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terça-feira, 23 de junho de 2015

Prefácio nada fácil

O que não faz a crise! Em troca de alguns reais (de origem duvidosa), aceitei prefaciar essa “obra”. Trata-se de um homem por subnome Biu Penca Preta, vulgo “Cabeça de Navio”, nascido e criado na rua das Flores, onde fortaleceu seus dois ou três neurônios com os vapores e exalações vindos daquele charmoso esgoto a céu aberto que banha sua linda e fedorenta cidade. Esse cara viria ficar famoso depois que um tal de Jessier Quirino contou seus causos no programa do Jô Soares, um gordo cuja maior piada foi a entrevista que ele combinou com aquela dama Tabaco de Ferro.

O autor da “obra” é um gabola que se queixa de ser escritor, mas não passa de um escrevinhador de ideias alheias, plagiador da pior espécie, que é aquele vulgar elemento apanhador de dejetos literários de outros calhordas. Quem arremeda e copia Dante Alighieri, por exemplo, merece meu nobre perdão e até reconhecimento pelo talento. Por outro lado, o lado mal, escritor que busca nas páginas mais escrotas da literatura sua inspiração pra encher meia dúzia de páginas e vender a troco de cachaça ordinária nos becos e vielas de sua subcidade, aproveitando-se da má fama de um palhaço da cabeça gigantesca, só merece menosprezo dos homens e mulheres distintos e superiores, os quais estão muito acima do lamaçal onde pululam o autor e a personagem desse monte de obscenidade e imundície, vindo diretamente do esgoto da Rua 13 de Maio, vulgo “avenida gala seca.”

Portanto, caro leitor desatento que está cometendo, sem saber, a transgressão moral de ler este lixo, largue imediatamente esta titica e corra para um templo da Igreja Mundial da Picaretagem Celestial para purgar seu pecado, doando ao pastor a quantia equivalente a dez exemplares do livrinho, destinada à regeneração moral de seres semelhantes ao autor, cuja maior inspiração é o baixo meretrício, enfim, o cabaré, mais conhecido como puteiro, que alguns inadequadamente conhecem por câmara de deputados, de vereadores ou assemelhados.

Há de enaltecer o teor artístico do ilustrador, Artur Anderson, um rapaz tão franzino que sua mãe fez uma promessa: se ele vingasse, iria para um seminário aprender a ser padre. Acabou não indo para o convento, mas assimilou alguns hábitos de certos vigários, o que não vem ao caso comentar, mesmo porque ninguém tem nada a ver com a vida sexual dos outros.

Enfim, tenho esse desgosto de cometer o desatino de apresentar o presente esterco de gato, culpando única e exclusivamente a Dama do Tabaco de Ferro, por quem o autor nutre ligeira paixonite, ela apontada como causadora de um aperto econômico tão da moléstia dos cachorros que me obriga, eu, um honorável intelectual, a esse descontentamento de traçar estas mal intencionadas linhas.   


Maciel Caju

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