Ciúme, fatos, coisas
e crime
Por trás da Floriano Peixoto do
Alto dos Currais, em Itabaiana, morava Biu do Cavalo; o bicho,
desde seus tempos de potro, servia ao dono em tudo: Puxava a carroça de
mudanças; carregava caixas de sapato da fábrica de Seu Osório à Estação
Ferroviária, vendidas a Timbaúba e Campina Grande; tinha um admirado trote que
levava Biu às festas, à Igreja e ao mercado; e em nada dava trabalho,
abastava-se do capim em torno da casa, cujo muro, à noite, Biu gostava de
pular, a destino, até hoje, ignorado.
Sua mulher, por
coincidência, Severina, nutrindo doentio ciúme e os fuxicos das
"amigas" da vizinhança, dizia que tudo sabia: "Ele não me
engana..." Assim, escolheu uma da sua rua, a quem Biu sempre sorria,
para ser sua rival. E, nos fins das tardes, quando via o escolhido pivô do
ciúme sentado na calçada, reforçava sua raiva, em voz baixa: "Por que
ela? Sou melhor em tudo". Lembro-me, por outro lado, que os homens,
batendo papo no Bar de Adonias, antes do último gole, lambiam os beiços e defendiam-se:
"Mulher com muito ciúme não presta, dá nisso"...
Severina conhecia como
ninguém os gostos de Biu. Então lhe preparou seu almoço preferido: Feijão
verde; num copo americano, caldo com coentro; farofa d'água com cebola e
galinha torrada com muita graxa, alho, cebola, pimentão e cheiro verde. Em cima
dessa comida, Biu se derretia de prazer e na mania de comer fazendo com a mão
bolinho de feijão, receita de mãe a menino enfastiado, entretendo-o, chamando a
comida de "pintinho" ou de "cavalinho". Quando estava Biu
levando um desses bolinhos à boca, Severina quebrou-lhe o pescoço com um pino
de engatar trem que ela arrumara na Estação do Triângulo, onde se revezavam os
trens para fazer baldeação de vagões e mercadorias. Restou-nos forte lembrança
de Biu morto, trancando na mão um bolinho de feijão e das vizinhas defendendo
Severina: "Coitado de Biu, mas quem aqui apronta aqui paga..."