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sábado, 27 de agosto de 2016

O contorcionista Borrachinha




         Quando eu vejo na TV os ginastas brasileiros se apresentarem no solo, especialmente nas últimas olimpíadas, me vem à memória um sem número de atletas anônimos espalhados pelos rincões deste vetusto Brasil.
         A ginástica artística é diferente de outras modalidades esportivas, como o futebol -  este sim, esporte de massa em nosso País, pois a cada década surgem novos gênios como Pelé, Garrincha, Romário, Ronaldo, Neimar e tantos outros, independentemente ou não de apoio oficial.
         Já o ginasta olímpico exige dele uma  genética determinante para que desenvolva suas características fundamentais: força, flexibilidade,  coordenação motora, aliado a muito treinamento. A preparação, geralmente tem início muito cedo, ainda na infância, podendo chegar a um nível de excelência após dez anos ou mais de árduo trabalho. Envolve uma equipe multidisciplinar composta de treinadores, preparadores físicos, psicólogos e nutricionistas. Somente assim esses atletas são capazes de realizar piruetas, saltos mortais e acrobacias, isso em poucos segundos, tendo como palco um estrado de cerca de doze metros, feito de material elástico, destinado a amortecer os impactos das articulações e eventuais quedas. Usam roupas especiais de lycra, tipo collant, em forma de maiô.
         Não quero com isso oferecer aos leitores da Toca do Leão, uma aula sobre essa modalidade esportiva. Longe de mim.
         O que me move nesse introito é a lembrança de um artista do Brasil real, que se apresentava nas feiras livres do Vale do Paraíba na década de setenta e início dos anos oitenta. Era conhecido pelo apelido de Borrachinha, residia em Itabaiana, não sei se era de terra, não possuía o staff de um Diego Hipólito, não usava roupas collants, nem aparentava trejeitos femininos. Sua comida era à base de feijão, arroz e batata doce, quando dispunha. Ingeria como isotônico, de forma moderada, uma boa aguardente.
         Quando se exibia, especialmente na feira livre de Itabaiana, não por alguns segundos, mas durante horas, num espaço diminuto sobre o calçamento – seu tablado, atingia  sua performance de pés descalços e  usando apenas uma bermuda surrada. Variava seu espetáculo, que ia de saltos mortais e piruetas, além de um contorcionismo impressionante. Recebia como pagamento alguns trocados da sua fiel plateia. Das muitas vezes que vi suas exibições, uma peculiaridade me chamou a atenção: Borrachinha nunca caiu de nádegas nem de boca. Ele foi um belo artista anônimo e esquecido, sem direito a medalhas.

                                                                           
Joacir Avelino

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