Tula garante que foi ele quem fundou Itabaiana, depois de expulsar os índios cariris
O tempo passa para tudo e para
todos, menos para Tula. Esse é eterno. Pelo menos sua arte simples vai ficar
aqui quase para sempre, porque ele trabalha com ferro e solda. Com sucatas de
aço, flandres e ferro, constrói seus carrinhos, suas locomotivas e brinquedos,
entre outras criações. Aprendeu o artesanato de reciclagem trabalhando na sua
oficina de serralheiro. Jamais foi reconhecido e nem liga pra isso. Sempre sujo
de fuligem, vestígio de sua arte de soldar e esmerilhar lâminas de aço, Tula é
um trabalhador de Itabaiana do Norte com mãos machucadas e grossas, olhos quase
cegos de trabalhar com solda elétrica sem usar óculos, mas com uma leveza de
alma que só vendo!
Tula parece uma criança que nunca
deixou de ser. De riso fácil e alegria leve, enfrenta a brutalidade do ferro e
da vida com a maior descontração. Diz que tem mais de cem anos, mas parece que
beira os oitenta. “Eu fundei Itabaiana”, diz com um sorriso. Cresceu ajudando
nos serviços de solda, onde aprendeu a fazer peças metálicas. Brincando,
construiu um boneco feito de porcas e parafusos. Achou bacana e foi
amadurecendo sua arte.
Meu compadre Tula é um artista
popular que mereceria recompensa e galardão pelo trabalho que faz, coisa que
está tão longe quanto a terra do sol numa terra onde um pintor como Otto
Cavalcanti jamais teve apoio para mostrar seu trabalho internacional, mestre
que é do universo das artes visuais da Europa. Aqui fica meu registro dessa
pessoa singela e inocente, o velho Tula que encontrei pelas ruas da velha
Itabaiana do Norte nesta tarde de quarta-feira, 28 de outubro.
Um dia, quem sabe, serei o marchand que divulgará o trabalho de
Tula. Se eu pudesse, cuidaria pessoalmente para que o trabalho de artistas como
Tula pudesse ganhar cada vez mais o respeito dos seus conterrâneos.
Meu avô querido! 3 anos da sua partida, meu pai tula! 😢❤️
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