na revista Fon Fon, sob o pseudônimo catita de “Adelita”.

Monteiro Lobato era racista e misógino. Escreveu crônica estraçalhando uma academia de letras formada por mulheres no Rio, no começo do século vinte. Certamente “Adelita” não teria sido aceita nessa Academia. Monteiro cita uma tal Madame Linange: “Academia é uma sociedade cômica onde se guarda o sério”. As “damas de letras” eram escolhidas conforme os critérios de um tal Guizot, francês da Academia de Letras da terra de Napoleão: “Voto no senhor X porque ele possui todas as qualidades de acadêmico. Veste-se bem, escova os dentes, conta boas piadas, conhece vinhos, é polido e não tem nenhuma opinião. É verdade que nunca publicou uma obra. Mas, o que querem vocês? Não há ninguém perfeito...”
Voltando à nossa academia matuta, dos quarenta membros efetivos, seis são mulheres. Num universo machista como a literatura de cordel, já é um avanço. 

Temos apenas um critério para adoção de novos membros: não devem ser gravibundos e meditabundos. Traduzindo: não se levam a sério e apresentam sólida crença de que poeta de folheto de feira  é um senhor de cabeça branca com chapéu de massa, já velho e que nunca saiu da idade pueril. Seu material de trabalho frequentemente é o riso, o motejo e os versos de escárnio. Entretanto, não queremos ser uma instituição inerte, que só serve para promover encontros sociais e distribuir homenagens estéreis. Desejamos ser capazes de promover projetos de valorização do gênero cordel, defender a liberdade de expressão e procurar formar parcerias técnicas e operacionais para editar nossos poetas, assistindo e apoiando seus projetos artísticos. Assim pensa o novo Presidente, Marconi Araújo, eleito neste 27 de julho de 2018. Almejo uma boa gestão, pautando projetos para desenvolver as potencialidades dos artistas que compõem a Academia, uma espécie de sindicato de cordelistas.   







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