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domingo, 17 de maio de 2015

POEMA DO DOMINGO

Poeta repentista Otacílio Batista Patriota (Set/1923 – Ago/2003)

Otacílio Batista

Ao romper da madrugada,
um vento manso desliza,
mais tarde ao sopro da brisa,
sai voando a passarada.
Uma tocha avermelhada
aparece lentamente,
na janela do nascente,
saudando o romper da aurora,
no sertão que a gente mora
mora o coração da gente.
*
O cantador violeiro
longe da terra querida,
sente um vazio na vida,
tornando prisioneiro,
olha o pinho companheiro,
aí começa a tocar,
tem vontade de cantar,
mas lhe falta inspiração.
Que a saudade do sertão
faz o poeta chorar.

* * *
Cego Aderaldo

A prisão deve ter sido
Invenção de Lúcifer
Eu só aceito a prisão
Nos braços duma mulher
Aguentando o que ela faz
E fazendo o que ela quer.

* * *

Canhotinho

Quando era injusto o Brasil,
E aos negros se cativaram,
O choro dos filhos brancos
As mães pretas consolaram
E o leite dos filhos pretos,
Os filhos brancos mamaram.

* * *

Aldo Neves

Já ontem eu vi camponês
Botando os bois no arado
Passando no meu nariz
O cheiro de chão molhado
E a água tirando os ciscos
Qu’a seca tinha deixado.

Jamais destrua a floresta
Conserve-a intacta e ilesa
O sagui não vai achar
Resina que amole a presa
Quem fere um pau tá ferindo
O corpo do natureza.

* * *
Zé Adalberto

Não arquivo tristeza nem rancor,
Nem exponho meu próximo a episódios
O meu peito é blindado contra o ódio,
Mas é todo acessível pro amor.
Não consigo, sequer, mudar de cor
Quando sou ofendido por alguém.
Meu silencio é a voz que vai além,
Eu já mais me permito revidar…
É perdido a vingança me atiçar,
Não consigo ter raiva de ninguém.

* * *
Pinto do Monteiro

Ando com uma bengala
Com ela escoro uma perna
Pra não cair em buraco
Nem desabar em caverna
Sou o dono da bengala
Mas ela é quem me governa.

* * *
Sebastião Dias

Pra você segunda-feira
Eu servirei de correio
Quem tiver cartas escreva
Que levo um malote cheio
Com lágrimas de quem não foi
E lembranças de quem não veio.

***

Foi à forca Tiradentes
com a maior paciência;
seu sangue se derramava,
e a terra, por inocência,
bebia o sangue de um filho
que quis dar-lhe a independência.

* * *
Welton Melo


No silêncio da noite é que o poeta
Se levanta da cama e sai ao léu
Toma um copo de água e só se aquieta
Quando passa o que sente pra um papel
Muito mais que capricho ou vaidade
O poema que cria é na verdade
Um descanso pra o corpo e sua mente
Onde as rimas lhe servem de alento
Ser poeta é cantar o sentimento
De quem sente e não canta como a gente.

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